Page 303 - Revista da Armada
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BRASÕES DO NRP “SAGRES”
                       BRASÕES DO NRP “SAGRES”

                            Na busca de uma imagem de excelência

           O presente brasão do NRP Sagres é já o terceiro com que o navio conta desde que foi incorporado em 1962. O primeiro, her-
         dado da antiga Sagres, não cumpria ainda com o formato heráldico entretanto adoptado para os demais navios da Marinha, pelo
         que foi substituído em 1976. No entanto, a falta de unanimidade em torno deste, levou a que, em 1993, utilizando basicamente
         os mesmos motivos, fosse concebido o brasão actual, pujante de nobreza e significado, mesmo para aqueles que se acham menos
         familiarizados com as peculiaridades desta arte. Como se pode avaliar pelas imagens, todos eles encerram elementos fortemen-
         te conotados com o período áureo da nossa história marítima, contribuindo para conferir particular enlevo ao conjunto, que se
         identifica, de imediato, com o símbolo maior da Marinha Portuguesa.














                                                                                                                Desenhos José Cabrita








                     BRASÃO I                           BRASÃO II                         BRASÃO III
                 8/2/1962 a 28/1/1976               28/1/1976 a 7/4/1993                 desde 7/4/1993
           O primeiro brasão do navio foi herdado da   A Cruz de Cristo era o símbolo da Ordem Mi-  A Cruz de Cristo talvez tenha sido utilizada
         antiga Sagres, a exemplo do sucedido com os  litar de Cristo, da qual o infante D. Henrique foi  nas velas dos navios portugueses, ainda no sé-
         três símbolos maiores que o identificam, in-  Grão-Mestre, a partir de 1420. Um tanto estili-  culo XV. Era o principal símbolo da Ordem Mi-
         cluindo o próprio nome.            zada, encontra-se sobre um fundo em prata, o  litar de Cristo, da qual o infante D. Henrique foi
           Este encontra-se dividido em quatro partes,  metal símbolo do infante, que representa o zelo,  «regedor e governador».
         nas quais se encontram espalhados motivos  a firmeza e a integridade, virtudes cultivadas e   Os ramos e bolotas de carrasco, que designa
         alusivos ao denominado período dos Desco-  reconhecidas em D. Henrique.  um determinado tipo de carvalho bravo, símbo-
         brimentos. No canto superior direito encontra-  No centro deparamo-nos com uma coroa  lo pessoal do infante D. Henrique, exprimem a
         se o brasão de armas do infante D. Henrique.  em ouro feita de ramo de carrasqueira, que  tenacidade e o desapego pelos bens materiais
         No canto superior esquerdo encontramos um  qualifica um determinado tipo de carvalho  e honras fáceis. Estes aparecem aqui represen-
         astrolábio náutico em ouro e, no céu noctur-  bravo, e que era o símbolo pessoal do infante  tados em ouro, conferindo carácter nobre ao
         no, podem-se apreciar as referências que os pi-  D. Henrique. Este é sinónimo da tenacidade  actual brasão do navio-escola Sagres.
         lotos portugueses utilizavam para determinar a  e do desapego pelos bens materiais e honras   O astrolábio náutico também em ouro, em-
         posição do navio no mar: no hemisfério Norte  fáceis, características igualmente atribuídas à  bora ainda não utilizado durante a vida do in-
         a estrela Polar e a constelação da Ursa Menor  personalidade do infante.  fante, representa a ciência e a instrução que
         e no hemisfério Sul a constelação do Cruzeiro   O fundo azul, que representa o Mar por onde  estão na base da Arte de Navegar, tendo esta
         do Sul, em que as estrelas Acrux e Gacrux defi-  navegaram naus e caravelas dos Descobrimen-  permitido aos pilotos portugueses descobrir no-
         nem o pé-da-cruz.                  tos, é também uma das cores nobres corrente-  vos continentes, novos portos, novas ilhas, «e o
           No canto inferior direito temos uma cara-  mente associadas ao infante D. Henrique.  que mais é: novo céu e novas estrelas».
         vela em ouro, navio fortemente conotado com   O brasão encontra-se encimado pelo atributo   O fundo azul-escuro, onde se encontram ins-
         os Descobrimentos Portugueses do século XV,  heráldico que constitui o coronel naval em ouro.  critos os motivos em ouro acima referidos, re-
         navegando de velas enfunadas, com mar e céu  Na respectiva base surge um listel branco, des-  presenta o «Mar Oceano» que, legado de Por-
         azuis. No canto inferior esquerdo surge a Cruz  ta feita com verso em prata, onde se encontra  tugal, nas palavras de Fernando Pessoa, une e
         de Cristo, símbolo da Ordem Militar de Cristo,  inscrito o nome do navio e a sua classificação  deixou de separar.
         cujo fundo branco estabelece paralelo com as  abreviada (NE – Navio-Escola).  O brasão encontra-se encimado pelo distin-
         velas dos navios. O brasão é delimitado por um   Refira-se a propósito, que se este segundo bra-  tivo coronel naval de ouro e, na sua base, surge
         característico cabo cochado, atributo e sinónimo  são surgiu com intuito de cumprir os requisitos  o característico listel, agora com verso e reverso
         da singela existência dos Marinheiros. Sobreposto  heráldicos espelhados à data nos demais bra-  em prata, onde aparece inscrito o nome do na-
         às duas partes inferiores descritas, acha-se um lis-  sões dos restantes navios da Marinha Portugue-  vio, antecedido pela conhecida sigla NRP (Na-
         tel em ouro, com a divisa do infante D. Henrique  sa, nomeadamente na forma e na existência do  vio da República Portuguesa), característica dos

         «talant de bi e˜    faire», em francês arcaico.  coronel naval em ouro, a menos feliz imagem  navios da Marinha Portuguesa.
           Na sua base existe ainda um outro listel  do novo conjunto terá estado na base da decisão           Z
         em ouro, mas de verso azul, com o nome  que levou à sua substituição pelo actual brasão,   António Manuel Gonçalves
         do navio e a sua classificação, abreviada  que no essencial, se exceptuarmos o astrolábio,          CTEN
         (NE – Navio-Escola).               conta com os mesmos motivos.                         am.sailing@hotmail.com
                                                                              REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2007  13
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