Page 19 - Revista da Armada
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Da sua experiência enquanto professor da Escola           Pintou retratos como os do Comodoro Cunha Ara-
Naval e da Escola de Artilharia Naval, e dos muitos       gão e do Comandante Oliveira e Carmo, para o Museu
desenhos didácticos que executou para manuais, não        de Marinha, do Conde de S. Vicente, para a Escola Na-
se conseguiram obter nenhuns exemplares até agora,        val e do Comandante Conceição Silva, para o Plane-
e dessa arte fica-nos apenas as suas magníficas ilustra-  tário, para além do par de Bosquímanes que atestam,
ções para os dois livros que escreveu para a Editorial    com enorme mestria, a sua passagem pelas Terras do
Verbo, em que aproveitou os ensinamentos que o bre-       Fim do Mundo e que se apresentam na Exposição.
vet da Aviação Civil lhe proporcionou.
                                                             A nível da Escultura ficaram famosos os bustos de
   Não posso esquecer também a forma como retra-          Henrique Seixas, para a Messe de Cascais, e da Rainha
tou o Cabo Pezinhos, criação do Alm. Malheiro do          D. Amélia, para o Instituto de Socorros a Náufragos,
Vale, mas que durou para além do falecimento deste e      aqui apresentados, mas ainda o Brigadeiro-General
só desapareceu com a morte de Sousa Machado, tal foi      Bartolomeu da Costa, junto do Dique do Arsenal, o Al-
a força do seu traço, que conseguiu conferir à imagem     mirante Manuel Pereira Crespo, em S. João do Estoril,
do cabo a verdadeira imortalidade.                        e os Condes de Barcelona, no Monte Estoril.

   Um conjunto de caricaturas tiradas, quase todas,          São ainda de mencionar o baixo-relevo do
do Álbum do Curso Superior Naval de Guerra de             Museu Marítimo de Macau e, ainda na arte do
1973/1974 mostram bem o traço do artista, que na sua      azulejo, o magnífico painel que se encontra na
própria caricatura assina com um significativo “EU”.      Estação Pol Nato de Ponta Delgada.

   De grande beleza são também as ilustrações que            Na Medalhística são inúmeros os seus trabalhos,
fez para as poesias, na sua maioria da autoria de pes-    executados para muitos cursos da Escola Naval e Ins-
soal civil da Marinha, onde sobressai a simplicidade e    tituições e refiro apenas a moeda comemorativa da re-
a leveza do traço, em conjuntos muito bem consegui-       construção da Fragata D. Fernando II e Glória, a série
dos e em que evidencia uma enorme espiritualidade.        de navegadores aqui apresentados e dos navios classe
                                                          “Vasco da Gama”, o que o levou a executar, também,
   E a graça que apresentam desenhos como o               medalhas para as fragatas da Grécia e da Turquia,
cartaz Anti-tabaco, - não conheço melhor a nível na-      construídas juntamente com as nossas na Alemanha.
cional -, o grumete na “passagem da linha” e o esfor-
ço do marinheiro a introduzir o veleiro numa garrafa.        Foi com imenso prazer que acompanhei o Co-
                                                          mandante Sousa Machado nos seus últimos seis anos
   Vem depois um conjunto, que não é mais do que          na Revista da Armada. Vi-o trabalhar, desenhava
uma amostra das centenas de desenhos que ilustram         com imensa facilidade e segurança, o que, como ele
anedotas, contos e os animais a bordo.                    dizia muitas vezes, era um dom que Deus lhe dera.
                                                          E era mesmo, uma vez que nunca frequentou qual-
   As anedotas, algumas delas roçando o pica-             quer escola de aplicação, para além do contacto com
resco, que faziam a delícia da marinhagem e não           alguns artistas seus amigos. Dava gosto conversar
só, chegaram a ser mal interpretadas por algu-            com ele, era uma pessoa de fino trato que adornava
mas famílias que não estavam de forma alguma              os seus comentários por vezes com alguma ironia.
dentro do espírito de camaradagem que une os
marinheiros.                                                 Foi com imensa satisfação que ele recebeu o grau
                                                          de Comendador da Ordem de Santiago da Espada
   As figuras que ilustraram os contos, para serem        com que o Presidente da República o agraciou em
bem entendidas, têm que ser vistas conjuntamente          2001 e lhe foi entregue em cerimónia solene no Mu-
com os textos, mas expuseram-se aquelas que pela          seu de Marinha, pelo Chefe do Estado-Maior da Ar-
expressão da imagem, por si só, se justificam.            mada Alm. Vieira Matias.

   O mesmo se passa com os animais, em que o                 Foi pena que o título de Pintor de Marinha não lhe
traço do Comandante Sousa Machado fixa as carac-          tivesse sido outorgado em vida. No entanto, para me-
terísticas mais salientes, como o caso do cão Monde-      mória futura ficará certamente o Comandante Raul de
go - descendente um tanto falsificado de cão da Serra da  Sousa Machado como o Pintor de Marinha nº 1.
Estrela, tinha o pêlo preto, emaranhado, crespo…
                                                             E para finalizar fica um desejo, desejo que o Co-
   O que se disse até aqui diz respeito às ilustra-       mandante Sousa Machado me transmitiu numa en-
ções, arte a que o Comandante Sousa Machado de-           trevista que lhe fiz: que toda a sua obra fosse, um dia,
dicou mais tempo como artista e que o consagrou           editada em livro.
como um grande ilustrador. Mas o Comandante
executou praticamente todas as Belas Artes, com              Cabe à Marinha e à Revista da Armada satisfazer
excepção da Arquitectura.                                 esse desejo.

   Na Pintura trabalhou a aguarela, o guache, o                                      LUÍS ROQUE MARTINS
acrílico, o óleo, a gravura de água-forte, o pas-                                                  CALM EMQ
tel, o linóleo, o lápis e a pena.

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