Page 22 - Revista da Armada
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Um dia com…
A Medicina Hiperbárica
Quando disse ao que ia mandaram-me
subir ao átrio onde, marmórea obra-pri- segundo englobando os militares do Serviço de (2011). Estes últimos mais orientados para os
ma, pontifica o Príncipe Real e daí pro- CoordenaçãoTécnica, ou seja os Operadores e acidentes de mergulho (Turismo).
Assistentes de Câmara.
curar o gabinete do Director Clínico do Hospital Mais complexo, o Médico subdivide-se em Tenhamos presente, que, assim, a Armada se
que intuí ser o médico que, com uma colega, vi três Unidades;A Clínica ocupa-se da actividade insere no mundo da investigação científica mé-
ao fundo, no bar e, intuídos, apresentámo-nos, assistencial aos doentes e das Sessões Terapêu- dico-militar, o que certamente contribui para a
diria que informalmente. ticas, a Operacional, dedicada à colaboração elevação da sua imagem, interna e externa e até
No caminho para o Centro de Medicina Su- com a Esquadrilha de Submarinos e os Mer- mesmo internacional, projectando Portugueses
baquática e Hiperbárica, por um trajecto exte- gulhadores, acompanha aquele pessoal da Ar- em congressos como o da Sociedade Europeia
rior, lavámos os olhos no soalheiro estuário do mada, participa em Exercícios e, por ocasião de de Medicina Hiperbárica com a também ex-
Tejo onde, nos idos de 58, entre as indolentes Manobras Navais, embarca médicos. A tercei- pectável motivação dos «novos médicos» cuja
fragatas e a azáfama dos cargueiros fundea- ra é a de Investigação, Formação e Ensino que investigação vem, deste modo, sendo divulgada.
dos, recuperando dum acidente, dali
perscrutava a velha «Sagres» em que, A par, o Centro organizou, em 2001, no Hos-Fotos do autor
ainda uma «estrela», já o meu Curso pital de Marinha uma Reunião Inter-
embarcara. nacional e, em Setembro passado, no
Instalados no gabinete do, aqui, âmbito da NATO, tomou a iniciativa de
Director do Centro de Medicina Su- convocar os centros militares homólo-
baquática e Hiperbárica, centrámo- gos a virem estudar um «Projecto Inter-
-nos no nosso objectivo, o de o dar a nacional de Optimização dos Recursos
conhecer. na Utilização Militar (operacional, de
Submarinos e Mergulhadores, temo- investigação e de cooperação), um tra-
-los há mais de cem anos mas só em balho em rede que, por agora, só en-
1953, fruto da experiência alheia e dos volve seis países europeus.
novos compromissos atlânticos, foi, A Cooperação, uma actividade que
em Portugal, na Esquadrilha de Sub- dignificando as pessoas aproxima os
marinos instalada a primeira Câmara povos, já não é palavra vã porquanto
Hiperbárica, para treinos e recupera- neste mesmo dia se estavam a despedir
ção de acidentes de mergulho que se dois técnicos da Armada Tunisina que
podiam prolongar por um dia e que Armas heráldicas do Centro. tinham vindo estagiar no Centro. No
mesmo espírito, dos PALOP têm vin-
hoje, graças ao uso de oxigénio puro, do doentes ao Centro…
se reduzem a horas. Este primeiro salto, Todas estas actividades consolidam
dado em 1968, permitiu que as sessões a sua imagem e a da instituição Mili-
de terapia começassem a ter a procura tar-Naval nos meios Académicos civis,
dos meios civis. dado que no seio das Forças Armadas,
Isto vem determinar a compra, em desde 1995, está o Centro oficialmen-
1989, de uma nova Câmara, agora te reconhecido como um seu SUC
destinada ao Hospital de Marinha onde (Seviço de Utilização Comum), curio-
é então criado o Centro de Medicina samente, dois anos depois de ter sido
Hiperbárica, já a pensar em casos mais incluído na listagem de duas Socieda-
complicados ou pacientes mais debili- des Médicas internacionais.
tados que necessitassem de uma assis- Em apoio ao Centro foi ainda criado
tência diferenciada e/ou prolongada. um corpo clínico e médico-cirúrgico
A par de uma crescente credibili- Ouvindo o Director. que sendo externo ao Centro colabora
intimamente nas suas actividades em
dade clínica internacional há, entre nós, um portanto o mantém na vanguarda e simultanea-
progresso manifesto no reconhecimento das mente dinamiza a estrutura que suporta o todo. situações de Urgência, perfeitamente defini-
suas potencialidades terapêuticas que se traduz No passado ano de 2011, a Medicina Hiper- das, e de Rotina, internacionalmente reguladas.
numa maior afluência que impõe, em 2001, a bárica foi reconhecida, pela Ordem dos Médi-
compra de uma segunda Câmara, conectada à cos, como uma «competência» médica. Dentre as Urgências destacam-se, no Inver-
existente, permitindo receber um maior número Em resposta à procura tem vindo a activida- no, as intoxicações por óxido de carbono (CO),
de utentes, oferecendo mais eficácia nos resul- de num crescendo que se cifra, desde 1989, em cerca de 120 casos por ano, com frequentes
tados e, nova mais-valia, a aceitação de doentes cerca de 135.000 sessões, atingindo, no passa- chamadas nocturnas e atingindo mais frequen-
em maca ou mesmo na situação de ventilados. do ano, a bonita média de mil sessões por mês, temente um estrato social de fracos recursos.
Claro que a componente operacional englo- fruto das consultas a doentes encaminhados de
bando os testes de admissão, de inspecção ou Hospitais e de médicos civis (98% do total) em Acompanham este rol os acidentes de mer-
mesmo de promoção de Mergulhadores perma- função de exames protocolados para efeitos de gulho, as embolias gasosas e a surdez súbita!
nece a sua razão de ser militar-naval mas, agora, avaliação e futura decisão.
aberto também a mergulhadores civis. Note-se que o incremento desta área médica Quanto a tratamentos considerados de rotina
Em Setembro de 2009, o Centro adopta a ac- determinou, na sequência, a abertura de Centros temos os pés diabéticos, as úlceras crónicas de-
tual designação e torna-se autónomo do Hospi- idênticos, em 2006, em Matosinhos, no Hospi- correntes de problemas de circulação, a surdez
tal de Marinha e desdobra-se por três Departa- tal Pedro Hispano, o que foi, com o nome de súbita (na sua continuação) e nos foros oncoló-
mentos; oAdministrativo, oTécnico e o Médico. João XXI, o único Papa português1, no Funchal gico as lesões, com sangramento, decorrentes
O primeiro com as suas funções clássicas e o (2007), em Ponta Delgada (2010) e na Horta da Cistite ou da Colite Rádicas e no infeccioló-
gico as infecções originadas por agentes anaeró-
bios.Também em processos regenerativos ace-
lerando a reparação e cicatrização e certamente
não estaremos a esgotar o cardápio actual que,
22 ABRIL 2012 • REVISTA DA ARMADA