Page 202 - Revista da Armada
P. 202

terra que, em poucos anos, seria confron-  pela Banda da Armada de então. Encerrou -se   Ilha de S. Maria
         tada com o desenvolvimento comercial da  a primeira parte com um arranjo do mesmo
         pequena povoação portuária situada mais a  compositor sobre a música “Innuendo” do
         oeste, numas terras baixas e ricas, onde so-  grupo Queen. A Marinha habituou-se ao ta-
         bressai um pequeno cabo ou “ponta” estreita  lento artístico de Jorge Salgueiro que todos
         – como relata Gaspar Frutuoso no séc. XVI  os anos nos tem vindo a presentear com um
         – que está na origem do nome da cidade de  novo trabalho a estrear no magno concerto
         Ponta Delgada. Na passagem para o século  do Dia da Marinha, que o maestro muito jus-
         XVI, obteve do rei D. Manuel autonomia em  tamente considerou como a mais importante
         relação à sede da capitania, e a destruição  exibição de cada ano. Neste caso tivemos a
         quase total de Vila Franca do Campo, num  apresentação de um trabalho a todos os ní-
         terramoto que ocorreu em 1522, fez com  veis inovador que, para além da obra musi-
         que o capitão donatário para lá se mudasse  cal, envolveu um complexo trabalho cénico,
         com toda a estrutura de poder local. No sé-  que contou com a colaboração do Coro do
         culo XVII, a sua primazia no arquipélago era  Ensino Básico do Conservatório Regional de
         nítida, graças ao desenvolvimento do porto  Ponta Delgada, dirigido pela maestrina Na-
         abrigado e espaçoso, depois protegido por  tália Lima Ferreira, e do actor Horácio Ma-
         um grande molhe a sul e progressivamente  nuel do grupo de teatro O Bando. A obra
         dotado de meios de apoio a navios de gran-  intitula-se “Projecto Tartaruga”, e consiste
         de porte. Digamos que a primeira vila foi a  numa fábula sinfónica onde sobressaíram
         sede de uma capitania virada para a terra, a  duas dimensões importantes: uma prende-
         agricultura e criação de gado, sendo substi-  -se com o carácter didáctico da própria his-  Ilha de S. Miguel
         tuída pela cidade mercantil de frente para o  tória que tem como pano de fundo o Mar,
         mar, num metafórico paralelismo com a cres-  a irracionalidade da poluição marítima e a
         cente e decisiva importância do arquipélago,  necessidade de lhe pôr cobro, como única
         a evoluir das primeiras viagens ultramarinas  expressão lógica do Ser inteligente e ávido
         portuguesas para as actuais relações inter-  de saber que é o Homem; a segunda dimen-
         continentais que passam pelo Atlântico.  são tem a ver com a aprendizagem de uma
           As comemorações mais importantes do Dia  linguagem musical, por parte do espectador,
         da Marinha 2007 teriam, necessariamente,  emergente na clareza da própria história – re-
         que passar por Ponta Delgada, onde teve lugar  firo-me à possibilidade de observar os naipes
         a cerimónia militar do próprio dia 20 de Maio.  de instrumentos como personagens vivos da
         Para esse efeito foi constituída a TG 443.22,  fábula, desempenhando papéis simples onde
         comandada pelo CMG Luís Correia Andrade,  o jogo dos sons se evidencia como uma lin-
         e constituída pelos NRP “Sagres”, “Vasco da  guagem própria e límpida. É, sem sombra de
         Gama”, “João Belo”, “Bérrio”, “Jacinto Cân-  dúvida, mais um sucesso de Jorge Salgueiro
         dido”, “Pereira d’Eça”, “João Roby”, “D. Car-  e da Banda da Armada.
         los I”, “Barracuda” e UAM “Creoula”. Para a   Os aplausos do público, impunham a
         cerimónia militar e demonstrações anfíbias,  apresentação de uma peça extraprograma,
         a esta TG, juntou -se o Batalhão de Fuzileiros  e a escolha recaiu num tema tradicional dos
         nº 2 reforçado com meios de desembarque  Açores (ponha aqui o seu pézinho...), com
         do Corpo de Fuzileiros.            um arranjo de belo efeito adaptado ao grupo
           No dia 18, foram reunidos todos os meios  coral actuante. O concerto terminou com a
         navais, e teve lugar um concerto ao ar livre  “Marcha dos Marinheiros”, tocada duas ve-
         realizado pela Banda da Armada, sob a di-  zes com ampla participação do público.
         recção do maestro 2TEN Délio Gonçalves,
         no largo Gonçalo Velho, diante das Portas da  O DIA 20
         Cidade, com uma assistência prejudicada por   O dia 20 de Maio – o Dia da Marinha – co-
         uma noite chuvosa, mas que terminou com-  meçou com uma missa de sufrágio aos milita-
         posta, com mais de um milhar de pessoas a  res, militarizados e civis da Marinha já faleci-
         aplaudirem de forma entusiástica. No dia 19  dos, celebrada na Igreja Matriz de S. Sebas tião
         foi aberta ao público a exposição temática,  sob a presidência de D. Januário Torgal Ferrei-
         com uma mostra das actividades e aconteci-  ra, bispo das Forças Armadas e de Segurança,
         mentos que envolveram a Marinha na zona  acolitado pelo Capelão-Chefe da Marinha, Ilí-
         dos Açores ou que, de algum modo, estão re-  dio Costa, e pelos capelães Licínio Monteiro e
         lacionados com a cidade de Ponta Delgada,  Armindo Monteiro. Este último, actualmente
         durante os dois conflitos mundiais do século  capelão do exército na Região Autónoma, es-
         XX. E pelas 22h00 teve lugar o concerto ofi-  teve durante anos na Marinha como capelão
         cial, realizado no Teatro Micaelense pela Ban-  da Escola de Fuzileiros.
         da da Armada, sob a direcção do seu chefe, o
         maestro CFR Carlos da Silva Ribeiro.
           A primeira parte abriu com a já referida
         peça de Antero Ávila – já interpretada na
         Horta e em Angra do Heroísmo – a que se
         seguiu a obra de Jorge Salgueiro, “Cantos
         Populares Portugueses”, composta sobre um
         pano de fundo do tema homónimo, de Ro-
         driguez, e que constituiu uma das faixas do
         primeiro disco gravado em Portugal (1901),

         20  JUNHO 2007 U REVISTA DA ARMADA
   197   198   199   200   201   202   203   204   205   206   207