Page 195 - Revista da Armada
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estreita das suas gentes com o mar, buscando nele o sustento e a aventura que são
                                                     a sua própria condição de ser e a sua individualidade. Por isso não faria sentido que
                                                     o Dia da Marinha fosse festejado fora do convívio das populações que consubstan-
                                                     ciam esta união estreita com o Oceano. De igual modo é esta a forma de relembrar
                                                     a prestigiosa história pejada de factos que, afinal de contas, constituem a inspiração
                                                     do nosso dia a dia, e através dos quais exortamos todos aqueles que se formam nas
                                                     nossas escolas e se preparam para a profissão do mar. Contudo, se a comemoração
                                                     do Dia da Marinha ocorre na terra que viu nascer Vasco da Gama, mais nítido é o
                                                     peso da herança histórica que está agarrada à farda que envergamos. Mais óbvia é a
                                                     responsabilidade da nossa missão e mais intenso é o sentimento de ser marinheiro
                                                     num país como Portugal.
                                                     O INÍCIO DAS COMEMORAÇÕES
                                                       As comemorações começaram com a disponibilização, a partir do dia 13 de Maio,
                                                     de dispositivos destinados à experiência de uma escalada simples na torre de treino
                                                     dos fuzileiros, e de um tanque destinado a baptismos de mergulho, que entusiasma-
                                                     ram a juventude sineense e contaram com ampla participação. Todavia, só a partir do
                                                     dia 18 se tornou mais visível a presença da Marinha em Sines com a vinda de vários
                                                     navios, que estiveram abertos a visitas, e com a realização de um primeiro concerto
                                                     da Banda da Armada que teve lugar no interior do castelo.
                                                       No dia 19 o Almirante CEMA iniciou as cerimónias com uma visita à Capitania do
                                                     Porto de Sines. De seguida, acompanhado pelo Presidente da Câmara Municipal de
                                                     Sines, inaugurou no Centro de Artes, a exposição de actividades da Marinha, onde
                                                     estavam representados todos os organismos da Armada, dando uma ideia da com-
                                                     plexidade da nossa missão e das suas múltiplas facetas. Esta exposição foi visitada
                                                     por milhares de pessoas que tiveram ocasião de perceber o que é a sua Marinha, que
                                                     ultrapassa largamente as actividades operacionais (sem dúvida as mais importantes
                                                     e visíveis). Naturalmente que há estações que despertam uma especial curiosidade
                                                     do público, que, inclusivamente, quer experimentar algumas das técnicas utilizadas,
                                                     voluntariando-se para participar em actividades de demonstração, mas chamou-me a
                                                     atenção a fila de espera em frente à representação do Hospital de Marinha, onde um
                                                     grupo de técnicos procedia a uma Acção de Promoção da Saúde. De registar ainda a
                                                     presença de um posto móvel do Núcleo de Rádioamadores da Armada.
                                                       À noite teve lugar o Concerto Oficial do Dia da Marinha, no auditório do Centro
                                                     de Artes de Sines. Todos esperámos com alguma expectativa este concerto que, para
                                                     a maioria dos presentes, era o primeiro concerto da banda sob a direcção do novo
                                                     maestro CFR Carlos Silva Ribeiro. Não se tratava de analisar as suas capacidades, já
                                                     há muito conhecidas, mas de entender o que seria a Banda da Armada depois da
                                                     saída de Araújo Pereira, que a dirigira por cerca de 18 anos. Contaríamos com um
                                                     processo de continuidade (uma herança que iria mudando a pouco e pouco)? ou se-
                                                     ria que Silva Ribeiro nos ia mostrar o seu próprio estilo artístico?... A minha opinião
                                                     não tem a marca de um especialista, de um crítico musical ou de um profissional do
                                                     ofício e apenas posso veicular uma ideia que se vai formando à medida que decorre
                                                     o concerto. E, nesse sentido direi que a qualidade a que fomos habituados durante
                                                     anos permanece incólume: a banda continua a encantar-nos com apresentações de
                                                     grande qualidade interpretativa. Arrisco, no entanto, dizer que mudou o seu estilo:
                                                     Silva Ribeiro afirma a sua própria personalidade e revela-nos uma nova sensibilida-
                                                     de artística, quer na forma como dirige, quer na escolha do reportório. E começo por
                                                     referir a peça de Jorge Salgueiro que fechou a primeira parte, para salientar como o
                                                     compositor – o nosso compositor – não esgotou a pujança que já demonstrara com
                                                     a Sinfonia nº 2 Mare Nostrum, estreada o ano passado na Figueira da Foz. Era de es-
                                                     perar isso mesmo, porque a riqueza dessa obra maestra só podia vir de um talento
                                                     com muito mais para nos oferecer. A Primavera, opus 136, que agora foi apresentada





















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