Page 201 - Revista da Armada
P. 201
Ilha de S. Jorge tes que mostram claramente a preocupação A Banda da Armada realizou nesse dia um
defensiva contra os atacantes externos e a concerto no Centro Cultural e de Congressos
desconfiança espanhola quanto à popula- de Angra do Heroísmo, que constituiu um dos
ção local, que foi vencida em 1583 pela es- momentos mais significativos das comemo-
quadra do Marquês de Santa Cruz, mas não rações nesta ilha. Com um programa ligeiro
foi convencida nem subjugada. A fortaleza que não descurou a qualidade, a Banda inter-
de S. João Baptista, em tempos denominada pretou um conjunto de obras de que destaco
de S. Filipe, situada entre a atalaia do Mon- a homenagem à música açoriana, consubs-
te Brasil e a cidade de Angra do Heroísmo é tanciada na peça “Arquipélago”, de Antero
bem o exemplo disso. Ávila, e a peça “Olhos Negros”. A segunda é
Contudo, a notoriedade da Terceira não um tema popular açoriano, muito conhecido,
desapareceu com as rotas das especiarias, com um arranjo para orquestra de Agostinho
ganhando um novo alento no século XX, Caineta, mas a primeira constitui um trabalho
quando as grandes potências marítimas dispu- mais complexo e de maior erudição de um
taram o controlo do Atlântico. E peço ajuda, compositor natural da Ilha do Pico e residente
de novo, à pena de Vitorino Nemésio – talvez na Praia da Vitória. Trata-se de um poema sin-
prematuramente optimista sobre um futuro in- fónico onde se fala de ilhas envoltas na bruma
cumprido da sua ilha natal – quando escre- que emergiram das águas em partos telúricos
veu no Corsário das Ilhas que “A solidão, o violentos: são os Açores, “ilhas coradas de ca-
inteiro apartamento quebrou-se para sempre garros e de nuvens onde a vida humana ain-
Ilha do Pico com o rumo dos tempos novos, que trouxe- da tem, de quando em quando, o sabor dos
ram à terra dos Cortes-Reais [...] a prenda de primeiros dias da criação” – como escreveu
um aeródromo-ponte entre o Mundo Novo Nemésio –, ilhas nascidas dos carvões e mar-
e o Velho.” Elemento fundamental da estraté- telos de vulcano, encerradas na grandeza do
gia atlântica dos Aliados, durante a Segunda Ocea no. A Banda terminou a sua actuação
Guerra, continuou a ser um ponto chave da tocando “Deep Purple Medley” em arranjo de
estratégia da NATO e mantém toda a sua im- Toshihito Sahashi, contando com a colabora-
portância no século XXI. Só não alterou o es- ção do guitarrista açoriano Luís Bettencourt.
sencial da “açorianidade” terceirense, como O sucesso da Banda da Armada em todas as
chegou a supor Nemésio. Apenas o “barulho realizações em que participa é algo a que te-
e a brancura do mar desfeito nas rochas, e o mos vindo a ser habituados com manifesto
mugido do gado nos cerrados e bebedoiros” agrado, e o concerto ao ar livre, realizado no
foi acrescentado pelo vai vem dos aviões que dia 15, na Praça Velha, foi mais um êxito que
aterram e descolam. contou com a assistência entusiástica de mais
Na Ilha Terceira as comemorações do Dia de duas mil pessoas.
da Marinha começaram com a realização de No dia 16 pela manhã – “à boa maneira
regatas de remo e vela, abrangendo diversas antiga” – a “Sagres” largava à vela do cais da
classes e escalões etários. No Domingo, dia Praia da Vitória e, lentamente, passava entre
13 de Maio, foi inaugurada, na Câmara Mu- molhes levada por uma brisa do sul, toman-
nicipal de Angra de Heroísmo, uma exposi- do o caminho da Ilha de S. Miguel. Cerca
ção temática organizada pelo Museu de Ma- das nove horas sobrevoava-a um helicópte-
Ilha do Faial
rinha, e, nesse mesmo dia a “Sagres” e a “João ro Lynx, com o Almirante CEMA a bordo: ia
Roby” atracavam no cais comercial da Praia embarcar no NRP “Vasco da Gama”, com
da Vitória, onde viriam a permanecer até dia destino ao Faial, dando continuidade ao pé-
16, com abertura a visitas, embandeiramen- riplo que pretendeu fazer por todas as ilhas.
to em arco e iluminação de gala. Os prémios A “João Roby”, só pelas 22h00 largava para
das regatas foram entregues no tombadilho Ponta Delgada, onde se iria reunir toda a For-
da Sagres, com a participação de todos os ça Naval, para a cerimónia do dia 20.
concorrentes e a colaboração dos clubes e
entidades organizadoras, Angra Yate Clube, EM PONTA DELGADA
Junta de Freguesia de S. Mateus (regata de Foi o circunstancialismo dos tempos e
embarcações tradicionais), Clube Ar Livre e as condições naturais que determinaram o
Clube Naval da Praia da Vitória. progressivo crescimento da importância da
O Chefe do Estado-Maior da Armada, Al- ilha de S. Miguel e da cidade de Ponta Del-
mirante Melo Gomes, chegou à Terceira no gada, enquanto capital da Região Autóno-
dia 14, apresentando cumprimentos às auto- ma. Passado que foi o auge da Carreira da
ridades locais e ao Representante da Repúbli- Índia, e o tempo em que Angra do Heroís-
ca para a Região Autónoma dos Açores, Juiz mo foi local de abrigo às naus que vinham
Conselheiro José António Mesquita. do Oriente e da América do Sul, seguiu-se o
reordenamento da situação insular, impon-
do-se o poder económico da maior ilha do
arquipélago, com o seu porto privilegiado.
Apesar do protagonismo seiscentista da Ilha
Terceira, foi em S. Miguel que, no período
henriquino, se concentrou maior número
de colonos dedicados à produção agrícola
e criação de gado. A sede da primeira ca-
pitania foi Vila Franca do Campo, núcleo
populacional virado para a exploração da
REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2007 19