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REVISTA DA ARMADA | 506
ACADEMIA DE MARINHA
PARTICIPAÇÃO DE PORTUGAL
NA GRANDE GUERRA
No âmbito das comemorações do centenário da entrada de Por- “A Marinha na Grande Guerra. Da requisição dos navios alemães
tugal na Grande Guerra, decorreu na Academia de Marinha, em ao armistício”, da autoria do académico José António Rodrigues Pe-
23 de fevereiro, 1 e 8 de março, um ciclo de conferências sobre a reira, foi a segunda comunicação do ciclo. Na sequência da declara-
participação portuguesa, e em particular da Marinha, naquele con- ção de guerra por parte da Alemanha, a Marinha de imediato iniciou
flito mundial. um processo de mobilização, planeamento e preparação de novas
missões, designadamente nas áreas da defesa costeira e portuária,
Em 28 de julho de 1914, quando o Império Austro-Húngaro decla- do transporte de pessoal e material e da escolta de comboios. Para
rou guerra à Sérvia, a que se seguiu, nos primeiros dias de agosto, além dos territórios ultramarinos, a presença da Marinha foi essen-
a invasão da Bélgica pela Alemanha, logo de imediato os navios das cial no continente e ilhas adjacentes.
várias companhias mercantes alemãs e austríacas procuraram abri-
go em portos de países neutros à data do início das hostilidades. Lar- Depois de fazer o balanço das perdas humanas e materiais ao lon-
gas dezenas de navios daquelas nacionalidades encontraram refúgio go do conflito, de forte impacto para um país de limitados recursos
seguro em portos nacionais, incluindo nos territórios ultramarinos. como o nosso, o comandante Rodrigues Pereira referiu as conversa-
ções de paz e as pretensões portuguesas, nomeadamente da Mari-
Em 23 de fevereiro de 1916, na sequência de um pedido formal nha, quanto a indemnizações de guerra.
do Governo Britânico feito seis dias antes, o Governo Português
procedeu ao apresamento de todos os navios mercantes daquelas Na última comunicação do ciclo, “Grande Guerra: A Marinha Por-
nações, num total de 70 navios alemães e dois austríacos, com as tuguesa e a Falerística”, pelo Dr. Paulo Jorge Estrela, foi abordada de-
respetivas cargas e tripulações. Um dos navios apresados no porto talhadamente, sob os aspetos regulamentares, técnicos e artísticos,
da Horta, a barca Max, viria a pertencer ao efetivo da Armada Portu- a produção falerística, designadamente as condecorações, insígnias,
guesa, entre 1927 e 1962, como navio-escola Sagres. ordens honoríficas e medalhas militares que foram atribuídas aos
militares da Marinha durante o conflito, e em sua consequência.
Compreensivelmente, a Alemanha não se conformou com os Como é habitual nas sessões culturais da Academia, as apresenta-
apresamentos, e a 9 de março declarou guerra a Portugal, se bem ções foram seguidas de interessantes períodos de debate.
que, desde o ano inicial do conflito, já as forças armadas portugue-
sas se haviam batido contra as tropas germânicas na fronteira sul Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA
de Angola e na fronteira norte de Moçambique, na sequência dos
ataques ali ocorridos.
Na Europa, como é sabido, Portugal participou com o CEP – Corpo
Expedicionário Português, integrado no exército inglês, mobilizando
cerca de 56 mil homens para o norte da França. Para Angola foram
enviados 18 mil efetivos, e para Moçambique 30 mil.
No conjunto, a participação portuguesa saldou-se na perda de
cerca de 7760 militares, 200 dos quais da Marinha e os restantes do
Exército. A Grande Guerra, que mais tarde passou a ser designada
Primeira Guerra Mundial, terminou em 11 de novembro de 1918,
com a assinatura do Armistício.
O ciclo de conferências pretendeu ilustrar, com diferentes visões,
a participação das Forças Armadas Portuguesas no conflito.
Na primeira palestra, intitulada “Política, Diplomacia e Ação de
Força: os imediatos antecedentes do 23 de fevereiro de 1916”, o
Professor Doutor João Moreira Freire referiu ter recorrido essen-
cialmente à correspondência diplomática e outra documentação do
acervo da Biblioteca Central da Marinha e do seu Arquivo Histórico.
O orador analisou os acontecimentos ocorridos desde o Verão de
1915, na sequência da revolução de 14 de maio, até ao apresamento
dos navios em 23 de fevereiro de 1916, salientando que o enquadra-
mento interpretativo resultou dos trabalhos de investigação por si
publicados ou divulgados em 2014 e 2015 sobre a posição de Portu-
gal face à guerra, antes da sua entrada oficial no conflito.
22 ABRIL 2016