Page 234 - Revista da Armada
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de Honra da Sail Training Association (STA). locamento, [conseguiu-se] baixar o centro de «Sagres», que, de trincaniz na água com as
Aliás, tal como se verificou há meio século, gravidade e corrigir o compassamento longi- suas 28 toneladas de pessoal a barlavento e
este ano será novamente o rei consorte a dar tudinal do navio, melhorando as suas quali- quatro moços de leme, parecia voar […] a
o sinal de largada para a regata que ligará dades náuticas sob vela. Desenharam-se velas euforia gerada pelo uivo do vento na enxár-
Torbay a Lisboa, no dia 10 de Julho. auxiliares para ventos largos – quatro cutelos, cia e até pelos duches causados pelas cris-
Com vista à sua participação nesta primei- quatro varredouras e quatro orelhas de mula – tas que vinham desfazer-se num arco-íris de
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ra regata, a antiga Sagres foi alvo de especiais que vieram aumentar de 566 m o plano vélico encontro ao costado só era contida pelas
e cuidadas preocupações. Assim, «através de normal, ficando o navio com uma área total de conveniências da disciplina».
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novo plano de estiva e sem aumento do des- 2.786m de pano […] e adaptaram-se
os paus de surriola a caça escotas das
NAVIOS-ESCOLAS QUE ENTRARAM AO varredouras», concluindo-se os traba-
SERVIÇO A PARTIR DE 1953 lhos com uma docagem no período
NAVIO PAÍS ANO compreendido entre o dia 26 de Maio Arquivo CTEN António Gonçalves
Alexander von Humboldt Alemanha 1986 e o dia 4 de Junho, durante a qual foi
Asgard II Irlanda 1968 efectuada a respectiva limpeza e pin-
Astrid Reino Unido 1984 tura do casco.
Belem França 1979
Capitan Miranda* Uruguai 1972 Uma semana depois, mais precisa-
Cisne Branco* 1 Brasil 2000 mente a 11 de Junho, o navio largou
Creoula* Portugal 1987 rumo a Inglaterra, levando embarca-
Cuauhtemoc* México 1982 dos os cadetes do curso D. Duarte de
Dar Mlodziezy 2 Polónia 1982 Almeida e ainda os alunos dos cur-
Dewaruci* Indonésia 1953 sos elementares e do 1º e 2º grau de
Druzhba 2 Ucrânia 1989 Marinharia.
Eendracht Holanda 1989 Em Dartmouth, antes do início da
Esmeralda* Chile 1953 regata, com o objectivo de estreitar
Europa Holanda 1994
Fryderyk Chopin Polónia 1992 as relações entre as guarnições dos
Gazela of Philadelphia Estados Unidos 1976 diferentes navios participantes, decor-
Gloria* Colômbia 1968 reu o Inshore Regatta, cujo programa
Gorch Fock* Alemanha 1958 contemplava diversas competições de
Guayas* Equador 1978 vela, remo e natação. Resta acrescen-
Iskra* 3 Polónia 1982 tar que a guarnição e os cadetes da
Johann Smidt Alemanha 1974 Sagres lograram vencer mais de 60% O veleiro Moyana, vencedor da regata em 1956.
Kaisei Japão 1991 dos muitos troféus em disputa, o que
Kaiwo Maru 6 Japão 1989 desde logo pareceu a todos um bom prenún- Estes ventos favoráveis permitiram que o
Kaliakra 3 Bulgária 1984
Kanko Maru Japão 1988 cio para a grande competição que iria levar então Segundo-tenente Guilherme Concei-
Kershones 2 Ucrânia 1989 os navios até Lisboa. Além disso, o excelen- ção Silva, oficial de quarto nesse mesmo dia
Kruzenshtern Rússia 1961 te acolhimento proporcionado pelas famílias das 8h00 às 12h00, arrebatasse a famosa Flâ-
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Libertad* Argentina 1962 locais aos marinheiros visitantes foi algo que mula Azul , que de resto não mais perderia,
Lili Marleen França 1994 ultrapassou as expectativas mais optimistas. tendo a Sagres navegado por largos períodos
Lord Nelson Reino Unido 1986 Disso mesmo é prova o testemunho do en- com velocidades superiores a 14 nós.
Malcolm Miller 4 Reino Unido 1968 tão Primeiro-tenente Victor Victorino, à épo- Infelizmente, devido à ausência da regular
Mir 2 Rússia 1987 ca o navegador da Sagres, que seguidamente nortada, tão frequente na costa portuguesa, a
Nadezhda 2 Rússia 1990 transcrevemos: Sagres acabou por se atrasar, vindo a classifi-
Nippon Maru 6 Japão 1988 «Era realmente admirável que dois ou três car-se na décima primeira posição da Classe
Oceania 3 Polónia 1985
Oosterschelde Bélgica 1992 grumetes de Trás-os-Montes ou do Alentejo I (deslocamento superior a 100 toneladas).
Pallada 2 Ucrânia 1989 conseguissem entender-se durante horas se-
Pogoria 3 Polónia 1980 guidas com a família que os levava a pas- «O marinheiro de vela é obrigado, pela
Prince William 5 Reino Unido 2001 sear, ao cinema, a jantar e a compartilhar força das circunstâncias, a agir com pronti-
Sagres* Portugal 1962 o conforto do seu home, sem que nem uns dão. Independentemente de horários ou ro-
Sedov Rússia 1981 nem outros falassem uma palavra do idio- tinas, pode ter de se interromper o sono ou
Shabab Oman* Omã 1971 ma recíproco». a refeição para carregar pano debaixo de um
Simon Bolívar* Venezuela 1979 Por seu turno, o jornal inglês The Walrus aguaceiro súbito, para subir a ferrar um sobre
Sir Winston Churchill 4 Reino Unido 1966 descreveu assim a empatia estabelecida en- que ameaça rasgar-se ou alar braços para evi-
Soren Larsen Reino Unido 1983 tar um desastre; é sóbrio e desembaraçado;
Spirit of New Zealand Nova Zelândia 1986 tre este acontecimento e a formação da ma- e é o melhor marinheiro, mesmo nos mo-
Stad Amsterdam 1 Holanda 1998 rinhagem inglesa: dernos navios-máquinas, onde, ao chegar o
Statsraad Lehmkuhl Noruega 1960 «Os efeitos da instrução à vela nos cade- momento crítico, o conhecimento sólido da
Stavros S. Niarchos 5 Reino Unido 2000 tes foram milagrosos. Os rapazes de Dart- marinharia e a acção rápida são tão neces-
Thor Heyerdahl Alemanha 1983 mouth, especialmente, parecem ter ganho sários como antigamente. Para formar gente
Tunas Samudera* 7 Malásia 1987 com isso, e há fortes correntes de opinião desta, há economia de tempo e de capitais
Young Endeavour 7 Austrália 1988 de que é tempo de fazermos dos nossos ma- quando se usam navios-escolas à vela. De
Zénobe Gramme* Bélgica 1970 rinheiros homens do mar e não chauffeurs facto, num cruzeiro de alguns meses, à vela,
* Navios-escolas militares. Apesar da sua guarnição ser da de vapores». os próprios elementos naturais se encarre-
Marinha, como é sabido no Creoula por norma apenas gam de proporcionar ao aluno-marinheiro
embarcam jovens civis. A largada para a regata foi dada no dia 7
1 Dois navios-irmãos construídos na Holanda. de Julho, sendo a linha definida pelos draga- uma série de ocorrências e de surpresas, que,
2 Seis navios-irmãos construídos na Polónia. -minas HMS Acute e HMS Jewel, encontran- em navios a vapor ou a motores só em largos
3 Quatro navios-irmãos construídos na Polónia. do-se este último fundeado nas proximidades anos viria talvez a experimentar, por mais ar-
4 Dois navios-irmãos construídos no Reino Unido. tificialmente rígida e realista que a instrução
5 Dois navios-irmãos construídos no Reino Unido. do promontório de Berry Head. fosse, nestes navios».
6 Dois navios-irmãos construídos no Japão. Quatro dias depois, já em plena Biscaia, Primeiro-tenente Victor Victorino (1956)
7 Dois navios-irmãos construídos no Reino Unido. «um paquete esfalfava-se para ultrapassar a
16 JULHO 2006 U REVISTA DA ARMADA