Page 96 - Revista da Armada
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lizadas no tráfego fluvial, com- para o Brasil e subsequentes lutas
plemento da navegação costeira civis, sem esquecer o lamentável
de cabotagem. Era o meio mais êxodo de documentação avida-
seguro, rápido e económico de mente procuradas pelos estran-
transporte de pessoas e merca- geiros, agravadas pela acção do
dorias para o interior do país, tempo, a negligência e a ignorân-
através dos rios. cia dos homens.
A pesca é tratada em duas sa- Decorreram durante o ano de
las; uma dedicada à pesca longín- 2003 as comemorações do 140º
qua, onde a pesca do bacalhau é aniversário da fundação do Mu-
actividade focada; a outra, dedi- seu de Marinha.
cada à pesca costeira, abrangen- Foram vários os eventos rea-
do a actividade piscatória na cos- lizados para celebrar a efeméri-
ta de Portugal e arquipélagos da de merecendo destaque a sessão
Madeira e Açores. comemorativa presidida pelo Al-
Nos modelos expostos na mirante Chefe do Estado-Maior
sala da pesca costeira é paten- da Armada, no dia 22 de Julho, a
te o elevado índice artesanal Pavilhão das Galeotas – Bergantim Real. exposição fotográfica retrospec-
da frota pesqueira portuguesa. tiva dos 140 anos do Museu, e a
Nessa sala está exposto o modelo de um na- cedidas em regime de empréstimo essencial- Feira do Livro do Mar que permaneceu aberta
vio oceanográfico, o “Albacora”, reflectindo a mente a organismos de Marinha. Com alguma ao público durante uma semana.
importância que a Marinha sempre dedicou às frequência têm sido cedidas pelo Museu peças O Museu de Marinha é hoje um museu co-
actividades do estudo do mar e dos seus re- do seu espólio a outros congéneres nacionais e nhecido no país e no estrangeiro graças ao nível
cursos. O visitante pode ainda admirar cinco estrangeiros, para exposições temporárias. de desenvolvimento e qualidade alcançadas.
magníficas marinhas de João Vaz sobre moti- Dispõe o Museu de uma exposição itinerante Museu que se quer aberto, dinâmico e vivo.
vos da pesca. organizada em diferentes módulos, nas temá- O discurso da sua exposição permanente,
Na sala seguinte, no extremo poente da ala ticas Descobertas e Embarcações Tradicionais, ao estabelecer uma filiação entre o passado e
norte do Mosteiro dos Jerónimos, podem ser que tem sido fundamentalmente cedida a or- o presente, pretende deste modo ser um passo
apreciadas as camarinhas do Rei e da Rainha, ganismos de difusão cultural autárquica e a or- mais no sentido de um reencontro entre o mar,
que faziam parte do iate Amélia, e que foram ganizações culturais e/ou recreativas. os Portugueses e a sua História.
retiradas após o desmantelamento do navio em Têm vindo a ser realizadas, de modo siste- Z
1938, bem assim como diversa palamenta dos matizado, mostras, quer de artes plásticas quer (Colaboração do Museu de Marinha)
iates reais “Amélia” e “Sírius”, este último em fotográficas, sob a forma de exposições tempo- Bibliografia
exposição no Pavilhão das Galeotas. rárias, no espaço para esse fim dedicado no Pa- - O Museu de Marinha, por Comandante Jayme
No pavilhão anexo ao Museu, o Pavilhão vilhão das Galeotas. do Inso – Separata dos Anais do clube Militar Naval
os
das Galeotas, encontra-se exposta a colecção O Museu dispõe de um património cujo – N. 4 e 6 – Abril/Junho1967.
- História da Colecção Seixas, por Luís António
de galeotas(5) dos séculos XVIII e XIX, de que valor reside em ser instrumento privilegiado Marques – Separata dos Anais do Clube Militar Na-
o exemplar mais representativo é o “Bergantim de divulgação da história da nossa identida- val – N. 1 e 3 – Janeiro/Março 1970.
os
Real”, mandado construir por D. Maria I em de e cultura.
1776 para o casamento de seu filho, mais tarde O conjunto de testemunhos que o Museu de Notas
(1) O Rei D. Luís nasceu em 31 de Outubro de 1838.
D. João VI. Exuberante pelo seu magnífico tra- Marinha põe à disposição do visitante traduz Com apenas oito anos de idade foi nomeado praça da
balho em talha dourada e pelas não menos be- os aspectos mais diversos do passado maríti- Real Companhia dos Guardas Marinhas.
las pinturas que o ornamentam, esta embarca- mo português e as diferentes actividades liga- Em Setembro de 1857, com dezanove anos, assumia
ção, movida por 40 remos ao punho dos quais das ao mar, testemunhos que fazem parte da o comando do seu primeiro navio. No ano seguinte foi
se distribuíam 78 remadores, transportou no nossa memória colectiva. nomeado comandante da corveta “Bartolomeu Dias”,
tendo igualmente comandado o brigue “Pedro Nunes”
decorrer dos seus 177 anos de vida útil inúme- Pena é que se tenham perdido testemunhos (15-11-1857 e 21-06-1858).
ros monarcas e chefes de estado. importantíssimos dessa época extraordinária (2) O Almirante Celestino Soares, que aliava às qualida-
Estão também em exposição naquele espa- que constituiu a grande aventura marítima, des que o tornaram uma das mais ilustres figuras dos nos-
ço três hidroaviões com história: um “Schrek” devido a nefastos acontecimentos como o de- sos oficiais de mar, a de escritor, e que nos legou entre outras
obras, os notáveis “Quadros Navais, verdadeiro breviário
de madeira e tela, o primeiro em uso na Mari- vastador terramoto de 1755, que destruiu a fa- onde decorrem os mais empolgantes episódios da vida de
nha em 1917; o “Santa Cruz”, no qual Sacadu- mosa Casa da Índia, a ocupação estrangeira, as luta constante que é a dos marinheiros, faleceu em 1875.
ra Cabral e Gago Coutinho concluíram a pri- invasões francesas, a retirada da Família Real (3) A comissão era constituída por ilustres oficiais
meira travessia aérea do Atlântico da Armada dos quais se destacam os
Sul, em 1922, e um “Grumman nomes de Gago Coutinho, Cisneiros e
Faria, Fontoura da Costa e Quirino da
Widgeon”, o último hidroavião Fonseca. O Almirante Gago Coutinho
em uso na Marinha antes de esta foi um acérrimo defensor da localização
ter perdido a sua componente aé- do Museu em Belém.
(4) É precioso o modelo do Bergan-
rea, em 1952. tim Real. O trabalho de execução, as
No mesmo pavilhão estão tam- miniaturas em talha, a minuciosa pin-
bém expostas, para além do iate tura decorativa e os pormenores de
real “Sírius”, as embarcações das cinzelagem em ouro dos lanternins e
classes Snipe e 470, que tripuladas mastros do pavilhão real, tornam difí-
por desportistas portugueses al- cil atribuir-lhe um valor venal.
(5) O Comandante Fortee Rebelo
cançaram lugares de destaque em apelidou as Galeotas Reais de “os Co-
competições internacionais. ches do Mar”.
Nem todo o acervo está ex- (6) Entre o diverso material que se
posto permanentemente, en- encontra nas reservas do Museu con-
tam-se cerca de mil e cem condecora-
contrando-se muitas peças nas ções de diversas Ordens Militares e
reservas(6) do Museu e algumas Pavilhão das Galeotas – Hidroavião Santa Cruz. Civis, Portuguesas e Estrangeiras.
22 MARÇO 2004 U REVISTA DA ARMADA