Page 18 - Revista da Armada
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No âmbito do 40º aniversário da Revista da Armada, vel no Livro “A Bordo do Navio Chefe”, de Maurício
está patente ao público na CASA DA BALANÇA uma de Oliveira, onde, numa folha inferior a um A4, inseriu
exposição sobre a obra artística do Comandante Sousa com notável mestria toda a Esquadra do Plano Maga-
Machado. lhães Corrêa, de tal forma que se reconhecem todas as
unidades, inclusive, ao longe, a proa do “Sam Brás”!
O Comandante Raul de Sousa Machado e o Capelão Era ainda guarda-marinha…
João Soares Cabeçadas formaram o grupo de oficiais que,
por volta de 1970, começou a trabalhar a ideia de dotar a Também dessa data, num trabalho primoroso a
Marinha de uma publicação que pudesse contribuir para tinta da china, oferecido ao seu camarada Abel de Oli-
reforçar o Espírito de Corpo na Instituição e, ao mesmo veira, desenha o “Afonso de Albuquerque” no salva-
tempo, tivesse carácter informativo. mento de náufragos no Mar dos Açores durante a II
Guerra Mundial.
Coube ao Ministro da Marinha, Almirante Manuel
Pereira Crespo, pôr a ideia em execução, apontando ca- De 1945 é a frondosa árvore de Díli, que servia para
minhos e estabelecendo directivas. amarração dos navios, que pintou da tolda do “Barto-
lomeu Dias” quando chegou a Timor como oficial do
E assim, o Comandante Sousa Machado aparece liga- Aviso “Gonçalves Zarco”, pintura que hoje se encontra
do à Revista desde o seu primeiro número, pois como ele no Museu de Marinha e que constitui uma memória
dizia uma revista tem que ser ilustrada, tem que ter “bonecos” a afectiva para tantos marinheiros.
amenizar-lhe a monotonia da mancha escrita.
Também do mesmo período é a série de postais co-
E é aqui que entra o verdadeiro artista que foi Raul de loridos sobre motivos africanos que executou em Mo-
Sousa Machado, que colabora na Revista não só com os çambique, antes de partir para Timor, e que, de acordo
seus desenhos, mas também com histórias muito bem com o Comandante Saturnino Monteiro, que ofereceu
elaboradas como aquelas em que descreve os seus tem- o conjunto à Revista da Armada, teria sido, quanto se
pos vividos em Angola, nas Terras do Fim do Mundo, sabe, o seu primeiro trabalho remunerado.
ou com adaptações, em que para além do texto execu-
tava primorosamente as ilustrações como em “As Sete Uma pintura representando o Comandante Gui-
Viagens de Sindbad Marinheiro”, de “O Livro das Mil lherme Conceição Silva, ainda jovem, pertence tam-
e Uma Noites”. bém a esta época.
Porém, uma das características mais vincadas naqui- A exposição, não podendo conter tudo o que o
lo que fazia era a forma como expressava a sua enorme Comandante Sousa Machado executou com enorme
Cultura Naval. Pormenor este que só será perfeitamente mestria, apresenta, em grupos, obras muito significa-
apreciado por quem esteja imbuído dessa mesma cultura, tivas, como o conjunto de aguarelas em que figuram
como se pode observar na aguarela em que mostra um marinheiros com os seus uniformes ao longo dos anos
marinheiro a utilizar o prumo na sondagem, no desenho e que executou para o Livro do Centenário do Corpo
do alcache das praças ou na forma correctíssima da laça- de Marinheiros e cujos originais se encontram, hoje, na
da da manta de seda. O mesmo se poderia dizer em rela- Liga dos Combatentes.
ção a mecanismos por ele desenhados, ou então na forma
como ele “altera” a situação para mostrar com mais facili- Também de enorme interesse é a série de ilustra-
dade uma determinada função. ções executada para os Cantos dos Lusíadas da edição
de 1972, comemorativa do 4º Centenário da sua publi-
Não esqueço que conheci o Comandante em finais cação, por encomenda do Ministro da Marinha, Almi-
dos anos 50, como instrutor de armamento portátil na rante Manuel Pereira Crespo, se bem que a caravela
Escola Naval e como ele muitas vezes, para explicitar a da capa já fosse obra dele na edição de 1960, de que se
demonstração, desenhava no quadro um rebatimento, diz, até, ter sido ligeiramente corrigida pelo Almirante
às vezes torcido, ou introduzindo um pequeno truque, Gago Coutinho.
conseguindo assim tornar perfeitamente clara a ideia que
queria transmitir. Depois, quero referir os desenhos sobre instrumen-
tos náuticos que ilustraram o artigo do Comandante
Nesta Exposição é apresentada uma amostra repre- Estácio dos Reis para a Revista “Oceanos”, não só pelo
sentativa da sua obra, não esquecendo que só na Revista rigor na representação desses instrumentos, mas tam-
da Armada ilustrou cerca de mil páginas. bém pela correcção como são utilizados; e ainda para
esta revista um desenho aguarelado sobre o Tratado
Raul de Sousa Machado entrou para a Escola Naval de Tordesilhas, em que a verdade histórica é desenha-
em 1939 e os primeiros trabalhos que se conhecem dele da com enorme dose de humor.
são de 1943. Refiro-me, nomeadamente, a um desdobrá-
18 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA