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REVISTA DA ARMADA | 561


    Foto Tech Sgt David W. Carbajal                             DR                                                         DR















         Mula (ruidosa) de transporte de carga, em apoio aos Marines. A EDA também apresentou
         recentemente o projeto ARTUS ("Autonomous Rough-terrain Transport UGV Swarm") que
         tem objeƟ vos equivalentes.                                Mini drone militar.

              falsifi cação seria ainda mais diİ cil. Esses sistemas exigiriam uma   O FUTURO
              enorme capacidade de computação, espaço e muito tempo dedi-
              cado a esses recursos.                                Muito se tem ouvido falar das tecnologias que nasceram no
               Outra fraqueza simples dos sistemas de IA é a sua incapacidade   mundo militar e que, depois, passaram a ter uƟ lidade civil. São
              mulƟ tarefa (a chamada IA Geral). Um ser humano é capaz de idenƟ -  disso exemplo a tecnologia nuclear, o GPS e a Internet. Com a IA
              fi car um veículo inimigo, decidir sobre o sistema de armas a empre-  nasce um novo paradigma, já que há muitas empresas civis na
              gar, prever a sua trajetória e, em seguida, atacar o alvo. Este con-  vanguarda do conhecimento neste domínio. O DOD já reconhe-
              junto bastante simples de tarefas interligadas é, atualmente, muito   ceu este novo paradigma, adaptando tecnologias civis para uso
              pouco provável num sistema de IA. Tal não quer dizer que sejamos   militar.
              surpreendidos com tais capacidades nos próximos anos. Há já quem   Os pilotos militares vão ser subsƟ tuídos por operadores remo-
              refi ra que a IA vai em breve permiƟ r a subsƟ tuição do tão famoso   tos. Americanos, russos e chineses, todos têm projetos de aero-
              ciclo OODA (Observar, Orientar, Decidir, Atuar), de um operador de   naves não pilotadas para a próxima década. Segundo fonte do
              um sistema de armas, por um ciclo mais concentrado com apenas   DOD, citada no documento “ArƟ fi cial Intelligence and NaƟ onal
              RDA (Reconhecer, Decidir, Atuar).                   Security” do Congresso, os militares dos EUA têm já 11 mil dro-
               Olhando, por exemplo, para as fotografi as dos novos submarinos   nes e os principais problemas são a falta de pessoal e de adequa-
              chineses XLUUVs (Extra-Large Unmanned Underwater Vehicles) e   dos sistemas para tratar e relacionar todos os dados recolhidos
              tendo em conta que as ondas eletromagnéƟ cas têm pouca pene-  diariamente pelos sensores de alta defi nição.
              tração na coluna de água, somos levados a deduzir que os XLUUVs   Na Rolls-Royce trabalha-se no desenvolvimento de navios não
              têm de ter muita inteligência para atuarem autonomamente no mar   tripulados (apesar de todas as difi culdades que se podem, facil-
              durante muitos dias ou meses.                       mente, imaginar). Os submarinos não tripulados chineses, ameri-
                                                                  canos e russos dão credibilidade às estratégias de informaƟ zação
              OS SISTEMAS DE ARMAS LETAIS AUTÓNOMOS               de todo o espectro do campo de batalha.
                                                                    A Marinha Norte-Americana acaba de apresentar o seu plano
              (LAWS)
                                                                  de construção naval para os próximos 30 anos, dando priori-
               Os LAWS são descritos como a terceira revolução na guerra, após   dade crescente aos sistemas não tripulados, à autonomia e
              a pólvora e as armas nucleares. São defi nidos como uma classe   à conecƟ vidade drone-homem. Até 2026 esperam adquirir 12
              especial de armas que podem idenƟ fi car, selecionar e atacar um alvo   Grandes Navios de Superİ cie Não Tripulados (LUSV), um Navio
              sem um controlo humano signifi caƟ vo. Há, naturalmente, quem   de Superİ cie Não Tripulado Médio (MUSV) e oito Navios Subma-
              esteja atento a esta evolução e tema os seus resultados. A Human   rinos Extra-Grandes Não Tripulados (XLUUVs).
              Rights Watch que defende, por exemplo, a irradicação de todos os   Em terra, os exércitos também vão mudar, vão ser mais peque-
              “robots morơ feros”, esƟ ma que já existam cerca de 380 Ɵ pos dife-  nos e mais tecnológicos. Há testes nos mais variados domínios e
              rentes de equipamentos militares, nomeadamente na China, Rússia,   até não faltam exemplos de robots baseados em animais, e.g.,
              França, Israel, Reino Unido e EUA, a uƟ lizarem sofi sƟ cados sistemas   cães de guarda, mulas de carga e enxames de abelhas morơ feras.
              inteligentes morơ feros.                            Seguramente que com conhecimento de causa, o general Sir Nick
               Os norte-americanos já uƟ lizaram IA em sistemas de combate,   Carter, CEMGFA do Reino Unido, afi rmou a 11 de novembro de
              nomeadamente no projeto Maven (aka  Algorithmic Warfare Cross -  2020 (Dia da Memória) no decurso duma entrevista à Sky News,
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              -FuncƟ onal Team) que usou algoritmos de IA para idenƟ fi car alvos   que «… quem sabe se em 2030 o Reino Unido não terá um exér-
              insurgentes no Iraque e na Síria.  Estas noơ cias chegaram ao Con-  cito de 120 mil elementos, dos quais 30 mil podem ser robots».
              gresso que quis saber mais sobre o assunto. Em resultado das preo-  E em 2030, como será nas Forças Armadas Portuguesas?
              cupações dos congressistas, o orçamento da Defesa para IA teve
              um acréscimo signifi caƟ vo em 2020. Ao mesmo tempo, a DireƟ va                                Dias Correia
              3000.09 (sobre a “Autonomia em Sistemas de Armas”) do Depar-                                       CMG
              tamento de Defesa (DOD) obriga agora todos os sistemas, indepen-                         hƩ ps://dc.ardico.pt
              dentemente da sua classifi cação de segurança, a serem desenhados
              para permiƟ rem, aos comandantes e operadores de sistemas, o
              exercício dos adequados níveis de julgamento humano sobre o uso   Notas
                                                                    1
              da força. A grande questão éƟ ca da atualidade é precisamente se   2  Acrónimo de also known as; em tradução livre, “também conhecidos por”.
              um AWS  pode decidir autonomamente matar um humano.    Autonomous Weapon Systems.
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