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REVISTA DA ARMADA | 555

                                                                    Durante o desenrolar da guerra civil portuguesa que opôs ideais
                                                                  liberais a absoluƟ stas, a componente naval mostrou-se, mais uma
                                                                  vez, fundamental. Com o apoio dos aliados ingleses, em 1833, a
                                                                  esquadra liberal fi el a D. Maria II defrontou e derrotou, perto do
                                                                  Cabo de São Vicente, a sua congénere absoluƟ sta. Esta vitória
                                                                  fi cou a dever-se sobretudo à arte da manobra, que aproveitou as
                                                                  circunstâncias do vento e as condições do mar a seu favor, para o
                                                                  apresamento de alguns dos navios vencidos.
                                                                    A história da Europa do século XIX fi ca marcada não só pelo
                                                                  grande impulso dado pela industrialização, mas também pela
                                                                  corrida a África e às suas riquezas naturais. Portugal entrava nes-
                                                                  ta corrida num jogo já familiar, determinado pelo seu passado
                                                                  ultramarino. Operações de delimitação de fronteiras e ocupação
                                                                  do território conduziram a campanhas de pacifi cação e disputas
                                                                  com rivais europeus. Destas, disƟ nguem-se as campanhas navais
                                                                  de João Azevedo CouƟ nho, em 1889, nos rios de Moçam bique, e
                                                                  a ação do Batalhão Expedicionário de Marinha, no sul de Angola,
                                                                  em 1915.

                                                                  DESTAQUES NA REPÚBLICA
                                                                    No início do século XX, desencadeavam-se já os acontecimen-
                                                                  tos que conduziram a Europa à Grande Guerra (1914-18), na qual
                                                                  Portugal entrou em 1916, em resposta aos deveres determina-
               “Combate do caça-minas Augusto CasƟ lho com o submarino alemão U-139”    dos pela aliança com a Grã-Bretanha. Neste âmbito, os navios
               – Óleo sobre tela de Elisa Felismino (1960). Museu de Marinha  da Armada Portuguesa foram chamados a intervir na disputa do
                                                                  AtlânƟ co, protegendo os portos, a navegação comercial e as tro-
              como ingleses tomaram a iniciaƟ va de ampliar as suas armadas,   pas a caminho da Flandres.
              aumentando signifi caƟ vamente a sua capacidade de expansão e   Foi neste contexto que teve lugar o combate do valoroso coman-
              assim iniciando a conquista das colónias portuguesas no Brasil e   dante Carvalho Araújo que, comandando um modesto caça-minas
              no Oriente. Ormuz consƟ tuiu um dos seus alvos imediatos e ali   contra um poderoso submarino alemão, manobrou com mestria e
              se travou, em 1625, sob o comando de Nuno Álvares Botelho, a   lutou até ao seu úlƟ mo cartucho de arƟ lharia, sucumbindo, mas
              batalha mais violenta com a parƟ cipação de navios portugueses   cumprindo com sucesso a sua missão.
              no Oriente.                                           Por  fi m, registam-se ainda os úlƟ mos combates do Império,
                                                                  levados a cabo na Índia, aquando da invasão do território, em
              A REALÇAR NA QUARTA DINASTIA                        1961, e as longas campanhas militares que empenharam navios e
                                                                  fuzileiros em combate durante 13 anos, nos teatros operacionais
               No AtlânƟ co, os holandeses tomaram conta dos territórios cos-  de Angola, Guiné e Moçambique.
              teiros do Brasil, de Angola e de São Tomé. Sem capacidade de
              mobilizar sufi cientes esforços para os desalojar, a guerra aos usur-
              padores viria a ser declarada apenas após a aclamação de D. João
              IV, em 1640, na sequência da Restauração da Independência. Em
              1648, a armada de Salvador Correia de Sá e Benevides, recon-
              quistou Luanda, libertando toda a costa de Angola e São Tomé.
              Relembramos ainda a guerra em Pernambuco, que se iniciou com
              a revolta dos colonos, em 1645, culminando, em 1654, com a saída
              defi niƟ va dos holandeses.
               Com a recuperação de parte do seu poder naval, Portugal read-
              quiria assim a sua capacidade ultramarina, mantendo o domínio
              de alguns locais de comércio conquistados desde o século XVI e
              garanƟ ndo os seus interesses estratégicos na manutenção das vias
              maríƟ mas, desde o Brasil a Macau, bem como o livre acesso aos
              portos, com especial relevo para o de Lisboa.
               As ações, políƟ ca e diplomáƟ ca, ganharam um novo protago-
              nismo, sendo certo que, mais do que o poder absoluto sobre espa-
              ços maríƟ mos, o país Ɵ nha de manter alianças, usando as suas
              forças navais para valorizar a sua posição.
               Desta forma, tanto a parƟ cipação de Portugal na Batalha do Cabo
              Matapão, em 1717, como o cerco da ilha de Malta, levada a cabo
              pela armada do Marquês de Nisa, em 1798, enquadram-se no
              panorama políƟ co europeu do século XVIII. De igual modo, já no
              século XIX, a importância das boas relações com a China, neces-
              sárias para a manutenção de Macau, foram a razão principal do   “Lancha Vega em combate” – Óleo sobre madeira, de Raúl de Sousa Machado.
              envolvimento nacional na Batalha Naval da Boca do Tigre, em 1810.  Museu de Marinha.


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