Page 55 - Revista da Armada
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nhecidos por down-easters, pelo facto da sua grande maio-
ria ter sido construída na região de down east of Boston,
nos estaleiros do Maine e de New Hampshire.
9 As amuras dos papafigos, dadas as grandes dimensões
destas velas, fazem retorno num moitão que se encontra na
denominada verga da sécia, antes de serem caçadas a bor-
do. Este expediente, que terá sido desenvolvido no século
XVI, permite ganhar alguns poucos graus na orça.
10 Os termos gáveas partidas, joanetes partidos ou mes-
UKHO – The Mariners Handbook
mo mezenas partidas, significam que o espaço ocupado
por uma determinada vela foi dividido em dois, pelas
correspondentes vergas. Desta forma cada uma das velas
passa a ter uma menor área, facilitando a sua manobra e
permitindo uma melhor utilização do pano em função da
intensidade do vento.
11 Última vela redonda antes das orelhas de mula trian-
Imagem das actuais Sailing Ship Routes.
gulares a que nos referiremos mais adiante.
Em rigor já muito antes os veleiros em madei- rar ao cais com as palavras do historiador ame- 12 Devido à presença da vela da mezena, muitas vezes
ra contavam de mastros em tubo de ferro, o que ricano Samuel Eliot Morison (1887-1976) que apelidada também de vela ré, a verga de papafigo não
pouco tempo depois se estendeu também aos brilhantemente sintetizou, com a veia românti- envergava, por norma, qualquer vela, denominando-se,
por isso, verga seca.
respectivos mastaréus, com benéficos proveitos ca própria dos desencantados, o seu testemunho 13 Num mastro real podiam espigar pela ordem indica-
ao nível da redução em altura do centro de gra- sobre os mais rápidos e belos veleiros com que da, de baixo para cima, os mastaréus de gávea, de joanete,
vidade. Por seu turno, também o aparelho dos o Homem encerrou o derradeiro ciclo da nave- e de sobrejoanete.
14 Cabos ou correntes de ferro que atracam o gurupés
veleiros beneficiou com o advento da utiliza- gação à vela, e que, de certa forma, constituíram para o beque. Note-se que é o aparelho de cada navio que
ção do aço, passando os cabos fixos de bordo a o repositório de todo um legado de milhares de determina o número de cabrestos.
ser feitos neste material (ovéns, estais, estribos, anos de evolução: «For one who has sailed a cli- 15 Cabo ou corrente de ferro que aguenta o gurupés
cabrestos, etc.), a partir de 1863. Mas foram os pper ship, even in fancy, all later modes of ocean para a roda de proa, por fora dos cabrestos.
16 Pau junto à pega do gurupés que serve para aguentar
veleiros com casco em metal, cujas dimensões carriage must seem decadent».
foram crescendo a um ritmo quase frenético, Z para baixo o pau da bujarrona e o pau da giba, através dos
estais que partem destes e que, passando ao lais do pica-
os primeiros a utilizar guinchos e cabrestantes António Manuel Gonçalves peixe, fazem fixo na roda de proa.
CTEN
mecânicos com o objectivo de diminuir as tri- am.sailing@hotmail.com 17 Cabos fixos que aguentam o gurupés para as amuras.
pulações que se iam tornando cada vez mais 18 Estas velas eram na maior parte dos casos quadran-
numerosas. Como forma de ultrapassar os pro- Bibliografia sumária: gulares, tendo sido utilizadas anteriormente nalguns na-
vios de linha.
Basil Lubbock, The Nitrate Clippers, Glasgow, Bro-
blemas de estabilidade, grande parte das vergas wn, Son & Ferguson, Ltd., 1932. 19 Paus colocados por sobre as vergas dos papafigos, gá-
eram arriadas sempre que o pano não se encon- Howard Chapelle, The Search for Speed Under Sail veas e joanetes, enfiados nos respectivos aros. É neles que
trava caçado . (1700-1855), Nova Iorque, Bonanza Books, 1967. envergam as velas referidas, depois de estes paus, com o
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Estes navios, na sua grande maioria barcas e Sail’s Last Century – The Merchant Sailing Ship (1830- comprimento igual a metade da respectiva verga, serem
galeras de quatro ou cinco mastros, com capa- 1930), coord. Basil Greenhill, New Jersey, Chartwell prolongados para além do lais.
Quando se navegava praticamente com o vento na
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cidade de carga quatro vezes superiores às de Books, 2001. popa estas extensões eram caçadas apenas por fora das
um bom clipper em madeira, eram, em média, Notas: velas do traquete para aproveitar algum vento, já que nes-
um ou dois nós mais lentos, nomeadamente 1 Também a origem deste termo não é de todo consen- ta situação as velas deste mastro ficam na sombra das do
com ventos fracos. Mas, quando carregados no sual. Parece ter derivado do nome do famoso e elegante mastro grande.
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O antigo navio-escola Sagres dispunha de todas es-
limite era pouco comum que a intensidade do navio francês Cleopatra cum Antonio, que para além de tas velas auxiliares.
belo era também muito rápido. O que fez com que fos-
vento justificasse uma ordem do comandante no se alcunhado de clipster, dando pouco depois origem ao 22 A construção em madeira exigia que os estaleiros
sentido de mandar carregar algum pano. Por isso termo clipper. No entanto, os mais realistas preferem uma tivessem nos seus quadros bons carpinteiros, cujas capa-
não foram poucas as ocasiões em que desarvo- versão bem menos romântica. A de que o nome atribuí- cidades só eram plenamente atingidas ao fim de muitos
raram vergas e mastros, tendo-se inclusivamente do se ficou a dever ao facto de estes conseguirem cortar anos de trabalho. Por seu turno, a construção em ferro,
tempo (clip the time) nas suas tiradas, aos navios que an-
e mais tarde em aço, estava muito mais dependente da
perdido muitos deles. teriormente efectuavam essas mesmas ligações. tecnologia, uma vez que as diferentes peças eram feitas
Esta nossa viagem ficaria incompleta sem uma 2 Para se ter uma ideia da pressão sobre o transporte a partir de moldes.
alusão ao facto de a navegação à vela só ter dei- de pessoas e bens para a Califórnia basta dizer que, entre 23 A construção sistemática de grandes veleiros em
xado de encerrar segredos, em 1847, depois de 1850 e 1853, foram construídos 251 clippers em estalei- madeira conheceu o seu epílogo na última década do
o Lt. Matthew Fountaine Maury (1806-1873) ter ros norte-americanos. século XIX.
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Liga de cobre (65%) e zinco (35%). Não confun-
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Muitas destas dificuldades quer pela geografia do ter-
feito publicar o seu colossal trabalho. As suas Ex- reno quer pelas problemáticas questões sociais que então dir com o bronze, cuja composição é distinta: cobre (até
planations and Sailing Directions to Accompany emergiram, foram exaustivamente retratadas nos inúme- 80%), estanho (8% a 20%), sendo nalguns casos adicio-
the Wind and Current Charts , que se tornaram ros filmes do género Western, produzidos pelos estúdios nado também zinco (3%) e chumbo (até 10%).
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de imediato mundialmente famosas, surgiram na de Hollywood. 25 De notar que um casco sujo apresenta em regra uma
4 Ver «A Lenda e o Mito – 3. Thomas Stephens», Revista redução da velocidade na ordem dos 10%.
sequência de uma investigação exaustiva recor- da Armada, Junho de 2005. 26 Note-se que a resistência da madeira é especialmente
rendo a milhares de Diários Náuticos de centenas 5 A título de curiosidade recordamos que o trajecto elevada no sentido dos respectivos veios, mas francamente
de veleiros, com o objectivo de produzir aquilo entre as costas leste e oeste dos Estados Unidos, via cabo baixa transversalmente.
com que todos os comandantes e armadores so- Horn, era sensivelmente idêntico (13.300 milhas) àquele 27 A descoberta dos nitratos assumiu particular impor-
nhavam. Ou seja, indicações gráficas e quantifi- que os veleiros ingleses percorriam na sua viagem até à tância pela sua utilização como fertilizantes na agricultura,
sendo ainda utilizados no fabrico de explosivos na Grande
China. A grande diferença residia no facto de a primei-
cadas para todo o globo, extremamente rigorosas, ra poder ser efectuada praticamente durante todo o ano, Guerra (1914-1918).
com as rotas por onde se podia navegar à vela contrariamente à ligação entre Inglaterra e o Oriente 28 Oportunamente dedicaremos alguns artigos à histó-
tirando partido dos ventos e correntes mais favo- que, fruto do regime das monções no Índico, só podia ser ria notável de alguns dos principais armadores de grandes
ráveis, nas diferentes épocas do ano. De forma levada a cabo em épocas do ano muito precisas. veleiros de renome mundial.
6 No decorrer deste ano iremos abordar as questões 29 Tal como acontece com as vergas das gáveas altas,
sucinta, aquilo que hoje conhecemos como Pilot relacionadas com a navegação no cabo da Boa Esperan- joanetes e sobres do navio-escola Sagres.
Charts , de interpretação extremamente simples, ça e no cabo Horn. 30 Oficial da Marinha dos Estados Unidos.
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tendo como base informação sobre ventos e cor- 7 Os clippers constituíam uma pequena percentagem 31 Esta primeira edição de 1847 era composta por dois
rentes predominantes, existindo uma versão com dos navios construídos anualmente. No entanto as exi- volumes. Mais tarde surgiu também um conjunto de car-
derrotas de vela para todos os oceanos. gências da sua construção representavam um importante tas com as rotas favoráveis para os navios-vapor (Steam-
esforço financeiro e podiam manter todo um grande esta-
Ship Routes).
Já em manobras, no porto que há seis meses leiro ocupado durante muitos meses. 32 Na versão inglesa do Almirantado são denominadas
nos propusemos demandar, vamos enfim amar- 8 Os últimos clippers americanos ficaram também co- por Routeing Charts.
REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2006 17