Page 15 - Revista da Armada
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listas – várias conferências de construtores     gy Book, Ernst-Christoph Krackhardt, chair-     A QUESTÃO DAS ESTRATÉGIAS
navais e académicos ligados ao transporte        man do European Marine Equipment Council        DELINEADAS E DO EXERCÍCIO
marítimo no Global Maritime Environmental        (EMEC), defende que, face aos volumes de        DA AUTORIDADE
Congress (GMEC), em Hamburgo, SET2010            carga transportada, o total das emissões dos
– sobre a entrada em vigor daquele novo          navios é relativamente pequena (como se viu,      Há que atentar, ainda, na questão do en-
Anexo e em especial o impacte que terá já        na ordem dos 3%) do total existente, e expo-    quadramento jurídico-institucional do con-
em 2015, que a limitação imposta pela IMO        nencialmente inferior à do transporte rodovi-   trolo de bandeira dos navios. Cerca de 40%
(0,1% de emissão) obrigará a uma diminui-        ário. A dificuldade dos navios operarem em      do transporte marítimo mundial é controlada
ção das emissões actuais na ordem dos 90%        determinados portos onde as exigências e o      por Shipowners que integram a ECSA, saben-
o que se torna absolutamente comportável         rigor são claramente uma prioridade para as     do-se também que mais de metade do mun-
para a indústria, sendo esta uma mudança         entidades reguladoras e as autoridades lo-      do navega sob bandeiras de conveniência ou
abissal que necessitaria de mais tempo para      cais competentes, obriga a que a questão eco-   de registos secundários. E tal facto induz no-
ser implementada. Inclusive porque, dizem        lógica seja, actualmente, mais uma questão      vos elementos de reflexão, designadamente
outros especialistas em energias, estudo de      de eficiência e, portanto, de competitividade.  quanto à capacidade que os Flag States têm
mercados e da oil industry, como Alfons Gui-     É neste contexto que os estudos relativos à     – ou não – em fazer impor aos navios de seu
nier da ECSA e Lisbeth Fromling da Maer-         propulsão híbrida permitem concluir que se      registo as obrigações que recaem sobre pro-
sk Dril., esta imposição vai criar novos tipos   pode poupar até 11,8% do total dos custos       prietários, armadores, carregadores e fretado-
de especulação nos preços do petróleo com        energéticos da operação marítima, e que os      res. Quanto menos convencional for o registo,
consequências directas ao nível do custo do      mecanismos de melhoria ao nível da opera-       e a bandeira, menor é a capacidade de con-
transporte marítimo para fornecedores e des-     ção têm a ver com soluções ao nível da efici-   trolo dos operadores marítimos e, portanto,
tinatários finais dos produtos. 	                ência dos motores, do casco, do design, entre   menor índice de certeza se terá em matéria
                                                 outros elementos.                               de cumprimento de requisitos técnicos das
  Receia-se que tais impactes possam mesmo                                                       convenções da IMO por parte daqueles, au-
vir a mudar o curso preferencial do transpor-      Sustentabilidade aplicada ao shipping, a na-  mentando o risco de danos e prejuízos sobre
te do mar para terra. É por tal envolvente de    vios é, cada vez mais, uma questão de boas      os ecossistemas marinhos.
fundo que existem já estudos e propostas de      práticas, poupança de energia, environmental
alteração da limitação de 0,1% na emissão de     compliance e controlo de emissão de CO2.          AEstratégia do Transporte Marítimo da União
CO2. Sabe-se que está em fase de preparação                                                      Europeia (UE) – UE2018 -, assenta, funda-
uma alteração à Convenção SOLAS em 2012,           Os resultados objectivos de inquéritos pas-   mentalmente, em 4 grandes linhas de acção:
prosseguindo reuniões com a European Mari-       sados à comunidade mercantil demonstram,
time Safety Agengy (EMSA), sendo já público,     claramente, que a emissão-zero (produtos po-      - O enquadramento dos transportes da UE
também, que as indústrias do Báltico pro-        luentes e de CO2) é um conceito algo irrea-     nos mercados globais;
põem à IMO que os limites se devem situar        lista, atendendo a que 69,1% dos inquiridos
ao nível dos 0,5%, proposta esta sustentada,     considera que nunca se chegará a tal objecti-     - Os recursos humanos: seafarers, sea pro-
entre outras entidades, pela European Commu-     vo, existindo, contudo, um outro dado que       fessionals;
nity of Shipowners Association (ECSA).           tem que ser conjugado com aquele: cerca de
                                                 84,2% dos inquiridos entende que a shipping,      - Transporte de qualidade, competitivo,
  Parece claro que se torna necessário equi-     como indústria, ainda não está a desenvol-      mas cumprindo as metas ambientais esta-
librar soluções entre o Transporte e o Ambien-   ver as intervenções suficientes para preservar  belecidas;
te, mantendo-se, como pressuposto, o de-         os Oceanos, o que significa que ainda existe
senvolvimento do shipping como actividade        uma longa evolução a percorrer. Em especial,      - As medidas a tomar devem ser tomadas
competitiva cumprindo, contudo, as metas         o estudo de medidas embrionárias como o         flag neutral, para evitar distorções de compe-
ambientais que lhe são impostas. Embora          passaporte verde para navios, que implica o     titividade;
seja perceptível o quadro profissional, e até    envolvimento e compromisso institucional,
corporativo, em que as justificações e os estu-  contratual até, de Governos, autoridades,         A UE assume, assim, que pretende ser um
dos dos actores do shipping são dados e apre-    construtores, fornecedores e de sociedades      concorrente de topo nos mercados internacio-
sentados – indo ao ponto de considerar que       classificadoras.                                nais, posicionando-se na linha da frente em
apenas em 2025 o limite de emissão de CO2                                                        matéria de reforma ambiental, sem qualquer
imposto pelo Anexo VI da MARPOL deve-              Um dado, ainda, sobre toda esta problemá-     tipo de perda económica em termos de índi-
ria entrar em vigor -, é igualmente certo que    tica em relação aos navios militares.           ces de competitividade designadamente em
numa tal actividade, com tão significativo                                                       relação aos mercados oriental e americano.
impacte universal ao nível financeiro-econó-       A MARPOL exclui, da sua aplicabilidade
mico, industrial, comercial e energético, im-    dogmática e jurídica, os navios de guerra.        A percepção de todo este enquadramento
põem-se decisões sensatas, evitando-se o ex-     Contudo, assiste-se a um movimento gene-        tem que ser clara para as autoridades públi-
tremar de posições. Fala-se, amiúde, em que      ralizado na Europa em que os responsáveis       cas que, nos Estados Costeiros mais expostos
este é um dos casos em que se exigem win-win     das forças navais se comprometem a cumprir      às principais rotas de navegação, reconheçam
solutions, isto é, soluções boas e construtivas  os índices de regulação técnica em matéria      um índice de risco acrescido em relação à
para ambas as partes, actores do shipping e      ambiental, sobretudo ao nível da poluição       eventual ocorrência de incidentes e sinistros
ambientalistas.                                  marítima e da preservação, e depósito, de re-   marítimos que, pela volumetria e capacida-
                                                 síduos poluentes em locais próprios. A título   des dos navios e tonelagem transportada,
  O novo paradigma internacionalmente im-        de exemplo, o Almirante Werner Luders (di-      podem assumir feição de verdadeiras catás-
posto às indústrias marítimas, e ao shipping     rector de armas navais e logística da Marinha   trofes ecológicas de uma dimensão não an-
em especial, é revelador que existe, de facto,   alemã) tornou públicos, recentemente, alguns    tes verificada. Cabe, assim, aos Estados, em
uma nova consciência sobre a preservação         dados que permitem concluir que os meios        âmbito das suas competências de Flag State e
e sustentabilidade ecossistémica do meio         navais da Marinha (no total, 103) cumprem       de Port State, em sede de regulação e de ins-
onde as actividades se desenvolvem e, por-       os requisitos da MARPOL com tanto rigor         pecção, e cumprindo o regime internacional
tanto, de que a indústria tenha que ser mais     como os navios mercantes – separação de re-     estatuído nos artigos 91º a 94º e 217º, e 218º
limpa, mais verde. É o alvor do green shipping,  síduos por tipos de carga e depósito em locais  a 220º e 226º, todos da Convenção das Nações
como princípio regulador, mas essencialmen-      apropriados, controlo de poluição ocasiona-     Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) pro-
te como atitude.                                 da por radares e sonares, e emissões de CO2     mover, respectivamente, intervenções, medi-
                                                 -, defendendo mesmo que em determinados         das e imposições técnicas que garantam uma
  O Green Shipping é, assim, o conceito de       vectores os navios militares são mais greeen    navegação segura. Apenas desta forma teremos
futuro. Ao defender o Green Ship Technolo-       que os demais.                                  mares mais limpos.

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                                                                                                                        Dr. Luís da Costa Diogo

                                                                                                                                           Assessor, DGAM

                                                                                                        REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2010 15
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