Page 18 - Revista da Armada
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por onde lhe chegava o comércio e a riqueza, o mar que Ɵ nha de potência maríƟ ma a dominar o espaço oceânico entre o Mediter-
dominar para sobreviver, o mar que moldou a sua existência e que râneo e o norte da Europa.
ainda hoje se renova como um dos principais desígnios nacionais. A conquista de Ceuta, levada a cabo em agosto de 1415, foi o pri-
Recordamos a luta pela tomada das barras dos rios Tejo e Sado, meiro passo para a entrada num período brilhante em que os por-
a disputa da costa e dos portos, a que o inimigo devotou uma inu- tugueses puderam explorar todo o AtlânƟ co, atravessar o Índico e
sitada energia sabendo bem o que representavam esses lugares. afi rmar o seu poder em mares longínquos, a cinco ou seis meses
Foram anos de combates intensos nos mares da costa ocidental de viagem diİ cil e penosa.
onde Ɵ veram lugar os primeiros confl itos navais e onde se deu a O batalha naval do golfo da Guiné, em 1479, teve um grande
primeira grande batalha naval que opôs as galés portuguesas aos impacto na formulação do Tratado das Alcáçovas, num momento
inimigos de então. A Coroa não dispunha ainda de uma marinha em que os dois reinos compeƟ am pelo domínio do Oceano Atlân-
estruturada, mas Ɵ nha a capacidade para reunir os seus navios Ɵ co e das terras até então descobertas na costa africana, permi-
combatentes, tal como reunia as suas hostes de cavaleiros, per- Ɵ ndo consolidar o monopólio português da navegação e comércio
miƟ ndo-se contestar e reagir contra o inimigo vindo do sul através a sul do Cabo Bojador.
do oceano. No fi nal do século XV, os navegadores portugueses chegavam
A primeira batalha naval teve lugar no verão de 1180, perto do pela primeira vez à Índia e, pouco tempo depois, estabeleciam
Cabo Espichel, encontrando-se assinalada no Memorial como a uma rede de comércio assente num domínio naval incontestável
primeira grande vitória portuguesa no mar, um marco da afi r- que se estendia desde o Brasil AtlânƟ co até aos mares da China.
mação do Estado no espaço oceânico ocidental. Foram estes os Vários foram os momentos em que o seu poder foi violentamente
primeiros passos da confi rmação de uma existência naval. contestado e desafi ado, obrigando a sucessivas batalhas navais
O fi nal da primeira dinasƟ a trouxe consigo nova prova de fogo ao que marcaram a época de ouro da expansão portuguesa ultrama-
país, já autónomo e livre: a crise da sucessão dinásƟ ca que amea- rina. Deste período, registamos o confronto de Cananor, em 1501,
çou colocar no trono português um rei castelhano. A Nação rea- a extraordinária batalha de Diu, em 1509, a defesa de Malaca, em
giu com veemência demonstrando a vontade de preservar a sua 1514, e de Mascate, em 1554, na sequência de uma campanha
liberdade nacional. Uma vez mais, a disputa pela conƟ nuidade da naval que pôs fi m à úlƟ ma tentaƟ va otomana de expulsar os por-
idenƟ dade portuguesa teve um contributo decisivo jogado no mar. tugueses do Índico.
Quando Lisboa se viu cercada no ano de 1384, nas águas do Tejo, Durante o século XVI, porém, outros países europeus seguiram
o heroico Rui Pereira – Ɵ o de D. Nuno Álvares Pereira – avançou os caminhos do mar anteriormente descobertos pelos portugue-
corajosamente com apenas cinco naus para enfrentar e vencer a ses, procurando alcançar as riquezas que não Ɵ nham, até então,
Armada Castelhana. Este combate, desigual e violento, que durou ainda ousado desbravar. Assim aconteceu com os franceses que,
perto de duas horas, terminou com a morte do comandante, mas em 1555, conseguiram estabelecer-se dentro da baía de Guana-
com a vitória decisiva dos navios portugueses, que conseguiram bara e a quem se opôs Mem de Sá, em 1560.
reabastecer a capital siƟ ada, à beira de ser vencida pela fome.
DESTAQUES NA TERCEIRA DINASTIA
A REALÇAR NA SEGUNDA DINASTIA
Com o fi m do século XVI, aproximava-se uma nova crise suces-
Um ano mais tarde, nos campos de Aljubarrota, os portugueses sória. Em 1580, com a morte do Cardeal D. Henrique que havia
viriam a infl igir a mais pesada derrota a quem cobiçava a sua liber- sucedido a D. SebasƟ ão e não deixava descendência, a Coroa pas-
dade, só possível porque, graças aos navios de Rui Pereira, Lisboa saria para um rei castelhano, sucedendo-se uma dinasƟ a de três
resisƟ ra. Iniciava-se assim uma nova dinasƟ a, aquela que abriu as soberanos estrangeiros, que nem sempre Ɵ veram em linha de
portas do mar-oceano à expansão maríƟ ma portuguesa, a qual conta as condições do país, nem reconheceram a importância dos
começou com a consolidação da posição portuguesa enquanto assuntos relacionados com o mar. Neste período, tanto holandeses
“Batalha Naval do Cabo Matapan” – Óleo sobre tela, cópia de António José Ramos Ribeiro (1956) a parƟ r de original de João Dantas (1892). Museu de Marinha.
18 SETEMBRO/OUTUBRO 2020