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REVISTA DA ARMADA | 561

              INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL


              ESTAMOS PRONTOS?




              O impacto da Inteligência ArƟ fi cial (IA), em termos civis, é equivalente ao da eletricidade há um século atrás. Em termos militares
              é descrito como o início da terceira revolução na arte da guerra, na sequência da invenção da pólvora e das armas nucleares.
              A IA é a tecnologia de âmbito geral mais importante da nossa era. Está entre as tecnologias com potencial para mudar, nos próximos
              anos, a face do poder no nosso mundo interligado. A revolução da IA vai criar mais disparidades entre Estados, porque irá gerar
              mais vitalidade económica e estratégica para quem a dominar primeiro. Já está a resultar em mudanças empolgantes nos negócios e
              quem não acompanhar esta evolução arrisca-se a fi car defi niƟ vamente para trás, tal como aconteceu na revolução industrial.


              NOVA REVOLUÇÃO NOS ASSUNTOS
              MILITARES

                 o mundo militar, a China apresentou, em 20 de julho
              Nde 2017, um plano para se tornar o líder mundial em
              IA em 2030 (Next GeneraƟ on AI Development Plan). Lem-
              bramo-nos bem do show que organizaram na altura, com                                                    Colaboração de H I SuƩ  on, Covert Shores (www.hisuƩ  on.com)
              mil drones a atuarem como um enxame coordenado. O
              Exército de Libertação do Povo tem um ambicioso plano
              de desenvolvimento de Forças Armadas de “classe mun-
              dial” até 2049, que prevê o desenvolvimento de sistemas
              de IA para subsƟ tuir, total ou parcialmente, os coman-
              dantes operacionais humanos (digamos que, pelo menos,
              para atuarem como “ofi ciais de estado-maior digitais”,
              capazes de idenƟ fi carem a intenção do inimigo, monito-
              rizarem as operações e apresentarem opções inteligentes
              para as decisões a tomar).
               Dos russos sabemos pouco, mas o presidente Vladimir
              PuƟ n disse, em 2017 (dois meses depois do anúncio chi-
              nês), que o desenvolvimento da IA levanta “oportunida-
              des colossais e, também, ameaças que são diİ ceis de pre-
              ver por agora”. AdverƟ u ainda que “aquele que se tornar   São comuns as noơ cias sobre drones não tripulados inteligentes voadores, mas também os há,
              o líder neste domínio, governará o mundo”. Recorde-se   longe dos olhares mais atentos, no mar. O primeiro modelo da coluna, o americano “Echo Voya-
                                                          ger”, tem um comprimento de 15,5 m mas pode ir até 26 m com módulos de carga adicionais.
              que, na agenda de modernização da Defesa, de 2008, a   Tem uma autonomia de 6500 milhas / seis meses em missão. O Reino Unido, que não pre-
              Rússia previa a roboƟ zação de 30% do seu equipamento   tende fi car para trás, está a trabalhar no “Manta”. Os EUA já encomendaram 5 XLUUV “Orca”
              militar até 2025. O que é facto é que tem estado a dar   à Boeing.
              grande atenção ao desenvolvimento de veículos semiautónomos e   desenvolvimento tecnológico em IA para a China, Rússia e outros
              autónomos. Viktor Bonderev, presidente do Comité de Segurança   governos estrangeiros pode não só colocar os EUA numa desvanta-
              e Defesa, afi rmou em 2017 que “A IA vai ser capaz de subsƟ tuir um   gem tecnológica, mas também ter graves implicações em termos de
              soldado no campo de batalha e um piloto no cockpit de uma aero-  segurança nacional“.
              nave” e referiu ainda que “está perto o dia em que os veículos vão
              ter inteligência arƟ fi cial”.                       REVOLUÇÃO NO NOSSO DIAADIA
               Os norte-americanos estão atentos. A Estratégia de Segurança
              Nacional revela essa consciência e o Departamento de Defesa criou   Na sociedade civil, as sondagens indicam que mais de um terço
              o Centro Conjunto para a Inteligência ArƟ fi cial, para tentar manter   das grandes empresas norte-americana afi rmam ter uma estratégia
              a liderança tecnológica neste domínio. O senador Ted Cruz resumiu,   para a IA. As empresas mais aƟ vas neste domínio são as que dis-
              recentemente, a preocupação americana: “ceder a liderança no   põem de grandes volumes de dados, plataformas online, serviços
                                                                                     fi nanceiros, telecomunicações e retalho.
                                                                                       Na China os avanços são muitos e
                                                                                     basta lembrar que, em 2015, a empresa
                                                                                     chinesa Baidu criou um programa de IA
                                                                                     capaz de ultrapassar os níveis humanos
                                                                                                                   DR
                                                                                     de reconhecimento da linguagem, feito
                                                                                     que a MicrosoŌ  só viria a conseguir um
                                                                                     ano mais tarde. Em 2016 e 2017, equi-
                                                                                     pas chinesas ganharam o prémio inter-
                                                                                     nacional de “Reconhecimento Visual em
                                                                                     Larga Escala”. Durante esta pandemia,
                                                                                     já vimos estes sistemas na vigilância das
               Visão da Rolls-Royce para um navio autónomo.
                                                                                     cidades chineses.


                                                                                                         ABRIL 2021  17
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