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Durante o desenrolar da guerra civil portuguesa que opôs ideais
liberais a absoluƟ stas, a componente naval mostrou-se, mais uma
vez, fundamental. Com o apoio dos aliados ingleses, em 1833, a
esquadra liberal fi el a D. Maria II defrontou e derrotou, perto do
Cabo de São Vicente, a sua congénere absoluƟ sta. Esta vitória
fi cou a dever-se sobretudo à arte da manobra, que aproveitou as
circunstâncias do vento e as condições do mar a seu favor, para o
apresamento de alguns dos navios vencidos.
A história da Europa do século XIX fi ca marcada não só pelo
grande impulso dado pela industrialização, mas também pela
corrida a África e às suas riquezas naturais. Portugal entrava nes-
ta corrida num jogo já familiar, determinado pelo seu passado
ultramarino. Operações de delimitação de fronteiras e ocupação
do território conduziram a campanhas de pacifi cação e disputas
com rivais europeus. Destas, disƟ nguem-se as campanhas navais
de João Azevedo CouƟ nho, em 1889, nos rios de Moçam bique, e
a ação do Batalhão Expedicionário de Marinha, no sul de Angola,
em 1915.
DESTAQUES NA REPÚBLICA
No início do século XX, desencadeavam-se já os acontecimen-
tos que conduziram a Europa à Grande Guerra (1914-18), na qual
Portugal entrou em 1916, em resposta aos deveres determina-
“Combate do caça-minas Augusto CasƟ lho com o submarino alemão U-139” dos pela aliança com a Grã-Bretanha. Neste âmbito, os navios
– Óleo sobre tela de Elisa Felismino (1960). Museu de Marinha da Armada Portuguesa foram chamados a intervir na disputa do
AtlânƟ co, protegendo os portos, a navegação comercial e as tro-
como ingleses tomaram a iniciaƟ va de ampliar as suas armadas, pas a caminho da Flandres.
aumentando signifi caƟ vamente a sua capacidade de expansão e Foi neste contexto que teve lugar o combate do valoroso coman-
assim iniciando a conquista das colónias portuguesas no Brasil e dante Carvalho Araújo que, comandando um modesto caça-minas
no Oriente. Ormuz consƟ tuiu um dos seus alvos imediatos e ali contra um poderoso submarino alemão, manobrou com mestria e
se travou, em 1625, sob o comando de Nuno Álvares Botelho, a lutou até ao seu úlƟ mo cartucho de arƟ lharia, sucumbindo, mas
batalha mais violenta com a parƟ cipação de navios portugueses cumprindo com sucesso a sua missão.
no Oriente. Por fi m, registam-se ainda os úlƟ mos combates do Império,
levados a cabo na Índia, aquando da invasão do território, em
A REALÇAR NA QUARTA DINASTIA 1961, e as longas campanhas militares que empenharam navios e
fuzileiros em combate durante 13 anos, nos teatros operacionais
No AtlânƟ co, os holandeses tomaram conta dos territórios cos- de Angola, Guiné e Moçambique.
teiros do Brasil, de Angola e de São Tomé. Sem capacidade de
mobilizar sufi cientes esforços para os desalojar, a guerra aos usur-
padores viria a ser declarada apenas após a aclamação de D. João
IV, em 1640, na sequência da Restauração da Independência. Em
1648, a armada de Salvador Correia de Sá e Benevides, recon-
quistou Luanda, libertando toda a costa de Angola e São Tomé.
Relembramos ainda a guerra em Pernambuco, que se iniciou com
a revolta dos colonos, em 1645, culminando, em 1654, com a saída
defi niƟ va dos holandeses.
Com a recuperação de parte do seu poder naval, Portugal read-
quiria assim a sua capacidade ultramarina, mantendo o domínio
de alguns locais de comércio conquistados desde o século XVI e
garanƟ ndo os seus interesses estratégicos na manutenção das vias
maríƟ mas, desde o Brasil a Macau, bem como o livre acesso aos
portos, com especial relevo para o de Lisboa.
As ações, políƟ ca e diplomáƟ ca, ganharam um novo protago-
nismo, sendo certo que, mais do que o poder absoluto sobre espa-
ços maríƟ mos, o país Ɵ nha de manter alianças, usando as suas
forças navais para valorizar a sua posição.
Desta forma, tanto a parƟ cipação de Portugal na Batalha do Cabo
Matapão, em 1717, como o cerco da ilha de Malta, levada a cabo
pela armada do Marquês de Nisa, em 1798, enquadram-se no
panorama políƟ co europeu do século XVIII. De igual modo, já no
século XIX, a importância das boas relações com a China, neces-
sárias para a manutenção de Macau, foram a razão principal do “Lancha Vega em combate” – Óleo sobre madeira, de Raúl de Sousa Machado.
envolvimento nacional na Batalha Naval da Boca do Tigre, em 1810. Museu de Marinha.
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