Page 18 - Revista da Armada
P. 18
As Tapeçarias de Pastr
Em exposição no Museu
O Desembarque em Arzila – 3,68 (esq.)/3,57 (dir.) X 11,08 (sup.)/11,07 m (inf.) Fotografia © Pol Mayer
Orei D. Afonso V ficou na História de Portugal conhecido com o cognome de O Africano, devido ao seu empenho na
guerra contra os mouros do Norte de África, dando continuidade a um processo que tinha começado com a conquis-
ta de Ceuta em 1415, e fora interrompido depois da malograda tentativa de tomar Tânger em 1437, de que resultou
o martírio do infante D. Fernando, o irmão mais novo da ínclita geração dos filhos de D. João I. Em 1458 – ainda em vida do
infante D. Henrique – foi atacada a fortaleza de Alcácer Ceguer e, em 1471, uma poderosa armada atacou Arzila, que cedeu
em poucos dias, seguindo-se a ocupação de Tânger, abandonada pela guarnição islâmica, com receio de um ataque portu-
guês. Foram três praças fortes, colocadas estrategicamente na costa de acesso ao estreito de Gibraltar, representando três no-
táveis sucessos que, só por si, justificariam o cognome. No entanto, a vida guerreira do terceiro rei da dinastia de Avis não se
resumiu a essas (afinal) duas expedições, levando a cabo sucessivas campanhas, efectuadas a partir de Ceuta ou de Alcácer
Ceguer, numa guerra que recomeçava todos os anos, aparentemente marcada pela supina vontade de combater o islão, numa
altura em que os Otomanos tinham conquistado Constantinopla, avançavam na Europa com grande facilidade e estabeleciam
o seu progressivo domínio no Mediterrâneo Oriental. Sob o ponto de vista religioso, D. Afonso V desenvolvia uma cruzada,
com todos os benefícios que o seu reconhecimento implicava, e criando uma aura de prestígio internacional (e sobretudo ibé-
rico) cujos objectivos se adivinham na forma como veio a disputar o trono de Castela, poucos anos mais tarde.
D. Afonso teve um particular empenho na guerra africana e sentiu-a como a continuidade de algo sublime, iniciado pelo
seu avô, e que ele continuara de forma tão viva e brilhante. Compreende-se, por isso, que tenha querido deixá-lo escrito na
forma própria dos grandes soberanos, registando-o com a grandeza de obras de arte que mandou fazer. São do seu tempo os
“painéis de S. Vicente”, obra-prima atribuída a Nuno Gonçalves, que constitui uma espécie de alegoria da grandiosa missão
portuguesa levada a cabo pelos príncipes de Avis e sua descendência. Ali estão representados os símbolos, as figuras notá-
O Cerco de Arzila – 4,28 (esq.)/4,22 (dir.) X 10,78 m Fotografia © Pol Mayer
18 AGOSTO 2010 • Revista da aRmada