Page 11 - Revista da Armada
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ticos considerar que o contrato terá sido deficien- rino costeiro. Assim, um submarino costeiro se- perdeu a denominada “Revolução Industrial”.
te. Quem fizer a sua leitura concluirá que se está ria utilizado em patrulha de portos importantes, Até ao fim da Primeira Guerra estes navios tive-
perante um contrato extremamente cuidadoso e evitando ataques contra esses portos e, por outro ram alguma atividade condizente com o concei-
profundo.                                      lado, atacando os navios que procurassem blo- to do emprego operacional de submarinos cos-
Não foi só Portugal que foi cativado pelos sub- quear os portos. Embora adiantando um pouco teiros. Assim, fizeram patrulhas defensivas junto
marinos italianos. Os Estados Unidos e a Ingla- a cronologia, desde já se menciona que, durante à Barra do Porto de Lisboa, não se conhecendo
terra construíram alguns submarinos segundo a Primeira Guerra, os submarinos costeiros em qualquer intervenção digna de referência.
planos italianos, embora a experiência fosse missões defensivas não foram tão importantes Durante a Primeira Guerra Mundial a capaci-
descontinuada devido ao insucesso dos navios. como se esperava, porque os bloqueios junto dade técnica e operacional dos submarinos co-
Ao contrário, Portugal tinha uma arma nova e, aos portos, de um modo geral, não foram rea- nheceu uma evolução extraordinária. No final
sem olhar a delongas, havia que percorrer um lizados por navios de superfície e os ataques da Guerra os navios eram muito mais fiáveis,
longo caminho até a tornar militarmente eficaz. costeiros foram demasiado rápidos para serem com melhores condições de habitabilidade,
A guarnição do Espadarte enfrentou dois desa- interceptados por submarinos tão lentos.  maior autonomia e melhor estabilidade mas,
fios quando chegou a Lisboa. O primeiro, e                                                                          sobretudo, com melhores torpedos e equi-
mais importante, era aprofundar o conhe-                                                                            pados com artilharia, quando comparados
cimento do navio, enquanto submarino, e                                                                             com os seus congéneres concebidos antes
apurar as suas possibilidades operacionais                                                                          do início da Guerra.
e, em segundo lugar, desenhar o apoio que                                                                           Podemos imaginar que, quando ter-
seria necessário em terra.                                                                                          minou essa Guerra, e à medida que se
Considerando que conhecer profunda-                                                                                 tomava conhecimento mais detalhado
mente o navio significa o treino necessário                                                                         do envolvimento dos submarinos e dos
para se navegar com segurança em imer-                                                                              resultados operacionais obtidos, os sub-
são, julgamos que se procurou conseguir                                                                             marinistas portugueses tenham analisado
alcançar uma parte desse objetivo, efetuan-                                                                         a diferença entre os navios de que dispu-
do um elevado número de imersões estáti-                                                                            nham e aqueles que mais sucesso tinham
cas, tanto dentro da doca de Belém, como                                                                            obtido durante a Guerra.
no Tejo, como ainda na baía de Cascais.                                                                             Apesar dos navios à disposição da Mari-
Existem referências a imersões dinâmicas,                                                                           nha Portuguesa serem novos, em especial
quer em treino próprio, quer em exercícios                                                                          as três últimas unidades, não havia qual-
com unidades de superfícies, quer, ain-        Submersível Espadarte.                                               quer possibilidade, na minha opinião, para

da, com convidados importantes embarcados. Como já referido, no princípio de 1916, fo- lhe modificar a sua capacidade operacional.
O que interessa salientar é que se conseguiu trei- ram encomendados a Itália mais três subma- Nem sequer o embarque de uma pequena peça
nar a guarnição inicial, iniciar cursos de especia- rinos em tudo análogos ao Espadarte, embora de artilharia, sem penetração do casco resistente,
lização, com vista à substituição de elementos com um ligeiro aumento na tonelagem e com seria exequível, tendo em conta a reserva de flu-
da guarnição e preparar as guarnições para os alguns melhoramentos. Os submarinos com os tuabilidade do navio.
três submarinos que foram encomendados no nomes de Hidra, Foca e Golfinho, chegaram Por isso os navios, até ao seu abate, tiveram
princípio de 1916. Deu-se, assim, início a um a Lisboa a 10 de fevereiro de 1918, após uma como área de ação, quase em exclusivo, o rio
sistema de treino, que denomino de submari- viagem de perto de dois meses. Ao contrário Tejo e as baías de Cascais e Sesimbra, realizando
no/simulador, que foi transversal a todas                                                                           quer treino próprio, quer cooperando com
as esquadrilhas portuguesas. Por subma-                                                                             outros submarinos, quer, ainda, com meios
rino/simulador entendo que os submari-                                                                              de superfície. Meios de superfície que, du-
nistas portugueses eram adequadamente                                                                               rante os anos vinte do século passado, eram
preparados teoricamente e depois toda a                                                                             de reduzida expressão devido ao estado
instrução subsequente era ministrada nos                                                                            decrépito que a Marinha Portuguesa tinha
navios, sem qualquer treino inicial em terra.                                                                       atingido.
É evidente que, no começo da navegação                                                                              Também constitui certeza a muito reduzi-
submarina, este procedimento era igual em                                                                           da taxa de duração das imersões, relativa-
todas as marinhas, mas com o decorrer dos                                                                           mente às horas de navegação. As imersões
anos, começaram a aparecer simuladores,                                                                             tiveram, em média, durações inferiores a
primeiro de pendência tática, os chamados                                                                           uma hora. Em cumprimento da verdade,
“mestres de ataques” e, depois, os simula-                                                                          cabe referir que só com os submarinos da
dores ligados à segurança em imersão. Os                                                                            classe Albacora as taxas de imersão relati-
submarinistas portugueses nunca tiveram        A 1ª Guarnição do Espadarte: na frente, da esquerda para a direita,  vamente às horas de navegação alcança-
ao seu dispor uma capacidade de simu-          o Imediato, 2TEN Fernando Branco, o Comandante, 1TEN Almeida         ram valores nunca atingidos por qualquer
lação orgânica credível, o que constituiu      Henriques, e o Engenheiro, GM O’Sullivand Simões.                    dos anteriores submarinos portugueses.

uma limitação importante a uma preparação do Espadarte, a duração da viagem parece ter Como é evidente, estão em causa diferentes ca-
mais rápida e mais económica, quer na vertente menos a ver com fiabilidade do material e mais pacidades de submarinos e não diferentes sub-
operacional quer na de segurança em imersão. com as condições de tempo e dos cuidados marinistas.
Voltaremos, ainda, a este assunto.             inerentes à situação de guerra.          Embora o Ministro Pereira da Silva, nos anos
Do treino operacional, existem notícias de vá- Como é conhecido, quando na construção vinte do século passado, tenha conseguido ver
rios lançamentos de torpedos, feitos com o navio destas unidades, chegaram a estar projetadas aprovado um plano para o reequipamento da
quer em imersão quer à superfície, sempre refe- mais quatro unidades de maior tonelagem. Marinha, onde constavam quatro submarinos,
ridos com apreciável sucesso. Assim sendo, po- Uma a construir em Itália e três em Portugal. não se passou das intenções à realidade, devido
demos considerar que o Espadarte preenchia as Pena foi que este programa não tivesse conti- a limitações financeiras. Só em 1933 foi possí-
condições de operacionalidade inerentes a um nuidade. Este comentário tem a ver com os be- vel iniciar o processo da substituição dos sub-
submarino costeiro, mesmo antes da encomen- nefícios para Portugal, caso a transferência de marinos existentes, ao ser assinado um contrato
da de outros submarinos.                       tecnologia necessária à construção dos navios com estaleiros ingleses para a construção de três
Um pequeno parêntesis para referir o que, à fosse aproveitada para dinamizar o fraquíssimo submarinos que viriam a ser chamados de Del-
época, se considerava a missão de um subma- tecido industrial e tecnológico de um País que fim, Espadarte e Golfinho. A construção destes

                                                                                                                    REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2013 11
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