Page 14 - Revista da Armada
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Verde, onde houve necessidade de interromper deslocar,porváriasvezes,umnavioaCartagena, de coesão interna durante a história dos subma-
a carga da bateria, por várias vezes. Nas águas para embarque setorial de submarinistas espa- rinos em Portugal, só conheço a que se viveu
frias do Atlântico Norte, a bateria tinha o seu me- nhóis, para treinarem com o navio em imersão. durante o PREC. Desagrada referir, mas importa
lhor desempenho. O reconhecimento espanhol, que foi inúmeras não esquecer.
Durante a minha frequência do Curso de vezes apresentado, assumiu particular importân-
Comandantes em Inglaterra, muitas vezes me cia quando finalizaram o seu sistema de simu- Enquanto se assistia à discussão da aquisição
foram pedidos esclarecimentos sobre o grau de lação em Cartagena. Coube, então, a vez aos ou não de novos submarinos, diversos governos
confiança que merecia o sistema hidráulico de submarinistas portugueses serem apoiados. faziam aquilo que os políticos melhor sabem
alimentação dos lemes horizontais de ré. Tais Julgamos que a ausência de simuladores para fazer, prometer sem se comprometerem. Este
perguntas demonstravam o conhecimento que o treino dos submarinistas, assumiu maior im- nó cego foi, finalmente, desfeito por alguém de
tinham do sistema e, segundo a sua opinião, não portância com a operação dos Albacora, do invulgar coragem, tendo o contrato da constru-
eram equivalentes a sistemas mais protegidos na que a que tivera em relação às esquadrilhas ção de dois submarinos sido assinado com um
resistência a explosões submarinas. Ainda bem anteriores, devido à sofisticação dos navios e à consórcio alemão no dia 21 de abril de 2004.
que não foram desfeitas as dúvidas existentes presença de elevado número de sensores. Pena
quanto a esta eventual limitação. Os submarinos Tridente e Arpão, construídos
De ordem mais positiva, importa no seguimento da assinatura daquele contrato,
sublinhar que, no meu ponto de
vista pessoal, estes navios eram englobam o melhor que o desen-
significativamente mais seguros volvimento da tecnologia, apli-
em imersão do que os submarinos cada ao mundo dos submarinos,
da esquadrilha anterior, apesar dos conheceu nos últimos quarenta
acidentes que se verificaram na anos, mas, como sempre aconte-
Marinha Francesa, mas que não ti- ceu anteriormente, os submarinis-
veram réplica nas outras Marinhas tas portugueses receberam e estão
que adquiriram navios da classe a operar os navios com eficiência.
Daphné. Submarino Neptuno da 3ª Esquadrilha.
De um modo assaz simplista,
Os navios desta esquadrilha estabeleceram foi, também, não se terem feito as atualizações além de outras notáveis melhorias
valores nunca igualados por qualquer dos seus muito importantes, especialmente ao nível dos tecnológicas de que estes novos
congéneres anteriores, não só nas já menciona- sensores, que outras Marinhas realizaram nesta submarinos estão equipados, sa-
das horas de imersão, mas em milhas percorri- classe de submarinos. liento duas, como diferenças mais significativas
das, em tempo fora da Base Naval de Lisboa e Antes de prosseguir, quero expressar a minha em relação aos Albacora. São elas, a capacidade
no tempo ao serviço de Portugal. opinião de que os submarinos da classe Alba- conferida pela AIP (Air Independent Propulsion),
Os mais de quarenta anos de operação dos cora fizeram parte integrante da melhor e maior de se manter em imersão por períodos muito di-
submarinos da classe Albacora, diz bem do Marinha que Portugal jamais teve à sua disposi- latados de tempo sem ter necessidade de come-
serviço de abastecimento de sobressalentes esta- ção e que, esta situação, se me afigura irrepetível. ter qualquer indiscrição, e a capacidade militar
belecido com a Marinha Francesa, e sobretudo, No começo da década de noventa do século resultante dos novos torpedos e mísseis.
o apoio desenhado pela Marinha Portuguesa, vinte, a Marinha iniciou uma notável ação de Não resisto a afirmar que com estes submari-
quer utilizando o pessoal dos navios e da nos o futuro está aqui. Frase estranha, mas que
Esquadrilha de Submarinos, com especial substancia a esperança que temos de que a pre-
relevância para aquele levado a cabo sença dos submarinos na Marinha Portuguesa
pelo Arsenal do Alfeite, com a inigualá- possa resistir a condicionalismos, como
vel colaboração, eficiência e saber da IRS os de feição negativa gerados pelos arri-
(Inspeção de Reparação de Submarinos). vistas políticos.
Pena foi que o atraso no desenho do apoio Ao terminar, entendo explicar porque
nas grandes intervenções tivesse levado à só referi nominalmente duas pessoas, os
venda do Cachalote. Recebi o Albacora dois principais decisores da aquisição dos
e o Cachalote como imediato, pelo que primeiros submarinos. Entendi seguir este
a decisão da venda do Cachalote me foi procedimento em homenagem a todos
particularmente dolorosa. os oficiais, sargentos e praças que servi-
Quando se discutem fatores de entendi- ram nos submarinos durante cem anos e
mento ou de cooperação entre Marinhas, nunca viram os seus nomes perpetuados.
como a referida com a Marinha Francesa, Confesso que tive a tentação de corrigir
não se pode esquecer o especial relacio- 2 submarinos da 4ª Esquadrilha. ou acrescentar factos novos à abordagem
de ações realizadas pelos submarinos,
namento com a Marinha Espanhola que, num sensibilização do poder político, da estrutura conforme descritas nalgumas publica-
primeiro tempo, requereu uma maior dinâmica militar e da população portuguesa, para a im- ções, mas resolvi deixar o assunto em sos-
do lado português para, mais tarde, a ação caber portância da continuação da capacidade sub- sego, mesmo quando em detrimento de outros,
ao lado espanhol. Como é sabido, a Espanha marina ao dispor de Portugal. As reações contra porventura de maior significado.
decidiu construir submarinos da classe Daphné, e a favor da aquisição de novos submarinos, Servir nos submarinos é um desafio profissio-
que entraram ao serviço alguns anos depois dos ainda hoje presentes na sociedade portuguesa, nal e psicológico que transcende a sua própria
portugueses, pelo que fazia todo o sentido apro- que poderiam servir de base a uma tese de dou- operação, pois há que contar com as incertezas
veitarem a nossa experiência, apesar do apoio toramento, não vão ser objeto do meu comen- inerentes a opções de continuidade da exis-
que lhes era prestado pela Marinha Francesa. tário, apesar de ser de elementar justiça salientar tência de submarinos na nossa Marinha. Se
Assim, algum pessoal da Marinha Espanhola o comportamento da Marinha e da Esquadrilha esse desafio foi ultrapassado por todos os que
frequentou o nosso curso de navegação sub- de Submarinos perante a “gritaria” mediática, serviram os submarinos nos últimos cem anos,
marina, sendo importante salientar os laços de por vezes de contornos ofensivos. A Marinha estamos seguros que todos os vindouros farão
amizade que foram estabelecidos, quer ao nível esclarecendo quando oportuno, a Esquadrilha tanto ou melhor.
pessoal, quer ainda no plano institucional, que prosseguindo na operação dos submarinos que Até à vista no ano 2113.
se prolongaram no tempo. Mas o apoio da Mari- ainda restavam, com profissionalismo elevado
nha Portuguesa teve muito maior significado, ao e sem quebra de qualquer coesão interna. Falta Narciso Augusto do Carmo Duro
VALM
14 ABRIL 2013 • REVISTA DA ARMADA