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Piauí e o Maranhão), sob o comando do de Viana, para fretar os na-
governador de Armas, general Madei- vios necessários para trans-
ra de Melo, continuava leal a Portugal. portar para a Baía 1900
Preparando-se para o confronto, aquele homens distribuídos por 5
manda reparar vários navios de guerra, batalhões, a serem escolta-
armar mercantes e artilhar barcas e lan- dos pela fragata “Pérola”. A
chas, passando a dispor de uma pequena expedição larga a 15 de Fe-
esquadra, da qual se destacavam quatro vereiro 1823, acompanhada
corvetas e dois bergantins, aos quais se por uma galera e pelo bri-
juntarão, em breve, alguns reforços. gue “Viajante”, e chega a 31
de Março.
Em Lisboa prepara-se nova divisão com
1500 homens, sob o comando do chefe Entretanto, ainda em De-
de divisão João Félix Pereira de Campos, zembro de 1822, tinham-se
com seis transportes e dois navios de es- registado as primeiras es-
colta (um dos quais a nau “D. João VI”), caramuças de uma flotilha
que ali chega a 30 de Outubro. As forças brasileira comandada pelo
portuguesas na Baía passam, assim, a dis- primeiro-tenente João Botas
por de 8000 soldados e 22 navios. Mas – que a partir da ilha de Ita-
as instruções para Pereira de Campos parica procurava abastecer
eram apenas as de desembarcar a tropa de mantimentos os revolto-
e, basicamente, ajudar a proteger a Baía, sos nas margens do Cotagipe
embora pudesse responder a solicitações – com os navios portugueses
dos comandantes militares em terra, o que bloqueavam a ilha (en-
que traduz uma postura essencialmen- tre eles os brigues “Audaz” Thomas Cochrane (1775-1860).
te defensiva. É que o governo de Lisboa e “Prontidão” e a escuna
ainda não tomara conhecimento de que “Emília”). Registar-se-ia novo confronto, onde a maior parte das ligações se fazia
D. Pedro, no célebre “Grito do Ipiranga”, renhido mas inconclusivo, nesse mesmo por mar e era indispensável garantir a uni-
tinha proclamado oficialmente a indepen- mês e, novamente, em Maio do ano se- dade territorial e o abastecimento maríti-
dência do Brasil a 7 de Setembro. guinte, com um ousado – e, por fortuna, mo, é natural que D. Pedro, desde logo, se
bem sucedido – ataque de três canhonei- empenhasse em formar uma marinha de
A 4 de Dezembro, o ministro da Mari- ras daquela flotilha às sete embarcações guerra capaz de defender a independên-
nha, Inácio da Costa Quintela, dá ordem portuguesas que faziam bloqueio. Nesse cia do novo estado.
ao Major-General da Armada, Marquês período, dá-se, a 7 de Janeiro de 1823, O primeiro núcleo da esquadra foi for-
uma tentativa de ocupação de Itaparica mado com os poucos navios surtos no
João Botas (??-1833). pelas forças portuguesas, envolvendo 600 Rio de Janeiro que estavam em condições
homens que, repartidos por várias embar- de navegar, aos quais se somaram alguns
cações, desembarcam sob a proteção dos adquiridos no estrangeiro. No início de
brigues “Prontidão” e “Audaz”, da escu- 1823, o Imperador contava, já, com uma
na “Emília” e da barca “Constituição”. No nau (“Martim de Freitas”, rebaptizada “D.
entanto, a operação falha rotundamente, Pedro I”), três fragatas, duas corvetas e
embora mereça louvor individual a acção dois brigues, juntamente com outros na-
do comandante da força de desembarque vios menores. Para comandar esta força
de Marinha, aspirante Ferreira do Amaral, requisitou os serviços do escocês Thomas
futuro governador de Macau, que, com um Alexander Cochrane, que já se notabiliza-
braço desfeito por um tiro de artilharia, ra na organização das armadas do Peru e
continua a incitar os seus homens à carga. do Chile. Com ele vieram 28 oficiais e 500
Mas a força naval brasileira não se re- marinheiros ingleses, que se juntaram aos
sumia ao conjunto de pequenos navios da oficiais e marinheiros portugueses que ti-
flotilha itaparicana. Com efeito, num país nham aderido à independência.
ABRIL 2016 19