Page 13 - Revista da Armada
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clima político no estrangeiro não era facilitador Voltando um pouco atrás para analisar a di- BarracudaregressouaLisboa,ondelevouacabo
do fornecimento de armamento a Portugal. nâmica desenvolvida pelos submarinistas ou várias ações de formação baseadas nos conheci-
Até que, sem que houvesse qualquer conhe- pela Marinha, como se queira, para enfrentar o mentos adquiridos em Toulon.
cimento prévio de negociações internacionais desafio da receção e operação dos submarinos A descrição do modo como decorreram as
para a substituição dos navios então existentes, da classe Albacora. provas do Albacora, justificaria um artigo pró-
soubemos que, no dia 24 de setembro de 1964, De imediato houve que aumentar o número prio, diligencia que não vamos incluir neste
tinha sido assinado um contrato com o governo de especializandos. Neste capítulo, acentuou- documento.
francês para a aquisição de quatro submarinos -se a tendência, que se verificava há algum tem- Tal como estabelecido contratualmente, as
da versão mais recente da classe Daphné, que po, da falta de voluntários para o preenchimen- provas destes submarinos teriam a intervenção
na Marinha Portuguesa receberam os nomes to do total de vagas para a frequência do curso de três entidades; meios humanos da Marinha
de Albacora, Barracuda, Cachalote e Delfim. de navegação submarina. Em simultâneo, com Portuguesa, meios humanos e materiais da Ma-
Esta decisão, que constituiu um notável in- a colaboração dos oficiais da esquadrilha, orga- rinha Francesa e meios humanos e materiais do
centivo profissional e psicológico para os sub- nizaram-se cursos de francês. estaleiro e dos seus subcontratantes. Como o
marinistas, assumia uma importância Albacora foi, de certo modo, a cobaia
de grau bem mais acrescido, quando da afinação deste sistema, chegou a
se equaciona a guerra em África. Lisboa com quatro meses de atraso em
Os navios da classe Albacora, como relação à data inicialmente prevista e
vieram a ser designados na Marinha Por- com algumas limitações que só foram
tuguesa, foram os primeiros a fazer jus à resolvidas quando efetuou a 1ª grande
designação de submarinos. Estes navios, imobilização em Toulon, alguns anos
desenvolvidos após a 2ª Guerra Mun- mais tarde. As provas dos Barracuda,
dial, integravam os ensinamentos tecno- Cachalote e Delfim decorreram com
lógicos resultantes daquela guerra pelo perfeita normalidade.
que, à Marinha Portuguesa, foi requeri- Depois da chegada a Lisboa, as guar-
do que passasse rapidamente de navios nições foram confrontadas com desa-
concebidos nos anos 30 para conceitos fios que tornaram difícil um período de
do final dos anos 50. Alguns comandantes e oficiais da 1ª esquadrilha: da esquerda para a treino próprio, de âmbito da segurança
direita, Fernando Moreira Pinto, Flávio Costa, Manuel Luiz Bastos, Eduardo e operacional, que se queria pausado,
Sem querer ser exaustivo, aponto al- Scarlatti, José Alegria, Ferreira de Oliveira, Henrique dos Santos Tenreiro, de resultados analisados e uniforme
guns meios de que os novos navios vi- Celestino Martinho dos Ramos e Castro Junior. para todos os navios. Ao contrário, as
nham equipados, especialmente para
salientar diferenças em relação àqueles navios À medida que foram recebidos os manuais, guarnições tiveram de aprofundar os conhe-
que vinham substituir. Os Albacora, ao nível quer da plataforma, quer dos equipamentos, cimentos adquiridos durante as provas, em
da plataforma e propulsão, podiam operar mili- iniciou-se a disseminação dos conhecimentos conjunto com a preparação de novos submari-
tarmente até 300 metros e possuíam propulsão neles vertidos, mesmo sem nunca ter sido “vis- nistas, a cooperação no treino dos navios de su-
diesel-elétrica conjugada com o snorkel. Como to” qualquer submarino ou equipamento, pela perfície da nossa Marinha e a participação em
equipamentos de emprego tático e/ou de nave- quase totalidade dos instrutores e dos alunos. Em exercícios internacionais, não contando com
gação, possuíam radar, sonar, detetor de emis- 1965, tinham embarcado num Daphné dois ofi- idas a Toulon para finalização de avaliações de
sões radar, medidor de distâncias utilizando ciais e dois sargentos, durante cinco dias. equipamentos, ainda no âmbito contratual.
os sons gerados pelos alvos, batitermógrafo, Este sistema caseiro de instrução assumiu um De qualquer modo, de imediato a operação
telefones submarinos e grupos microfónicos caráter de objetividade, com a partida para Tou- dos novos navios nada teve a ver com os seus
de deteção sonora. Importa acrescentar que as lon, no dia 1 de janeiro de 1967, de núcleos da antecessores, isto é, e contado de um modo
informações originadas nestes simples, quando se saía para
equipamentos eram conjuga- o mar, era mantida a estadia
das e analisadas na mesa de no mar, em imersão, de dia e
plotting e no equipamento que de noite, até o final da missão
traçava a curva dos azimutes que tinha sido estabelecida.
dos alvos em observação. Os Ficaram, assim, para trás li-
“N”s podiam operar até 100 mitações que decorriam das
metros, tinham de vir à super- características dos navios da
fície para carregar as baterias e classe anterior. Como seria de
tinham um sonar de reduzido esperar, as horas de imersão
fator de mérito e nada mais, a Submarino Delfim da 2ª Esquadrilha. assumiram valores recorde
não ser o tal radar no Náutilo. guarnição do Albacora e do Barracuda, com a em relação a situações do passado.
No capítulo de armas, os Albacora tinham finalidade de todos frequentarem um curso de O melhor conhecimento dos navios permitiu
doze tubos lança-torpedos, sem torpedos de formação nos novos submarinos, complemen- equacionar, com profundidade, as suas caracte-
reserva. Os Narval tinham seis tubos lança- tado com treino de lemes horizontais às praças rísticas operacionais, considerando os eventuais
-torpedos com reservas. Havia diferenças na desses núcleos. teatros de operações, não só os que decorriam
sofisticação dos torpedos, nas duas classes, e A referência ao treino de lemes destinados às dos interesses nacionais e naqueles que a NATO
no método de lançamento. Torpedos elétricos praças, que não mereceria atenção particular poderia vir a solicitar a nossa intervenção.
nos Albacora, com introdução dos dados de noutras condições, aqui tem especial significa- Segundo a minha opinião, a principal limita-
tiro até ao momento do lançamento, versus do, pois os lemes horizontais, que nos “N”s eram ção dos submarinos da classe Daphné residia
steam torpedoes nos Narval com pré-intro- guarnecidos por sargentos, passariam a ser ope- na menor capacidade da sua bateria. A gestão
dução de dados sem possibilidade de altera- rados por praças, nos novos navios. Tudo tinha a da bateria requeria especial cuidado quando em
ção no momento de tiro. Como curiosidade, ver com as diferenças das durações de tempos trânsito em imersão ou mesmo, em patrulha de
refira-se que o cruzador Belgrano, da Marinha de imersão, entre as duas classes de navios. área, tendo como referência o menor fator de
Argentina, foi afundado durante a Guerra das Uma vez concluído o curso em Toulon, o nú- indiscrição aceitável. Além disso, a bateria atin-
Falklands por um torpedo igual ao que equi- cleo da guarnição do Albacora, destacou para gia elevados valores de temperatura quando o
pava os submarinos da 3ª Esquadrilha, lança- Nantes, para se familiarizar com o navio, tendo navio operava em águas mais quentes, como se
do por um submarino nuclear inglês. em vista a sua receção e provas. O núcleo do demonstrou durante a ida do Albacora a Cabo
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