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REGATAS
                                             REGATAS


              3. Cinquentenário das Tall Ship’s Races (1956-2006)

                                    1ª Parte – Primeiros Alvores

                eio século volvido, Lisboa afirma -se  Embaixador de Portugal em Londres, sendo  reavaliar a sua orientação relativamente às
                de novo como palco privilegiado  também ele um apaixonado de longa data pe-  especificidades a que deve atender um ver-
         Mpara acolher os veleiros que aqui  las coisas do mar, possuindo inclusivamente  dadeiro navio-escola.
                                                                   3
         chegarão em regata zarpando de Torbay, no  o seu próprio veleiro, o Bellatrix . Não surpre-  Num elenco longe de ser exaustivo, apre-
         sul de Inglaterra.                 ende, por isso, dada a sua amizade e acção  sentamos os nomes de alguns veleiros e as
           A ideia de efectuar uma regata internacio-  empenhada junto dos promotores desta ideia,  datas em que começaram a navegar como
         nal que reunisse os navios-                                     Arquivo CTEN António Gonçalves  navios-escolas, ou foram
         -escolas à época existentes,                                                      incorporados nas respecti-
         começou a ser equacionada                                                         vas Marinhas, mercantes ou
         no longínquo ano de 1953                                                          militares. Face a esta longa
         pelo Dr. Bernard Morgan,                                                          lista, ainda que incompleta,
         um solicitador reformado                                                          facilmente se percebe que
         residente em Londres. Na                                                          actualmente todos nós dete-
         altura, com vista a uma pos-                                                      mos uma enorme dívida de
         sível integração dos veleiros                                                     gratidão para com o trabalho
         oriundos da América no hi-                                                        iniciado há mais de meio sé-
         potético evento, foi inicial-                                                     culo pelo Dr. Bernard Mor-
         mente sugerido o percurso                                                         gan e pelo Embaixador Pe-
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         entre as Bahamas  e o canal                                                       dro Teotónio Pereira.
         de Bristol, constituindo este                                                       A 11 de Março de 1955,
         último o mítico ponto de                                                          com a ajuda da inestimável
         chegada de muitos dos cli-                                                        experiência do Lieutenant-
         ppers do chá. Porém, cedo                                                         -commander A. Goodwin,
         se chegou à conclusão de                                                          antigo instrutor naval em
         que este trajecto seria exces-                                                    Gordonstown, e ainda en-
         sivamente longo e exigente,                                                       corajado por Mr. Alan Paul,
         acrescendo ainda a dificul-                                                        secretário do Royal O cean
         dade em conseguir juntar,   A Sagres na chegada a Dartmouth.                      Racing Club, o Dr. Bernard
         nessas condições, um número significativo de  e que desde cedo contou com toda sua cola-  Morgan constituíu formalmente a Sail-Training
         veleiros, que desde logo justificasse a organi-  boração e dinamismo, que Lisboa viesse a ser  International Race Committee (STIRC), cujo
         zação de um evento assaz complexo e que,  escolhida como porto de destino da primeira  objectivo visava organizar a primeira regata
         para o qual, contrariamente ao que sucede  regata que se realizou há cinquenta anos.  internacional de navios-escolas. Esta comis-
         nos nossos dias, não existia qualquer referên-  O espírito subjacente da sã convivência  são, que para além do próprio Bernard Morgan
         cia no que concerne aos moldes em que po-  entre a juventude constituía, na opinião de  contava ainda no seu quadro com o Captain
         deria ser desenvolvido e levado a cabo.  Mr. Bernard Morgan, a razão pela qual ele  W. Combs, Presidente da Officers’ Merchant
           Por esta ocasião o Dr. Pedro Teotónio Perei-  julgava serem os veleiros o único verdadeiro  Navy Federation, com o Captain W. Crawford,
         ra  (1902-1972) iniciou a sua comissão como  veículo que poderia «aproximar os jovens de  Comandante do Britannia Royal  Navy College,
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                                            diferentes países, raças e religiões», propor-  em Dartmouth, e com o Captain E. Hewitt, Co-
                                            cionando-lhes um maior respeito e enten-  mandante da Cadet School do HMS Conway,
                      LOUVOR
            «Tendo o Ministério dos Negócios Estran-  dimento recíprocos. Em sua opinião, este  iria constituir -se como o embrião da futura Sail
          geiros trazido ao conhecimento do Ministério   objec tivo seria conseguido por intermédio  Training Asso ciation (STA), criada na sequência
          da Marinha a bela impressão deixada em In-  do convívio e da competição, esta última  do evento inaugural, assumindo-se a partir de
          glaterra pelo navio-escola «Sagres» durante a   assente numa salutar rivalidade.  então como o seu órgão executivo.
          sua permanência no porto de Dartmouth, quer   Cumpre em abono da verdade relembrar   A sua principal função seria organizar fu-
          pela participação nas provas desportivas reali-  que Mr. Bernard Morgan não detinha qual-  turas actividades com a finalidade de pro-
          zadas antes do início da regata Torbay-Lisboa,   quer especial ligação com o mar. Compre-  mover e fomentar o entendimento, o conhe-
          em que a sua guarnição ganhou numerosos   endeu, no entanto, pelo facto de os grandes  cimento e a compreensão entre os jovens,
          prémios de remo, de vela e de natação e ob-  veleiros serem recorrentemente associados  civis e militares, de diferentes países e cul-
          teve para o navio a melhor classificação entre   pelo imaginário colectivo como protagonis-  turas, no quadro da participação dos res-
          todos os navios-escolas, quer pela apresenta-  tas de grandes viagens de aventura pelos Sete  pectivos navios nas regatas internacionais,
          ção modelar do navio e de toda a sua guar-  4
          nição e pelo comportamento exemplar desta   Mares  e por paragens exóticas e fascinantes,  bem como nas mais variadas actividades re-
          em todas as circunstâncias, é com a maior sa-  que seria por intermédio destes que se pode-  gularmente agendadas para os portos visita-
          tisfação que louvo toda a guarnição do navio,   ria cumprir o seu desígnio. Em nossa opinião  dos. Não podemos no entanto deixar aqui
          desde o seu comandante à menos graduada   talvez não tenha à época percebido, pelo  de enaltecer o precioso apoio que desde a
          das praças e lhe agradeço a forte contribuição   menos em toda a sua extensão, que com a  primeira hora foi prestado pelo Lord Louis
          que deram para que, mais uma vez, a nossa   criação deste evento, que imediatamente ga-  Mountbatten (1900-1979) , à época o First
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          Marinha e o País fossem alvo, em terras estra-  nhou uma regularidade de todo inesperada,  Sea Lord da Royal Navy (1955-1959), bem
          nhas, das melhores referências».  muito iria contribuir para ajudar a preservar  como o alto patrocínio emprestado à inicia-
                   Despacho do Ministro da Marinha   muitos dos veleiros que ainda hoje navegam,  tiva pelo Duque de Edimburgo, que pouco
                     N.º 175 de 21 de Julho de 1956
                                            levando inclusivamente algumas Marinhas a  depois aceitou constituir-se como Presidente
                                                                                       REVISTA DA ARMADA U JULHO 2006  15
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