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REVISTA DA ARMADA | 506

Combate naval da Baía (1823).

  Para submeter o estado da Baía, que es-     da. Surpreendido, Pereira de Campos, que      outros da sua confiança. Durante esse
tava, já, cercado por terra, Cochrane saiu    não se mostra um comandante particular-       período, Pereira de Campos não mostra
do Rio, a 3 de Abril, com a nau, uma fraga-   mente hábil, manda inverter o rumo, para      qualquer iniciativa. Mantendo os navios
ta, duas corvetas e dois brigues. O objecti-  que os navios da testa da coluna venham       dentro do porto, alegadamente para não
vo era bloquear o porto e impedir a chega-    em auxílio dos da retaguarda. Surgem,         deixar a cidade aberta a um ataque por
da de reforços e de abastecimentos aos si-    entretanto, problemas nos navios brasi-       mar, deixa a Cochrane os movimentos to-
tiados. Tendo chegado no dia 25, recebeu,     leiros, com a marinhagem da “Liberal”, do     talmente livres, mesmo com os insistentes
quatro dias depois, o reforço da fragata      “Real Pedro” e da “Guarani”, maioritaria-     apelos de Madeira de Melo (com quem
“Niterói” (ex-“Sucesso”). Embora estivesse    mente portugueses (ao contrário do que        parece não se entender muito bem) para
em inferioridade numérica e de poder de       sucedera com os oficiais, não fora dada       que atue. Segundo Marques Esparteiro, o
fogo, dispunha, já, de uma força capaz de     opção às guarnições dos navios), a recusar    chefe de divisão não seria propriamente
se medir com a esquadra portuguesa.           fazer fogo contra os seus compatriotas.       um cobarde, mas teria horror à ideia de
                                              Também na “D. Pedro I” alguns artilhei-       assumir responsabilidades e de contrariar,
  Ao saber da presença da esquadra bra-       ros portugueses se revoltam, trancando        de algum modo, as ordens que recebera à
sileira, Pereira de Campos sai para o mar.    o paiol de munições. Acabam por ser do-       saída de Lisboa.
Após um primeiro desencontro, as duas         minados pela força, mas Cochrane perde
esquadras embatem, por fim, a 3 de Maio.      a confiança nas suas guarnições e decide        Mas Campos só reage quando os navios
Contrariamente ao esperado, porém, Co-        retirar antes de poder ser alcançado pela     inimigos são, efetivamente, avistados, em
chrane não manobrou para se prolongar         testa da coluna portuguesa.                   fins de Maio. No entanto, o almirante bri-
com a esquadra portuguesa, como era                                                         tânico volta a evitar o combate, embora ve-
tradicional (o que o deixaria em inferio-       Mantém, no entanto, o bloqueio, a par-      nha, depois, a fazer uma ousada, conquan-
ridade face ao maior poder de fogo dos        tir do Morro de S. Paulo (35 milhas a su-     to infrutífera, tentativa de surpreender os
portugueses), tendo antes optado por,         doeste), embora evite mostrar-se ao largo     portugueses dentro do porto, introduzindo
numa manobra audaciosa (da escola de          da Baía, para não ter contacto direto com     dois navios no meio da força fundeada.
Nelson), cortar a linha adversária para ga-   a força naval portuguesa. Aproveita para
nhar superioridade numérica localizada e      reforçar a artilharia da nau e substituir os    Devido à falta de mantimentos resultan-
apoderar-se de alguns navios da retaguar-     marinheiros portugueses revoltosos por        te do cerco e do bloqueio (com os navios
                                                                                            que tentam abastecer a cidade a serem

20 ABRIL 2016
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