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das duas imponentes fragatas do séc. XIX que A colecção de peças expostas nesta sala volução industrial no final do século XIX que
tiveram a particularidade de ser utilizadas du- constitui uma singela referência a uma in- iriam possibilitar o surgimento de inovadoras
rante muitos anos no ensino da Escola Naval, dústria com longa tradição no nosso país e técnicas de construção naval e de novos tipos
e ainda o modelo da fragata “D. Fernando II e enorme valor estratégico, garante da capaci- de armamento, proporcionando a consolidação
Glória” último navio português construído nos dade própria de manutenção da frota marí- do poder naval moderno.
estaleiros navais de Damão, na Índia. tima nacional. Nesta sala encontramos uma Marinha de
Sensivelmente a meio das escada- Guerra completamente dissociada
rias de acesso ao primeiro piso, en- da Marinha Mercante, especialmen-
contra-se a Sala do Oriente que reúne te vocacionada para uma nova rea-
um conjunto muito heterogéneo de lidade que começava a surgir. Nela
objectos, de fontes e épocas variadas. está exposta uma importante colec-
Todos eles possuem, porém, uma ori- ção, composta por cerca de sessenta
gem comum – o Oriente. Personalida- modelos, que documenta a evolução
des marcantes e cidadãos anónimos da Marinha de Guerra Portuguesa
apaixonados pelo Extremo Oriente desde finais do Século XIX até aos
trouxeram, através de objectos e há- nossos dias.
bitos, novas formas de estar. As por- O visitante pode encontrar nesta
celanas e o mobiliário chinês, entre sala referências a alguns factos im-
muitos outros artigos apresentados portantes da nossa História que se
nesta sala, resultam desse encontro. verificaram naquele período, de que
Destaca-se uma escrivaninha que foi se salientam:
pertença do oficial de Marinha e es- - as expedições conduzidas no inte-
critor Wenceslau de Moraes, que vi- rior do Continente Africano no último
veu os últimos anos da sua vida no quartel do século XIX por dois oficiais
Japão, seu país de adopção. da Armada, Hermenegildo Capelo e
Já no primeiro piso, podemos cons- Roberto Ivens, organizadas pela So-
tatar a evidente dimensão que teve o ciedade de Geografia de Lisboa.
armamento nacional do passado em - o combate naval ocorrido em
sala dedicada à Marinha de Comér- 13 de Outubro de 1918 ao largo dos
cio. O tráfego comercial marítimo de- Açores, entre o caça-minas “Augus-
sempenhou um papel preponderante to de Castilho” (arrastão de pesca
na construção e manutenção do Impé- adaptado) e o submarino alemão
rio Português. U-139, possibilitando que o navio de
O recheio desta sala é em grande passageiros que seguia sob escolta
parte constituído pela colecção de Colecção dos Astrolábios Naúticos. continuasse a viagem sem qualquer
modelos de navios de comércio per- incidente rumo aos Açores. Do com-
tencentes às várias companhias de navegação No 1º piso o visitante pode também admi- bate resultou a morte do comandante e de cin-
existentes por alturas de 1918 e às que se se- rar a colecção de peças expostas na Sala da co dos elementos da guarnição e a perda do
guiram, Carregadores Açorianos, Companhia Marinha de Recreio, onde nos é dado a co- pequeno caça-minas. Os sobreviventes foram
Nacional de Navegação (CNN), Companhia nhecer uma actividade com séculos de exis- largados numa baleeira e viriam alcançar ter-
Colonial de Navegação (CCN), Sociedade Ge- tência, embora até meados do século XIX, ti- ra passados sete intermináveis dias de enorme
ral (SG), e outras, traduzindo a dimensão que vesse sido praticada quase exclusivamente sofrimento, depois de conseguirem percorrer a
alcançou o armamento nacional no passado. A pela família real. remos as 200 milhas que os separavam da Ilha
vasta colecção de navios de comércio exposta Os modelos expostos documentam sobre- de S. Miguel.
reflecte o auge que a nossa Marinha Mercante tudo embarcações construídas no séc. XIX e - os combates navais ocorridos em 18 de De-
atingiu nas décadas de 60 e 70. pertencem à colecção de modelos de peque- zembro de 1961, na Índia, em que intervieram
No seguimento da Sala da Marinha de Co- nas embarcações de recreio, legada por Hen- o aviso “Afonso de Albuquerque”, em Goa, e
mércio, o Museu dedica uma sala à Constru- rique Seixas. Os modelos distinguem-se pela a lancha de fiscalização “Vega”, em Diu, me-
ção Naval onde é apresentada uma exposição, harmonia das formas e pelo rigor e qualidade recem também destaque. Nesses combates
essencialmente ligada à actividade do antigo de execução. morreu em combate o comandante e dois ele-
Arsenal de Marinha, estaleiro cuja construção Na Sala dos séculos XIX e XX podemos mentos da guarnição da lancha, que se afun-
teve início em 1759 na Ribeira das Naus, local obser var os desenvolvimentos tecnológico e dou, e um elemento da guarnição do Aviso
onde, desde o século XV, se situou o maior pólo científico proporcionados pela segunda re- “Afonso de Albuquerque” que viria a enca-
de construção naval existente em lhar nas proximidades da foz do
Portugal. Nesta sala podem ser rio Zuari, a montante da baía de
observados vários aspectos da Dona Paula.
rápida evolução tecnológica Em sala anexa, dedicada a
neste domínio em que os portu- Henrique Maufroy de Seixas,
gueses assumiram um papel de está exposta uma colecção úni-
verdadeiro pioneirismo. ca de modelos das galeotas reais
Note-se que, já em finais do sé- e de embarcações de recreio que
culo XIX, o Arsenal de Lisboa foi pertenceram à Casa Real, alguns
pioneiro no país, na tecnologia do dos quais podem ser apreciados
trabalho do aço e na aplicação da em tamanho natural no Pavilhão
electricidade para fins industriais, das Galeotas.
para além do facto de ter sido pre- Na sala do tráfego local estão
cisamente naquele Arsenal que se expostos modelos representa-
construiu a primeira máquina a tivos da grande diversidade
vapor nacional. Batalha do Cabo de S. Vicente – Morel Fatio – 1842. tipológica de embarcações uti-
REVISTA DA ARMADA U MARÇO 2004 21