Page 16 - Revista da Armada
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electrónica (à volta de 12 aeronaves) e os enge- banos, ameaçando significativos aglomerados participação de Portugal na OUP foi conside-
nhos aéreos não tripulados (UAV), 10 dos quais de população civil, como se verificou durante o ravelmente discreta.
desempenharam missões de reconhecimento prolongado cerco de Misurata. Só na parte final No entanto, o País esteve representado na
e de ataque. do conflito tal situação se viria a inverter. operação através dos seus militares que pres-
Foram efectuadas aproximadamente 26000 Não negando que a intervenção da Aliança tam serviço no JFC Naples, no MC Naples e
missões aéreas (9500 das quais de ataque), ten- influiu decisivamente no desfecho do conflito, no CAOC 5 (Poggio Renatico), sem esquecer a
do sido atingidos cerca de 6000 alvos. importa ter em conta que os desenvolvimentos presença de um oficial no staff do comandan-
Na componente naval, cerca de 15 navios de ocorridos acabaram por abreviar uma guerra te da SNMG1 (que entre Março e Junho assu-
superfície (TG 455.01), incluindo um navio de que tenderia, inevitavelmente, a arrastar-se e re- miu o comando dos meios navais de superfície
comando e controlo5, 10 escoltadores oceâni- clamar muitas mais vítimas, pois se de um lado – TG 455.01).
cos (fragatas ou destroyers), um reabastecedor havia tropas treinadas e bem equipadas, havia
de esquadra (apenas durante certos períodos) e do outro a vontade de uma significativa maioria
2 ou 3 navios de guerra de minas, asseguraram do povo líbio que dificilmente poderia ser de- CONCLUSÃO
o embargo de armas e a segurança dos portos e movida dos seus intentos. Abstendo-nos de referir no presente texto
das linhas de navegação. Esta componente com- Outra acusação de que a NATO foi alvo foi eventuais motivações de carácter político e
preendia ainda dois submarinos e quatro aero- a de negligenciar – ou mesmo negar – a assis- económico que terão conduzido à interven-
naves de patrulha marítima (MPA) sob o contro- tência no mar a embarcações de emigrantes em ção internacional na crise líbia ou comentar a
lo operacional dos respectivos commander task perigo. Ora, nunca tendo tais acusações sido adequabilidade da solução política resultante
group (CTG 455.05 e CTG 455.06). devidamente provadas, importa referir que por do conflito, podemos concluir que a acção da
Ao nível do embargo, foram interceptados diversas vezes a presença de embarcações so- NATO, exercida com a imparcialidade que as
mais de 3000 navios e abordados perto de 300, brelotadas com emigrantes clandestinos obri- circunstâncias permitiram, constituiu uma res-
11 dos quais foram desviados por te- posta eficaz aos apelos da ONU e às
rem sido considerados potenciais vio- resoluções do Conselho de Seguran-
ladores do embargo. ça, tendo sido, nesse aspecto, total-
No que se refere ao apoio à imple- mente bem sucedida.
mentação da zona de exclusão aérea Sem ignorar o impacto que a inter-
e às acções de protecção das popu- venção aliada teve no decorrer das
lações civis, apenas metade das uni- hostilidades, podemos dizer que o
dades navais estavam autorizadas a sucesso da campanha resultou de três
participar (navios do Reino Unido, da momentos-chave durante o conflito:
França, da Grécia, da Itália e do Ca- 1. A demarcação de uma “zona
nadá). Outro aspecto delicado a ter livre” no Leste do país logo no início
em conta foi o facto de nem todos os da guerra, que permitiu aos rebeldes
estados-membros autorizarem os seus dispor de uma base territorial e man-
navios a actuar dentro das águas ter- Raide aéreo aliado sobre instalações militares nas imediações deTripoli. ter as ligações ao exterior;
ritoriais da Líbia, enquanto no apoio 2. A resistência de Misurata, encla-
de fogos navais contra terra, apenas os ve estratégico na metade do território
navios britânicos e franceses estavam dominada por Kadhaffi, que mante-
autorizados a fazê-lo. ve ocupada uma parte significativa
A capacidade de ataque (basica- do exército regular e criou um pon-
mente através de helicópteros) foi to de pressão relativamente próximo
garantida por duas task forces, uma da capital;
britânica e outra francesa, que foram 3. Os levantamentos ocorridos nas
um verdadeiro multiplicador de força, montanhas de sudoeste, que abriram
embora a sua actuação independente uma nova frente e permitiram o avan-
tenha exigido um esforço de coorde- ço sobre Tripoli.
nação acrescido. A presença destas Para a Aliança Atlântica, o fim da
forças, onde se incluiu o porta-aviões Rebeldes líbios em carros armados improvisados. Este conflito foi guerra, mais do que a escolha do
francês “Charles de Gaulle” e dois por- várias vezes referido como “a guerra das pickups”. vencedor, significou o fim da amea-
ta-helicópteros, permitiu ainda cobrir as lacunas gou a desviar do dispositivo de embargo alguns ça à vida e à segurança das populações civis
da força naval aliada em termos de reabasteci- dos navios aliados, o que causou perturbações da Líbia, a razão primeira e última para o seu
mento do mar (onde também se pôde contar significativas na condução das operações na- envolvimento no conflito.
com o contributo da VI Esquadra dos E.U.A.) e vais. Numa delas, a fragata espanhola “Almi-
reforçar a capacidade de vigilância do espaço rante Don Juan de Borbón” teve de recolher e Jorge Moreira Silva
marítimo, com um submarino e um MPA (este manter embarcados durante vários dias mais CFR
último na modalidade de associated support). de uma centena de náufragos até que, por fim, Agradecimentos
as autoridades tunisinas acedessem a acolhê- Ao CFR Santos Amaral pelos contributos para o
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES -los no seu território. Por outro lado, ficou de-
monstrado, após a queda deTripoli, que alguns presente artigo.
Um dos aspectos mais sensíveis trazidos a “êxodos” de emigrantes eram organizados por Notas
lume durante a operação foi a questão da neu- traficantes a soldo do governo de Kadhaffi para
tralidade, tendo a NATO sido alvo de frequentes 1 Do qual Portugal faz parte, por um período de dois
acusações de uma actuação parcial a favor dos anos, desde 1 de Janeiro de 2011.
rebeldes. De facto, como atrás foi referido, a in- declaradamente causar brechas no embargo e 2 Standing NATO Maritime Group.
tervenção aliada revelou-se, em grande medida, provocar embaraços aos governos ocidentais. 3 Standing NATO Mine Countermeasures Group.
favorável às forças anti-governamentais, mas isso 4 À qual se viriam a juntar o Canadá, a Espanha, a
A PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA Noruega, a Dinamarca e a Itália.
5 Nos primeiros quatro meses da operação o navio-che-
fe da força foi o porta-aviões italiano “Giuseppe Garibaldi”,
deveu-se ao facto de serem, essencialmente, as Como membro da NATO e também do que depois foi rendido pelo navio anfíbio “San Giusto”.
tropas pró-Kadhaffi a recorrer à utilização de ar- Conselho de Segurança da ONU que votou N.R.
mamento pesado contra os grandes centros ur- favoravelmente as resoluções 1970 e 1973, a O autor não adota o novo acordo ortográfico.
16 ABRIL 2012• REVISTA DA ARMADA