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OPERAÇÃO UNIFIED PROTECTOR
A CRISE LÍBIA AWACS (AirborneWarning and Control System) na faixa litoral, que abrangia a maior parte dos
iniciaram órbitas de vigilância e reconhecimento centros urbanos e das infra-estruturas energéti-
Em Fevereiro de 2011, na sequência de várias junto à Líbia, enquanto vários países da Alian- cas (petróleo e gás natural), além de conter cer-
convulsões sociais que abalaram os países ça – entre outros – enviavam navios de guerra ca de 80% da população do país. Naturalmente,
do Norte de África e do Médio Oriente, a para o Mediterrâneo Central. Para a área foram estas operações apoiaram-se, em boa parte, na
população da Líbia iniciou uma série de mani- também deslocadas duas das forças navais per- informação compilada pelas várias plataformas
festações e de protestos contra o regime do Co- manentes da NATO, a SNMG2 1, constituída aéreas e navais deslocadas para a área, muitas
ronel Muhammar Kadhaffi, que se mantinha no por escoltadores oceânicos, e a SNMCMG3 1, das quais ao serviço da NATO.
poder há 42 anos. Os primeiros levantamentos formada por navios de guerra de minas, ambas Uma vez que, desde o início, os Estados Uni-
ocorreram na cidade de Bengazi, onde a oposi- colocadas sob o controlo operacional do Mari- dos tinham manifestado a intenção de ceder o
ção ao Regime tinha mais bases de apoio, e rapi- time Command (MC) Naples. comando da operação, o Conselho doAtlântico
damente alastraram ao resto do país. Mas foi na Mas a primeira resposta veio de uma coliga- Norte (NAC) reuniu para decidir uma possível as-
parte oriental (Cirenaica), compreendendo, além ção formada pelos Estados Unidos, pela França sunção do comando das operações por parte da
de Bengazi, as cidades deTobruk eAjdabya, que e pelo Reino Unido4, que, uma vez legitimado NATO.Estadecisãoencontroualgunsobstáculos,
o movimento revolucionário se conso- pois existia o receio de que o empenho
lidou, com unidades inteiras do exérci- da NATO pudesse suscitar reacções
to a passar para o lado dos revoltosos. adversas no mundo árabe, até então
Ao contrário, porém, do que su- favorável a uma intervenção interna-
cedera nos vizinhos Egipto e Tunísia, cional. Assim sendo, o envolvimento
cujos governos tinham acabado por se aliado efectuou-se de forma gradual,
demitir sem grandes derramamentos começando com o estabelecimento de
de sangue, a repressão levada a cabo um embargo aéreo e naval para travar
pelas forças de Kadhaffi conduziu ao o trânsito de armas e de mercenários
eclodirde uma acesaluta armada.Em- por via aérea ou marítima. Assim se ini-
bora, aquando dos primeiros desen- ciava, a 23 de Março, a operação UNI-
volvimentos, a sobrevivência do seu FIED PROTECTOR, sob o comando
regime parecesse seriamente ameaça- conjunto do JFC Naples e com o MC
da, o ditador líbio resistiu tenazmente Naples e o Air Command (AC) Izmir a
e a sua aviação bombardeou as cida- assumirem, respectivamente, o con-
des ocupadas pelos rebeldes, fazendo trolo operacional dos meios navais e
mais de um milhar de vítimas. Área de operações. aéreos disponibilizados pelos países-
A Comunidade Internacional aca- -membros. Dois dias depois, o Conse-
bou por reagir aos acontecimentos e lho dava luz verde para que a operação
o Conselho de Segurança da ONU1 englobasse a vigilância e a imposição
aprovou a Resolução 1970 de 26 de da zona de exclusão aérea, enquanto
Fevereiro de 2011 decretando san- a Coligação continuava a assegurar
ções económicas contra a Líbia e um a neutralização de alvos militares no
embargo ao tráfico de armas com terreno. Finalmente, a 30 de Março,
aquele país. a Aliança assumia a responsabilidade
A 17 de Março, aquele Conselho por todas as vertentes da operação. Era
aprovou a Resolução 1973, impondo o corolário de todo um mês de intenso
uma zona de exclusão aérea sobre a planeamento em que a estrutura mili-
Líbia e autorizando os seus membros tar aliada respondera com prontidão às
a recorrerem a todas as medidas ne- solicitações originadas ao nível político
cessárias – excluindo a ocupação mi- e mostrara ser capaz de, na altura de-
litar do país – para proteger os civis e O autor, durante um briefing no centro de operações da CJTFUP. vida, colocar as suas forças no terreno.
as zonas populacionais. o caminho para uma intervenção militar, ini- Para comandar a operação foi nomeado o te-
ciou as operações aéreas sobre a Líbia – opera- nente-general Charles Bouchard, da ForçaAérea
ção ODYSSEY DAWN – a partir de 20 de Mar- Canadiana, Deputy Commander do JFC Naples.
A INTERVENÇÃO MILITAR ço (dois dias depois de aprovada a Resolução Até ali tinha sido o Comandante do JFC Naples,
Antes mesmo de a segunda Resolução do 1973). Numa primeira fase, de modo a neutra- almirante Samuel Locklear III a ter sob a sua tu-
Conselho de Segurança ter sido aprovada, já a lizar a ameaça de ataques aéreos contra as po- tela as forças militares da Coligação que susten-
NATO, face ao rápido deteriorar da situação no pulações civis, foi imposta a zona de exclusão taram a operação ODYSSEY DAWN.
terreno, planeava uma possível intervenção. A aérea (que proibia todos os voos não autorizados Desde o início foi difícil o consenso quanto à
4 de Março, após solicitação do Supreme He- pela ONU), a qual incluiu, através de ataques aé- participação dos membros da NATO. Enquanto
adquarters Allied Powers in Europe (SHAPE), o reos e lançamento de mísseis Tomahawk a partir países como a Alemanha e a Polónia optaram
Joint Force Command (JFC) Naples começou a de unidades navais ao largo, a supressão das de- por não participar directamente nas operações
reunir toda a informação disponível sobre a área fesas aéreas líbias (nomeadamente as baterias de (embora tivessem pessoal envolvido nos quar-
das operações e deu início ao processo de pla- mísseis SA-5 e SA-2/3). Seguia-se, pouco depois, téis-generais dos vários comandos aliados), ou-
neamento das três possíveis opções militares da a destruição de alvos militares governamentais tros, como aTurquia e a Espanha, limitaram a sua
Aliança: auxílio humanitário, embargo aerona- que ameaçavam os centros populacionais em participação ao embargo aero-naval.
val e implementação de uma zona de exclusão poder dos rebeldes, nomeadamente as cidades Entre Abril e Junho esteve-se perante um im-
aérea. Ao mesmo tempo, aeronaves E-3A, per- de Misurata, Ajdabya e Bengazi. Refira-se que passe militar, com a guerrilha a dominar, basi-
tencentes ao sistema NATO Airborne Early War- o esforço da coligação, por questões práticas camente a parte Leste do País, tendo a cidade de
ning (NAEW), vulgarmente conhecidos como ligadas à economia de meios, se concentrou Bengazi como base das operações, e as forças
14 ABRIL 2012• REVISTA DA ARMADA