Page 19 - Revista da Armada
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OS CONCERTOS DA BANDA                          que se abateu na costa galega, começando
                                               com alegre despertar das Rias, seguido pela
  Um dos momentos mais significativos          aflição do navio que se perde entre as vagas
das comemorações do Dia da Marinha é           alterosas da procela, da visão fantasmagórica
sempre a actuação da Banda da Armada           do crude a dar à praia, e do esforço conjunto
que se tem feito sempre em dois concertos      para limpar as praias e repor o equilíbrio eco-
com características diferentes. Este ano não   lógico. Seguir-se-ia um breve intervalo, antes
foi excepção e a Banda fez a sua primeira      da supra referenciada entrega formal da me-
apresentação no dia 18, num concerto diri-     dalha de ouro da cidade de Almada à Mari-
gido pelo maestro 1TEN MUS Délio Coelho        nha Portuguesa, representada na pessoa do
Gonçalves, realizado ao ar livre e oferecido   Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada.
à população de Almada, na Praça S. João
Baptista. O programa era simples mas mui-        A segunda parte começou com Sabic Sym-
to agradável e equilibrado, com duas partes    phonic March do compositor belga BertApper-
em que foram apresentadas oito peças mu-       mont, a que se seguiu Incantation and Dance,
sicais, terminando com um encore muito         de John Barnes Chance, que contou com a
popular da autoria do malogrado composi-       apresentação da Companhia de Dança de Al-
tor português João Aguardela. O Almirante      mada, numa iniciativa que se revelou extraor-
Chefe do Estado-Maior da Armada assistiu       dinária. E a simbiose da Banda com o bailado
ao concerto, na companhia da Presidente        culminou com a apresentação da peça, Here’s
da Câmara Municipal de Almada e, apesar        looking at you, da autoria de Ernie. A arte do
das péssimas condições atmosféricas para       saxofonista 1SAR B Vítor Manuel e da baila-
um espectáculo ao ar livre, o público acor-    rina Beatriz Rousseau levou-nos por mundo
reu em grande número. Mais de um milhar        onírico de um encantador de serpentes, onde
de pessoas foram-se abrigando, como po-        a delícia de cada instante só é perturbada pelo
diam, pelas esplanadas circundantes sem        receio de que chegue o fim. Foi um momento
arredarem pé, e a assistência correspon-       raro de beleza, conseguido durante o Concer-
deu sobretudo à interpretação do encore        to do Dia da Marinha. Seguiu-se Bulgariscer
“Esta vida de marinheiro”, com arranjo de      Tanz do compositor búlgaro Zbysek Bittmar
Jorge Salgueiro.                               e, finalmente, o clássico de Leonard Bernstein
                                               bem conhecido de todos. Quatro momentos
  No dia 19 de Maio, pelas 22h00, teve lu-     de West Side Story foram adaptados para a
gar no Teatro Municipal de Almada o habi-      banda pelo maestro 1TEN MUS Délio Gon-
tual concerto de gala do Dia da Marinha, a     çalves, interpretados com uma coreografia de
que assistiu o Almirante Saldanha Lopes, a     Nuno Gomes. Bernstein foi o mágico dos má-
D. Maria Emília Neto de Sousa e numero-        gicos, aquele que nos ensinou a ouvir música,
sas entidades, civis e militares, convidadas.  dizendo-nos com a simplicidade dos mestres
O programa foi organizado em duas partes,      que ela tinha uma linguagem inteligível. E West
com três interpretações na primeira e cinco    Side Story é a obra magna de um magno com-
na segunda, contando com a participação        positor, aqui adaptada pelo talento do nosso
da Companhia de Dança de Almada, com           maestro. A Banda terminava a sua actuação
coreografias de Nuno Gomes e ensaios de        de forma exuberante, mas o público queria
Maria João Lopes. Abriu o espectáculo a        mais. Faltava um encore ao nível do resto do
interpretação de Azerbaijan Capriccio, do      espectáculo e ele veio com Conga del Fuego
compositor azerbaijano Fikret Amirov. Os       de Arturo Marquez. O espectáculo terminou
capriccio (ou capricci) são peças musicais     com a Marcha dos Marinheiros.
de absoluta liberdade estrutural, que permi-
tem a demonstração de virtuosismos execu-      O DIA 20 DE MAIO
tórios específicos, e este não foge à regra,
muito intenso e forte, foi uma excelente         As festividades do Dia da Marinha 2012 ti-
abertura para o nosso concerto. Seguiu-se      veram o seu momento mais alto no domingo,
o delírio de emoções da Dance Funabules-       dia 20 de Maio, data em que, no longínquo
que, de Jules Strens, e Maré Negra do com-     século XV, os navios de Vasco da Gama, pela
positor galego Antón Alcalde Rodriguez. A      primeira vez, contactaram com as gentes de
última obra foi elaborada na sequência do      Calecut. E, como tem sido habitual, o dia co-
naufrágio do navio Prestige e do derrame       meça com a missa de sufrágio pelos militares,
petrolífero que provocou a maré negra nas      militarizados e civis da Marinha já falecidos.
Rías Baixas. Os seus quatro andamentos são     A celebração teve lugar, pelas 10h00, na igreja
quatro momentos sucessivos da tragédia         paroquial de Nossa Senhora da Assunção, em

                                                                                                Foto Júlio Tito

                                               REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2012 19
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