Page 233 - Revista da Armada
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REGATAS
REGATAS
3. Cinquentenário das Tall Ship’s Races (1956-2006)
1ª Parte – Primeiros Alvores
eio século volvido, Lisboa afirma -se Embaixador de Portugal em Londres, sendo reavaliar a sua orientação relativamente às
de novo como palco privilegiado também ele um apaixonado de longa data pe- especificidades a que deve atender um ver-
Mpara acolher os veleiros que aqui las coisas do mar, possuindo inclusivamente dadeiro navio-escola.
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chegarão em regata zarpando de Torbay, no o seu próprio veleiro, o Bellatrix . Não surpre- Num elenco longe de ser exaustivo, apre-
sul de Inglaterra. ende, por isso, dada a sua amizade e acção sentamos os nomes de alguns veleiros e as
A ideia de efectuar uma regata internacio- empenhada junto dos promotores desta ideia, datas em que começaram a navegar como
nal que reunisse os navios- Arquivo CTEN António Gonçalves navios-escolas, ou foram
-escolas à época existentes, incorporados nas respecti-
começou a ser equacionada vas Marinhas, mercantes ou
no longínquo ano de 1953 militares. Face a esta longa
pelo Dr. Bernard Morgan, lista, ainda que incompleta,
um solicitador reformado facilmente se percebe que
residente em Londres. Na actualmente todos nós dete-
altura, com vista a uma pos- mos uma enorme dívida de
sível integração dos veleiros gratidão para com o trabalho
oriundos da América no hi- iniciado há mais de meio sé-
potético evento, foi inicial- culo pelo Dr. Bernard Mor-
mente sugerido o percurso gan e pelo Embaixador Pe-
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entre as Bahamas e o canal dro Teotónio Pereira.
de Bristol, constituindo este A 11 de Março de 1955,
último o mítico ponto de com a ajuda da inestimável
chegada de muitos dos cli- experiência do Lieutenant-
ppers do chá. Porém, cedo -commander A. Goodwin,
se chegou à conclusão de antigo instrutor naval em
que este trajecto seria exces- Gordonstown, e ainda en-
sivamente longo e exigente, corajado por Mr. Alan Paul,
acrescendo ainda a dificul- secretário do Royal O cean
dade em conseguir juntar, A Sagres na chegada a Dartmouth. Racing Club, o Dr. Bernard
nessas condições, um número significativo de e que desde cedo contou com toda sua cola- Morgan constituíu formalmente a Sail-Training
veleiros, que desde logo justificasse a organi- boração e dinamismo, que Lisboa viesse a ser International Race Committee (STIRC), cujo
zação de um evento assaz complexo e que, escolhida como porto de destino da primeira objectivo visava organizar a primeira regata
para o qual, contrariamente ao que sucede regata que se realizou há cinquenta anos. internacional de navios-escolas. Esta comis-
nos nossos dias, não existia qualquer referên- O espírito subjacente da sã convivência são, que para além do próprio Bernard Morgan
cia no que concerne aos moldes em que po- entre a juventude constituía, na opinião de contava ainda no seu quadro com o Captain
deria ser desenvolvido e levado a cabo. Mr. Bernard Morgan, a razão pela qual ele W. Combs, Presidente da Officers’ Merchant
Por esta ocasião o Dr. Pedro Teotónio Perei- julgava serem os veleiros o único verdadeiro Navy Federation, com o Captain W. Crawford,
ra (1902-1972) iniciou a sua comissão como veículo que poderia «aproximar os jovens de Comandante do Britannia Royal Navy College,
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diferentes países, raças e religiões», propor- em Dartmouth, e com o Captain E. Hewitt, Co-
cionando-lhes um maior respeito e enten- mandante da Cadet School do HMS Conway,
LOUVOR
«Tendo o Ministério dos Negócios Estran- dimento recíprocos. Em sua opinião, este iria constituir -se como o embrião da futura Sail
geiros trazido ao conhecimento do Ministério objec tivo seria conseguido por intermédio Training Asso ciation (STA), criada na sequência
da Marinha a bela impressão deixada em In- do convívio e da competição, esta última do evento inaugural, assumindo-se a partir de
glaterra pelo navio-escola «Sagres» durante a assente numa salutar rivalidade. então como o seu órgão executivo.
sua permanência no porto de Dartmouth, quer Cumpre em abono da verdade relembrar A sua principal função seria organizar fu-
pela participação nas provas desportivas reali- que Mr. Bernard Morgan não detinha qual- turas actividades com a finalidade de pro-
zadas antes do início da regata Torbay-Lisboa, quer especial ligação com o mar. Compre- mover e fomentar o entendimento, o conhe-
em que a sua guarnição ganhou numerosos endeu, no entanto, pelo facto de os grandes cimento e a compreensão entre os jovens,
prémios de remo, de vela e de natação e ob- veleiros serem recorrentemente associados civis e militares, de diferentes países e cul-
teve para o navio a melhor classificação entre pelo imaginário colectivo como protagonis- turas, no quadro da participação dos res-
todos os navios-escolas, quer pela apresenta- tas de grandes viagens de aventura pelos Sete pectivos navios nas regatas internacionais,
ção modelar do navio e de toda a sua guar- 4
nição e pelo comportamento exemplar desta Mares e por paragens exóticas e fascinantes, bem como nas mais variadas actividades re-
em todas as circunstâncias, é com a maior sa- que seria por intermédio destes que se pode- gularmente agendadas para os portos visita-
tisfação que louvo toda a guarnição do navio, ria cumprir o seu desígnio. Em nossa opinião dos. Não podemos no entanto deixar aqui
desde o seu comandante à menos graduada talvez não tenha à época percebido, pelo de enaltecer o precioso apoio que desde a
das praças e lhe agradeço a forte contribuição menos em toda a sua extensão, que com a primeira hora foi prestado pelo Lord Louis
que deram para que, mais uma vez, a nossa criação deste evento, que imediatamente ga- Mountbatten (1900-1979) , à época o First
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Marinha e o País fossem alvo, em terras estra- nhou uma regularidade de todo inesperada, Sea Lord da Royal Navy (1955-1959), bem
nhas, das melhores referências». muito iria contribuir para ajudar a preservar como o alto patrocínio emprestado à inicia-
Despacho do Ministro da Marinha muitos dos veleiros que ainda hoje navegam, tiva pelo Duque de Edimburgo, que pouco
N.º 175 de 21 de Julho de 1956
levando inclusivamente algumas Marinhas a depois aceitou constituir-se como Presidente
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