Page 12 - Revista da Armada
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submarinos foi muito rápida, tendo a entrega de disponibilidade financeira para um programa de e a sua chegada a Lisboa, após um curto período
todos os navios sido feita até fevereiro de 1935. construçãopróprio,foiacordadoadquirirtrêsna- de treinos e experiências, decorrido entre agosto
Estes navios apresentavam notáveis melhorias vios da classe “S” inglesa. Como mera curiosida- e dezembro de 1948.
em relação aos anteriores submarinos. Em pri- de, esta solução foi referida, na altura, como de Resulta evidente que os submarinos da 3ª Es-
meirolugarerammuito“maisnavio”,passeaex- emergência! Bem sabemos quantos anos estes quadrilha eram navios praticamente obsoletos
pressão. Maior deslocamento, maior autonomia navios serviram Portugal. quando foram adquiridos. Como base desta
e melhor comportamento à superfície, permitia A Inglaterra concebeu e iniciou a construção afirmação basta atentar nos avanços da guerra
a sua utilização em qualquer ponto de interesse dos submarinos da classe “S” no começo da ASW, durante o conflito que tinha terminado ha-
nacional, em especial nos territórios africanos. década de 30 do século passado. Tinham como via pouco tempo. Não quer isto dizer que discor-
Em segundo lugar eram muito “mais subma- desígnio operacional a patrulha das águas res- demos da sua compra, pois por serem de cons-
rino”. Maior cota de imersão máxima, menos tritas do Mar do Norte e do Mediterrâneo. Esta trução muito mais recente daqueles que vinham
tempo para entrar em imersão, mais tubos lança- classe conheceu alterações apreciáveis durante substituir, permitiram prolongar por mais tempo,
-torpedos, melhores torpedos, melhores periscó- os quinze anos que se manteve em construção. a sempre ameaçada existência de submarinos
pios, melhores motores e, ainda, uma peça em Portugal. Acresce afirmar que, à data,
de artilharia. Numa palavra, eram navios ainda não estavam em construção navios
que integravam os ensinamentos colhidos que integrassem as tecnologias desenvol-
durante a Primeira Guerra. vidas, principalmente pela Alemanha, na
Desde a sua receção e até ao começo da parte final da 2ª Guerra. Também sabemos
Segunda Guerra, estes navios foram sujeitos que esses desenvolvimentos levaram algu-
a uma apreciável atividade operacional, mas marinhas a alterar alguns submarinos
com emprego costeiro e oceânico, com existentes, embora os resultados plenos só
visita a portos nunca considerados como fossem atingidos com o desenho de novos
passíveis de visita pelos seus antecessores. tipos de submarinos. A única alteração
A análise, a posteriori, da operacionalida- que Portugal realizou nos submarinos do
de dos navios, parece indicar que se estava tipo “N” limitou-se à instalação de um ra-
no bom caminho para ser possível dar um dar no Náutilo.
passo no desenvolvimento de conceitos Motor Fiat-Laurenti do Espadarte, provavelmente o primeiro motor Pouco tempo após a integração dos
operacionais adaptados aos interesses por- Diesel que entrou em Portugal. “N”s na Marinha, Portugal entrou na
tugueses. Conceitos operacionais que poderiam O Narval, o Náutilo e o Neptuno, como vieram NATO. A adesão de Portugal à NATO trouxe
ser cimentados com estadias demoradas nas co- a ser denominados os navios da 3º Esquadrilha, à Marinha um grau de conhecimento doutriná-
lónias africanas. faziam parte do chamado terceiro grupo, tendo rio e de operacionalidade, sobretudo na guerra
O eclodir da Segunda Guerra Mundial veio os navios deste grupo maior deslocamento e ASW e de Minas, que ultrapassava, de longe,
condicionar brutalmente a operacionalidade armamento mais significativo. Estas alterações qualquer expetativa anterior.
dos navios desta esquadrilha. Durante o decor- permitiram que as áreas de atuação inicialmente Estes submarinos, além da preparação das
rer das hostilidades, os navios não mais empre- previstas fossem expandidas, tendo-se conheci- guarnições e do treino próprio, foram chama-
enderam viagens equivalentes às que vinham mento que o Narval operou no estreito de Mala- dos a colaborar, com continuidade, no treino
realizando e os exercícios concluídos tiveram ca, onde teria afundado onze juncos. Todos estes ASW das unidades de superfície portuguesas e
pouca expressão operacional. Perderam-se, as- navios foram lançados à água em 1944 e 1945. de outros Países da Aliança. Apesar de muito
sim, cinco preciosos anos de vida dos subma- Quando comparados com os navios da 2ª Es- daquele treino ter uma componente passiva,
rinos. Certamente que as guarnições também quadrilha, resta evidente que os navios da classe também coube aos submarinos alguma in-
terão sofrido algo no seu incentivo psicológico. “S” inglesa, ou “N” portuguesa, como se queira tervenção mais ativa, quando os exercícios
Imediatamente a seguir ao fi- operacionais assumiam maior
nal da Guerra e até ser decidida complexidade, isto é, excediam
a substituição destes navios, fo- o mero treino básico dos navios
ram realizados vários exercícios de superfície. Tal como acon-
de treino próprio e de navios de teceu com as unidades de su-
superfície, que tiveram um cará- perfície, também o pessoal dos
ter de rotina, tanto na frequência submarinos adquiriu novos co-
temporal, como nos fins a atingir. nhecimentos operacionais, em
Antes de abordar a aquisição especial, mediante acesso a no-
dos substitutos dos submarinos vas publicações especializadas,
agora analisados, importa referir Desenho em corte de um submersível Tipo Foca. embarques em navios da NATO
que em abril de 1940, com a transferência da designar, eram em tudo semelhantes. Desloca- e, ainda, os decorrentes da análise dos resulta-
estação de terra e dos navios de Belém para o mento equivalente, mesmo número de tubos dos operacionais de exercícios mais avançados
Alfeite, houve a possibilidade de, pela primeira lança torpedos, mesma cota máxima de imer- onde colaboraram.
vez, se dispor de instalações dignas e eficazes, de são, uma peça de artilharia, etc. Além disso, não Esta esquadrilha teve um grau de operaciona-
um cais privativo e do apoio próximo e credível vinham equipados com qualquer nova tecnolo- lidade que excedeu, em muito, o realizado pe-
de um arsenal. gia de ponta. los navios das esquadrilhas que a precederam.
No entanto, considero que ao não incluir, na Pela forma rápida como decorreu a receção Mas, tal como estes, a taxa de imersão, tendo
construção da nova estação de terra, um edifício dos navios, somos levados a concluir que a ope- em conta as horas de navegação e/ou as horas
totalmente dedicado à simulação, nesta altura na ração destes submarinos, por parte das guarni- fora da BNL, tinha expressão reduzida.
sua forma mais restrita, como era um “mestre de ções, não apresentou problemas de maior. Con- Com o dealbar dos anos sessenta do século
ataques”, constituiu uma limitação que nunca vém recordar que a encomenda dos navios da passado, o clima que se vivia na Esquadrilha
foi corrigida. Não foi corrigida quando Portugal 2ª Esquadrilha, em 1933, foi praticamente coin- assentava na esperança da substituição dos
entrou na Nato, nem mesmo quando da aquisi- cidente com o início da construção do primeiro navios. Por experiência própria devo confessar
ção dos submarinos da classe Albacora. grupo da classe “S” inglesa. que a esperança era muito reduzida, quer por-
Após o final da Segunda Guerra, a Marinha De qualquer modo, durante o ano de 1947 que sabíamos que meios financeiros significati-
começou a equacionar a substituição dos sub- teve lugar a inspeção dos navios a adquirir, tendo vos à disposição de Portugal estavam a ser utili-
marinos da 2ª Esquadrilha mas, como não havia a entrega dos submarinos à Marinha Portuguesa zados na guerra em África, quer ainda porque o
12 ABRIL 2013 • REVISTA DA ARMADA