Page 56 - Revista da Armada
P. 56
Hospital da Marinha
Hospital da Marinha
Uma Referência Viva de Todos os Marinheiros
(1ª parte)
o próximo dia 1 de Novembro, pri- nização da Marinha portuguesa iniciada Em 1800 as obras foram interrompidas.
meiro de Novembro de 2006, com- por Martinho de Melo e Castro. Os custos haviam... derrapado, como ago-
Npletar-se-ão duzentos anos sobre o As finanças do país também por essa ra se diz.
início da actividade assistêncial no edifício altura não estavam de grande saúde e a Esgotado por uma infeliz e dispen-
onde ainda hoje se en- diosa campanha no
contra a funcionar o Rossilhão que só nos
Hospital da Marinha. trouxe dissabores, a
Desde essa data pri- Lisboa – Alfredo Mesquita braços com o rescaldo
mordial que naquela da Guerra das Laran-
casa houve sempre do- jas, via-se o tesouro
entes, médicos, farma- incapaz, depauperado
cêuticos, enfermeiros e como estava, de supor-
demais pessoal indis- tar mais custos.
pensável para manter A obra em curso ar-
a funcionar a máquina riscava-se a seguir o
complexa e organis- destino da sua vizinha
mo delicado que é um Igreja de Santa En-
hospital. grácia.
Duzentos anos de Uma última insis-
laboração ininterru pta tência de D. Rodrigo
num edifício, desde a de Sousa Coutinho e
sua origem concebido o interesse pessoal do
e criado de raiz para Príncipe Regente, fez
hospital, é raro. Hospi- com que novo alvará
tal já num conceito de Hospital da Marinha. fosse assinado em 2
modernidade, muito de Setembro de 1801,
para lá do caritativo albergue de doen- construção do imóvel só foi tornada pos- ampliando o primeiro empréstimo para
tes. Atrevo-me a dizer que é o caso úni- sível com o recurso a um empréstimo de 215.000 cruzados e as obras recomeçaram.
co no País. 150.000 cruzados, a juro de 5%, sustentado Foi um dos últimos actos de Sousa Cou-
Certo é que o Hospital de S. Mar- tinho como Ministro da Marinha , já
cos é anterior e entrou em laboração que pediu a exoneração para que o
mais cedo. Mas neste caso a igreja seu nome e assinatura não constas-
ocupa um terço do hospital primiti- sem no Tratado de Badajoz, que pôs
vo. Não foi o que aconteceu no Hos- termo ao conflito luso-espanhol e
pital da Marinha. cujos termos considerou lesivos e ve-
Outro hospital, também desde a xatórios para a nação portuguesa.
sua origem concebido como tal e co- A título de curiosidade refira-se que
meçado a edificar em 1770, só quase o capital disponibilizado nunca viria a
cem anos depois conseguiu abrir as ser pago ou sequer amortizado.
suas portas, para desde então ser o Em 1861, numa proposta que o en-
que ainda hoje é: refiro-me ao Hospi- tão Ministro da Fazenda apresentou
tal de Santo António, no Porto. às cortes em S. Bento, para sanear as
São portanto duzentos anos de his- finanças públicas e reduzir o peso do
tória que muitas vezes se entrelaça défice, foi o empréstimo classificado
com a história pátria, mais intima- com a insólita designação de “dívida
mente com a história da medicina mansa”. Tão mansa foi que nunca
portuguesa e fazendo parte integran- mais ninguém ouviu falar dela...
te da história da medicina militar. Como se vê esta coisa da engenha-
Dará seguramente para escrever ria financeira não é só de agora!
um livro. O nome dos comerciantes subscrito-
A edificação do Hospital da Mari- res do empréstimo é conhecido. Deve-
nha foi, como é sabido, decidida em -lhes o Hospital da Marinha a existência
1797, através de Alvará Real, assina- e como tal, o reparo moral devido.
do em 27 de Setembro no Palácio de De 1797 até ao primeiro de No-
Queluz pelo Príncipe regente D. João, vembro de 1806, funcionou o Hospi-
em nome de sua Augusta mãe, a Se- D. João – Príncipe Regente. tal Real da Marinha no antigo Con-
nhora D. Maria I Rainha de Portugal, por por um grupo restrito de grandes comer- vento do Desterro, já desocupado antes do
proposta esclarecida do então Ministro da ciantes da praça de Lisboa. terramoto e que então havia funcionado
Marinha e do Ultramar D. Rodrigo de Sousa Ao que parece já nesse tempo o Estado como hospital de recurso, arrasado que fi-
Coutinho, continuador da obra de moder- estava pobre, mas havia gente rica. cara o Hospital de Todos-os-Santos.
18 FEVEREIRO 2006 U REVISTA DA ARMADA