Page 87 - Revista da Armada
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Hospital da Marinha
Hospital da Marinha
Uma Referência Viva de Todos os Marinheiros
(2ª parte)
as como diz a sabedoria po- tos anos se manteve e é o antepassado
pular não há bem que nun- Foto Júlio Tito directo do actual curso de médicos na-
Mca acabe nem mal que sem- vais da Escola Naval.
pre dure. Reclama contra a falta de higiene das
Felizmente em 1856 outro grande mé- praças, dos aquartelamentos e torna re-
dico, proveniente dos quadros do ultra- gulamentar e obrigatório o Banho Geral
mar, Fisíco-Mor que fora de Angola é no- “pelo menos uma vez por mês” .
meado Presidente do Conselho de Saúde Insurge-se violentamente contra a
Naval e Director do Hospital, cargos que maneira como ainda se recrutava para o
por razões de saúde só vem ocupar mais Corpo de Marinheiros: “ porque de vadios
de um ano depois: o Dr. Manuel Maria incorrigíveis e ratoneiros de profissão não se
Rodrigues de Bastos. podem fazer bons marinheiros”. Propõe o
No próprio ano da tomada de posse fim imediato da classe dos “pajens” que
inicia os trabalhos de modernização in- são “inúteis” e “ um elemento de imoralida-
dispensáveis em obras de fundo que se de a bordo e nos quartéis”.
irão prolongar por vários anos. Torna obrigatórias inspecções médicas
Passa o Hospital a dispor de água ca- regulares às guarnições, e a todos os na-
nalizada da rede de abastecimento pú- vios prestes a largar para comissão, bem
blico. Sistemas de aquecimento nas en- como a todos os funcionários civis que
fermarias. Banhos higiénicos quentes. É vão servir no Ultramar.
comprado novo enxoval, as camas pas- Organiza em moldes científicos a esta-
sam a ser de ferro esmaltado, saem as tística nosológica regular do Hospital.
grades das janelas, algumas delas mais Elabora novo Regulamento de Saúde
rasgadas e todas passando a dispor de Naval – o de 1860.
estores. Generaliza-se o uso de guarda- A partir de 1861 vira a sua atenção
-ventos. São substituídos os soalhos. Es- para os serviços de saúde ultramarinos
truturalmente definem-se espaços que que conhecia bem tendo servido 14 anos
ainda hoje se mantêm: a Capela passa em Angola.
para o terceiro andar, a Direcção a ocu- Durante a sua direcção o Hospital é
par os espaços onde ainda hoje se encon- visitado por D. Pedro V.
tra. Passa a haver lavandaria e aparece Memória evocativa. Vale a pena recordar uma norma que
Pormenor dos azulejos da Sala do Príncipe.
a primeira casa das caldeiras. É melho- hoje nos parece óbvia e indiscutível: foi
rada a iluminação. de Enfermeiros da Armada, fixando-lhes Rodrigues de Bastos quem propôs ao
No final das obras o Hospital passa a dis- quadros, categorias e vencimentos, carrei- Ministro que, a bordo, a autoridade médico-
por de 250 camas, arrumadas por dez enfer- ras e competências. Cria o quadro de Aspi- -sanitária dos cirurgiões ou médicos embar-
marias, seis quartos para oficiais, três para rantes a Facultativos Navais, que por mui- cados deveria ser sempre acatada pelo Co-
sargentos e uma enfer- mando. Passou desde
maria para “alunos”. então a sê-lo!
Além das obras ma- Rodrigues de Bas-
teriais que permitem tos sai em 1869, com
que em 1867, o Hospi- 58 anos e o posto de
tal da Marinha possa CMG.
ser considerado como Nas décadas subse-
o mais moderno e quentes vão surgindo
confortável que existia naturalmente novida-
em Lisboa, “gozando de des: Iluminação eléctri-
justificado conceito pelo ca. Em 1891 começa no
asseio e rigor com que o Hospital o ensino da
serviço nele é desempe- enfermagem que nele
nhado”, Rodrigues de durará até 1979.
Bastos volta-se para a Em 1892, o Director
estrutura orgânica. de então elabora a pri-
Aumenta o número meira nota sugerindo
de clínicos e cirurgi- a aquisição do imóvel
ões com alargamento vizinho, como que en-
dos quadros. cravado no Hospital
Propõe aumento de e zona de expansão
vencimentos para to- natural do mesmo. A
das as categorias de pretensão manteve-se
pessoal. Cria o Corpo Organização da Saúde Naval – 1837. Regulamento do Serviço de Saúde Naval – 1860. e é esporadicamente
REVISTA DA ARMADA U MARÇO 2006 13