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REVISTA DA ARMADA | 506
D. Pedro ordena o regresso do general Jorge Avillez. cia da Argentina por parte degradação que a Armada terá sofrido du-
do governo português e rante o período de permanência no Brasil.
ter conduzido a um desfecho diferente. o anúncio da realização
No entanto, um brigue e uma sumaca en- de uma consulta eleito- EMANCIPAÇÃO DO BRASIL
viados pelo governo do Recife a recolher ral à população da Banda
a guarnição da ilha de Fernando Noronha Oriental sobre o destino A saída da Corte do Rio de Janeiro não
são forçados a arribar a Paraíba e captu- a dar àquela província, fora bem recebida pelo povo brasileiro e a
rados sem resistência. Entretanto, a força acaba com a presença de animosidade acentua-se quando o governo
de bloqueio é reforçada com uma fraga- corsários americanos na de Lisboa, a braços com dificuldades eco-
ta, dois brigues e uma escuna enviados região. Mas a guerra de nómicas e despeitado pelo esquecimento a
do Rio de Janeiro, aos quais se somam, corso, que, envolvendo, que fora votado durante a ausência do Rei,
pouco depois, uma nau, dois transportes, essencialmente, navios se empenha em retirar ao Brasil o estatuto
cinco galeras e duas sumacas. Enquanto o mercantes isolados ou de reino que lhe fora outorgado em 1815.
Recife vacila sob os efeitos do bloqueio, os com pequena escolta, cau- A primeira atitude de rebeldia pertence ao
navios da esquadra lealista desembarcam sa elevadas baixas à nave- príncipe D. Pedro quando, convocado pelas
tropas na capital rebelde, que se rende gação portuguesa (43 ac- Cortes a regressar a Lisboa (a pretexto de
em pouco tempo. ções registadas entre 1808 efectuar uma viagem de estudo pela Euro-
e 1822, das quais resultou pa), recusa embarcar para a capital do Rei-
Para além destas campanhas, prosse- a perda de três dezenas de no. O general Jorge Avillez, governador das
gue, no Atlântico, o combate aos corsá- navios), estende-se até aos armas do Rio de Janeiro, que lhe entrega
rios franceses (até 1815), barbarescos, limites das barras portuá- a convocação, e as tropas leais a Portugal
uruguaios/argentinos (a partir de 1817) rias da Metrópole, pois a são confinadas à praia de Niterói e intima-
e americanos. Estes últimos são contra- progressiva degradação da das a regressar à Metrópole. Embarcam
tados, a título independente, por Artigas Armada e o afastamento a 15 de Fevereiro de 1822, num comboio
para atacar a navegação portuguesa, o geográfico das principais unidades com- escoltado pelas corvetas “Maria da Glória”
que motiva uma intensa acção diplomáti- batentes faz com que os corsários se tor- e “Liberal”, mas dois navios afastam-se do
ca junto do governo americano. No entan- nem cada vez mais ousados. comboio (um deles era aquele onde seguia
to, só o reconhecimento da independên- Quando, em Setembro de 1820, se dá o general Avillez) e rumam à Baía para re-
a revolução liberal em Lisboa, o governo forçar as forças leais às Cortes.
provisório solicita o regresso do Rei, que,
embora relutante, se vê forçado a aceder, Sem nada saber, mas antevendo a ne-
deixando o príncipe D. Pedro como regen- cessidade de impor a autoridade nacional,
te do Brasil. Com ele regressam uma nau, o governo de Lisboa envia uma expedição
uma fragata, uma corveta, um brigue, três com 1192 homens, comandada pelo chefe
charruas, três navios mercantes e um iate, de divisão Maximiliano de Sousa e com-
que entram a barra a 3 de Julho 1821. Em- posta de uma nau, uma fragata, duas cor-
bora se compreenda que, desta vez, já vetas, duas escunas, quatro charruas e um
não se verificavam as circunstâncias dra- transporte (mercante). Mas no Rio a força
máticas que acompanharam o embarque é mandada fundear sob a mira da artilharia
da Família Real em 1807 – nomeadamen- dos fortes e da fragata “União”. A convite
te o perigo de intercepção pelas esqua- de D. Pedro desembarcam 394 praças (190
dras francesas, a justificar uma escolta de das quais pertencentes à nau) para servir
peso, e a necessidade de evitar que a Ar- o Brasil. Viriam a amotinar-se após a parti-
mada Real caísse nas mãos dos exércitos da dos navios por não quererem combater
invasores –, não podemos deixar de regis- contra a sua antiga Pátria. A 23 de Março
tar esta significativa redução do séquito a força é mandada regressar a Lisboa, fi-
naval em relação ao que partira de Lisboa, cando retida a fragata, requisitada por D.
motivada não apenas pela alteração da Pedro.
conjuntura, mas também pela acentuada
Como atrás foi referido, a Baía (junta-
mente com a Banda Oriental, o Pará, o
18 ABRIL 2016