Page 92 - Revista da Armada
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O Museu de Marinha
O Museu de Marinha
- 140 Anos -
Museu de Marinha foi criado por por- quela. Infelizmente,
taria de 22 de Julho de 1863 no reina- grande parte daque-
O do de D. Luís I – O Rei Marinheiro(1) la colecção foi des-
que, como Oficial de Marinha, comandou vá- truída pelo incêndio
rios navios antes de subir ao trono. Nesse do- que ocorreu na Sala
cumento procurava o monarca estabelecer uma do Risco do Arsenal
ligação com a memória marítima do passado e na madrugada de
congregar todos os testemunhos da actividade 18 de Abril de 1916,
no mar dos portugueses ainda existentes numa cujas causas nunca
grandiosa colecção. A vertente didáctica da ini- foram claramente
ciativa é evidente, daí ter sido a Escola Naval o determinadas.
local escolhido para que aí afluíssem os objec- Contudo, um lon-
tos reunidos. Foi assim que sua majestade de- go caminho haveria
terminou “que o conselheiro director da Escola ainda que percorrer
Naval, o chefe de divisão graduado Joaquim até que a existência
Pedro Celestino Soares trate de recolher todos do Museu de Mari-
os objectos que por sua valia, significação, an- nha se tornasse uma Entrada do Museu.
tiguidade ou outras circunstâncias, devam per- realidade inegável.
tencer ao Museu de Marinha....” Depois de sucessiva legislação inoperante a oportunidade, quando da passagem para o
É certo que numa portaria datada de 2 de que atribuiu ao Museu diversas designações, Alfeite do antigo Arsenal, para recolher na Sala
Abril de 1836 se faz referência a um museu no atingiu-se o ano de 1934 sem que houvesse um do Risco um volumoso material que enrique-
Hospital da Marinha, mas é de esclarecer que Museu de Marinha efectivamente a funcionar. ceu o Museu, e aplicou nos trabalhos em curso
este não se relaciona com o museu criado em É nesse ano que é criado na prática o Museu nas oficinas. Reuniu e classificou cerca de 1.400
1863. Tratava-se, então, de dar cumprimento ao Naval Português, instalado ainda a título pro- espécies, sendo notório o desenvolvimento que
determinado para que “os Cirurgiões da Arma- visório na Escola Naval, onde viria a desempe- imprimiu ao Museu.
da fizessem conduzir dos Domínios Ultrama- nhar um papel activo na formação dos cadetes Tornava-se, porém, por demais evidente
rinos e a outras aonde aportassem, productos daquela instituição de ensino. que o Museu necessitava de outro local e ou-
naturaes para a formação de um museu parti- Ainda no mesmo ano, foi nomeada uma co- tro espaço onde se pudesse instalar, expandir,
cular desta Repartição de Marinha”. missão(3)a fim de tratar das obras necessárias organizar em moldes modernos e funcionais,
A data de 22 de Julho de 1863, é desta forma, à preparação do edifício que viria a tornar-se o emancipar-se e numa palavra, dignificar-se, o
aceite como ponto de partida para a existência local definitivo do Museu Naval Português: o que significava dignificar a Marinha.
legal do Museu de Marinha. A existência físi- Mosteiro dos Jerónimos. Por vezes, o destino toma nas suas mãos as
ca do Museu ocorreu pouco depois, tendo o Quando a Escola Naval se transferiu para decisões que hão-de solucionar problemas que
Comandante Celestino Soares(2)recolhido de o Alfeite, em 1936, o Museu permaneceu nas se afiguram difíceis de ultrapassar.
imediato a colecção real (do Palácio da Ajuda) instalações da Sala do Risco em Lisboa, fican- A doação da colecção Seixas constitui um
de modelos de navios construídos em Portu- do sob a direcção do Comandante Quirino da bom exemplo. Veio imprimir ao Museu de
gal e no estrangeiroque a Rainha D. Maria II Fonseca, que era simultaneamente o Director Marinha um impulso que o soltou do ponto
(1834 -1853) oferecera, anteriormente, à Real da Biblioteca. A ele se ficou a dever a criação morto em que se encontrava havia perto de
Academia dos Guardas-Marinhas, predeces- das oficinas do Museu, guarnecidas com pes- um século.
sora da Escola Naval. Esta colecção, a que se soal do Arsenal, onde se construiram os qua- O benemérito coleccionador, entusiasta das
juntaram as peças em desuso na Escola Na- tro grandes modelos – apenas as obras mortas coisas do mar, e grande amigo da Marinha,
val, constituiu o núcleo inicial do Museu de – que figuraram na Exposição do Mundo Por- Henrique Maufroy de Seixas, faleceu em 21
Marinha instalado numas dependências da- tuguês em 1940. O mesmo oficial aproveitou de Dezembro de 1947, tendo legado ao Mu-
Sala do Risco com os expositores do Museu. Palácio do Conde de Farrobo – Laranjeiras.
18 MARÇO 2004 U REVISTA DA ARMADA