Page 18 - Revista da Armada
P. 18
REVISTA DA ARMADA | 561
Foto Tech Sgt David W. Carbajal
DR
Submarinos autónomos chineses HSU-001. Cão de guarda autónomo.
Quanto às empresas russas, não há nenhuma “startup” do domí- reconhecimento facial está a subsƟ tuir os cartões das empresas nas
nio da IA no top das 100 melhores a nível mundial. Sabe-se que a entradas, saídas e processos de idenƟ fi cação. Podemos encontrar
Rússia está a desenvolver esforços para minimizar o atraso em rela- na Internet muitas aplicações para idenƟ fi car animais e plantas pela
ção a americanos e chineses através de uma estratégia nacional de fotografi a que Ɵ ramos com o nosso smartphone.
IA que prevê, entre outras iniciaƟ vas, programas de ensino, estrutu- Na segunda área, a da cognição e resolução de problemas, basta
ras de dados, infraestruturas e um sistema de regulação. Em março citar que as máquinas já venceram os melhores jogadores do
de 2018, o governo russo apresentou uma agenda de IA de 10 pon- mundo de xadrez, póquer e de Go (um jogo oriental). Há cada vez
tos que inclui, por exemplo, a criação de um Centro Nacional para a mais sistemas baseados em aprendizagem computacional (machine
Inteligência ArƟ fi cial. Criou também uma organização de pesquisa learning) para oƟ mizar a efi ciência de outros sistemas, para a dete-
com os princípios equivalentes aos da americana DARPA, dedicada ção de ataques informáƟ cos e para a localização de fraudes. Mui-
aos sistemas autónomos e à robóƟ ca. tas empresas estão a recorrer à aprendizagem computacional para
decidir que negócios devem realizar na bolsa e há, cada vez mais,
O QUE É A IA? bancos a tomar as decisões de concessão de crédito com base nesta
ajuda. Os sistemas de aprendizagem computacional estão a subsƟ -
Dito isto, afi nal o que é IA? É muito comum dizer que a IA é a simu- tuir os algoritmos mais anƟ gos, e o resultado é muito interessante,
lação da inteligência humana em máquinas, fazendo com que elas porque se passam a aƟ ngir resultados muito superiores. Já não há
tenham a capacidade de aprender, raciocinar, deduzir, fazer pre- seres humanos capazes de tanta efi ciência e efi cácia.
visões, etc. A inteligência arƟ fi cial é, assim, a ciência que procura
estudar e compreender o fenómeno da inteligência e imitar o fun- APLICAÇÕES MILITARES
cionamento do cérebro humano em computadores, mas não tem
necessariamente de se parecer com uma mente humana. Também Muito por infl uência das séries televisivas e dos fi lmes, há a ideia
é um ramo da engenharia, na medida em que procura construir de que os sistemas de IA podem ser materializados em robots
instrumentos para apoiar a inteligência humana. Juntas, a ciência e autónomos, com múlƟ plos sensores, capazes de tomar decisões
a engenharia pretendem criar máquinas que realizem tarefas que, e atuarem em conformidade. Estamos a caminhar rapidamente
quando são realizadas por seres humanos, requerem inteligência. nesse senƟ do e algum dia, no futuro, haverá essa materialização.
A IA não se restringe à computação, alimenta-se também dos avan- Por enquanto, o impacto real da IA no mundo militar situa-se nas
ços feitos nas ciências da vida e nas ciências sociais. Quanto melhor tarefas mais mundanas, maçadoras e monótonas realizadas em
compreendermos os mecanismos bioquímicos que subjazem às ambientes de baixa confl itualidade. Isto é o que transparece, por-
emoções, aos desejos e às escolhas dos seres humanos, melhores que há, naturalmente, muito secreƟ smo neste domínio do conhe-
os computadores se tornarão a analisar o nosso comportamento, cimento tecnológico. Sabe-se que a IA é, já, muito úƟ l na idenƟ fi -
prevendo as nossas decisões e, assim, subsƟ tuindo condutores, cação visual e acúsƟ ca e na deteção e previsão de padrões e perfi s
bancários, médicos, advogados, militares, etc. de ameaças, mas do que se fala mesmo é da sua aplicabilidade
na deteção de fraudes nos serviços de contratação, na antevisão
QUAL O ESTADO DA ARTE? de falhas de sistemas devido a problemas de manutenção ou no
desenvolvimento de estratégias vencedoras em simulações de
Os maiores avanços em IA têm sido observados em duas vastas confl ito. Estas aplicações podem funcionar como mulƟ plicadores
áreas: a perceção e a cognição. Na primeira categoria, os avanços de força nas operações do dia-a-dia e na preparação para um con-
mais práƟ cos foram realizados na área da fala. O reconhecimento fl ito futuro.
de voz ainda está longe da perfeição, mas já é usado por milhões Não é fácil edifi car um sistema de IA militar, especialmente se for
de pessoas (quem não usa a Siri, a Alexa, ou o Google Assistant?). O um sistema com armas letais, já que o sucesso do sistema depende,
reconhecimento de voz já é cerca de três vezes mais rápido do que em muito, do volume de dados de treino. Ora a recolha e rotulagem
digitar no teclado, com uma margem de erro inferior a 5%. O reco- de grandes volumes de dados (por exemplo as assinaturas acúsƟ -
nhecimento de voz, até em ambientes ruidosos, está praƟ camente cas de navios de superİ cie e submarinos) é informação secreta de
igual ou até melhor do que o desempenho humano. O reconheci- cada Estado. Além disso, os sistemas de IA ainda são vulneráveis
mento de imagens também melhorou imenso. Muitas aplicações, pelo seu tamanho (“problemas de dimensionalidade”) e pela forma
nomeadamente do Facebook, já são capazes de reconhecer amigos como podem ser iludidos (“ingenuidade”). Treinar um sistema para
nas fotografi as publicadas ou nas nossas galerias de imagens (para reconhecer imagens de todos os possíveis sistemas de armas exis-
isso estão sempre a incenƟ var-nos para idenƟ fi carmos os amigos). O tentes envolveria milhares de categorias. Prevenir tentaƟ vas de
18 ABRIL 2021