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REVISTA DA ARMADA | 561


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                                                              DR
















              Submarinos autónomos chineses HSU-001.              Cão de guarda autónomo.

               Quanto às empresas russas, não há nenhuma “startup” do domí-  reconhecimento facial está a subsƟ tuir os cartões das empresas nas
              nio da IA no top das 100 melhores a nível mundial. Sabe-se que a   entradas, saídas e processos de idenƟ fi cação. Podemos encontrar
              Rússia está a desenvolver esforços para minimizar o atraso em rela-  na Internet muitas aplicações para idenƟ fi car animais e plantas pela
              ção a americanos e chineses através de uma estratégia nacional de   fotografi a que Ɵ ramos com o nosso smartphone.
              IA que prevê, entre outras iniciaƟ vas, programas de ensino, estrutu-  Na segunda área, a da cognição e resolução de problemas, basta
              ras de dados, infraestruturas e um sistema de regulação.  Em março   citar que as máquinas já venceram os melhores jogadores do
              de 2018, o governo russo apresentou uma agenda de IA de 10 pon-  mundo de xadrez, póquer e de Go (um jogo oriental). Há cada vez
              tos que inclui, por exemplo, a criação de um Centro Nacional para a   mais sistemas baseados em aprendizagem computacional (machine
              Inteligência ArƟ fi cial. Criou também uma organização de pesquisa   learning) para oƟ mizar a efi ciência de outros sistemas, para a dete-
              com os princípios equivalentes aos da americana DARPA, dedicada   ção de ataques informáƟ cos e para a localização de fraudes. Mui-
              aos sistemas autónomos e à robóƟ ca.                 tas empresas estão a recorrer à aprendizagem computacional para
                                                                   decidir que negócios devem realizar na bolsa e há, cada vez mais,
              O QUE É A IA?                                        bancos a tomar as decisões de concessão de crédito com base nesta
                                                                   ajuda. Os sistemas de aprendizagem computacional estão a subsƟ -
               Dito isto, afi nal o que é IA? É muito comum dizer que a IA é a simu-  tuir os algoritmos mais anƟ gos, e o resultado é muito interessante,
              lação da inteligência humana em máquinas, fazendo com que elas   porque se passam a aƟ ngir resultados muito superiores. Já não há
              tenham a capacidade de aprender, raciocinar, deduzir, fazer pre-  seres humanos capazes de tanta efi ciência e efi cácia.
              visões, etc. A inteligência arƟ fi cial é, assim, a ciência que procura
              estudar e compreender o fenómeno da inteligência e imitar o fun-  APLICAÇÕES MILITARES
              cionamento do cérebro humano em computadores, mas não tem
              necessariamente de se parecer com uma mente humana. Também   Muito por infl uência das séries televisivas e dos fi lmes, há a ideia
              é um ramo da engenharia, na medida em que procura construir   de que os sistemas de IA podem ser materializados em  robots
              instrumentos para apoiar a inteligência humana. Juntas, a ciência e   autónomos, com múlƟ plos sensores, capazes de tomar decisões
              a engenharia pretendem criar máquinas que realizem tarefas que,   e atuarem em conformidade. Estamos a caminhar rapidamente
              quando são realizadas por seres humanos, requerem inteligência.   nesse senƟ do e algum dia, no futuro, haverá essa materialização.
               A IA não se restringe à computação, alimenta-se também dos avan-  Por enquanto, o impacto real da IA no mundo militar   situa-se nas
              ços feitos nas ciências da vida e nas ciências sociais. Quanto melhor   tarefas mais mundanas, maçadoras e monótonas realizadas em
              compreendermos os mecanismos bioquímicos que subjazem às   ambientes de baixa confl itualidade. Isto é o que transparece, por-
              emoções, aos desejos e às escolhas dos seres humanos, melhores   que há, naturalmente, muito secreƟ smo neste domínio do conhe-
              os computadores se tornarão a analisar o nosso comportamento,   cimento tecnológico. Sabe-se que a IA é, já, muito úƟ l na idenƟ fi -
              prevendo as nossas decisões e, assim, subsƟ tuindo  condutores,   cação visual e acúsƟ ca e na deteção e previsão de padrões e perfi s
              bancários, médicos, advogados, militares, etc.       de ameaças, mas do que se fala mesmo é da sua aplicabilidade
                                                                   na deteção de fraudes nos serviços de contratação, na antevisão
              QUAL O ESTADO DA ARTE?                               de falhas de sistemas devido a problemas de manutenção ou no
                                                                   desenvolvimento de estratégias vencedoras em simulações de
               Os maiores avanços em IA têm sido observados em duas vastas   confl ito. Estas aplicações podem funcionar como mulƟ plicadores
              áreas: a perceção e a cognição. Na primeira categoria, os avanços   de força nas operações do dia-a-dia e na preparação para um con-
              mais práƟ cos foram realizados na área da fala. O reconhecimento   fl ito futuro.
              de voz ainda está longe da perfeição, mas já é usado por milhões   Não é fácil edifi car um sistema de IA militar, especialmente se for
              de pessoas (quem não usa a Siri, a Alexa, ou o Google Assistant?). O   um sistema com armas letais, já que o sucesso do sistema depende,
              reconhecimento de voz já é cerca de três vezes mais rápido do que   em muito, do volume de dados de treino. Ora a recolha e rotulagem
              digitar no teclado, com uma margem de erro inferior a 5%. O reco-  de grandes volumes de dados (por exemplo as assinaturas acúsƟ -
              nhecimento de voz, até em ambientes ruidosos, está praƟ camente   cas de navios de superİ cie e submarinos) é informação secreta de
              igual ou até melhor do que o desempenho humano. O reconheci-  cada Estado. Além disso, os sistemas de IA ainda são vulneráveis
              mento de imagens também melhorou imenso. Muitas aplicações,   pelo seu tamanho (“problemas de dimensionalidade”) e pela forma
              nomeadamente do Facebook, já são capazes de reconhecer amigos   como podem ser iludidos (“ingenuidade”). Treinar um sistema para
              nas fotografi as publicadas ou nas nossas galerias de imagens (para   reconhecer imagens de todos os possíveis sistemas de armas exis-
              isso estão sempre a incenƟ var-nos para idenƟ fi carmos os amigos). O   tentes envolveria milhares de categorias. Prevenir tentaƟ vas  de


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