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REVISTA DA ARMADA | 561
GUERRA NO PACÍFICO
MAR DE CORAL
A IMPORTÂNCIA DA INTELLIGENCE EMPATE TÁTICO, VITÓRIA ESTRATÉGICA
AMERICANA
ntre 4 e 8 de maio de 1942, forças navais americanas e japonesas
Ecombateram aquela que fi cou conhecida pela “Batalha do Mar de O plano operacional japonês era complexo, exigindo a coor-
Coral”, a primeira batalha naval decidida exclusivamente pelo poder denação de cinco grupos principais: (1) uma força de ataque de
aéreo dos porta-aviões, sem que os navios chegassem a avistar-se. porta-aviões; (2) um grupo de invasão de Tulagi; (3), um grupo de
Os japoneses afundaram o porta-aviões Lexington e danifi caram invasão de Port Moresby; (4) um grupo de apoio; (5) e um grupo
seriamente o Yorktown, tendo perdido apenas o porta-aviões ligeiro de cobertura. Para agravar a situação, o comandante responsá-
Shoho. O que à primeira vista parecia uma vitória japonesa, contudo, vel pela coordenação desses grupos, o VALM Shigeyoshi Inouye
do ponto de vista estratégico, transformou-se numa vitória ameri- (1889-1975) permaneceu em Rabaul, a centenas de quilómetros
cana, pois os japoneses reƟ raram sem alcançar o objeƟ vo principal, da zona da batalha, sem qualquer capacidade de acompanhar, em
ou seja, a conquista da capital da Nova Guiné, Port Moresby. tempo real, o desenvolvimento dos eventos.
A intercepção e análise das comunicações rádio inimigas pela esta- O plano americano, em contraste, era bastante simples. O obje-
ção de Intelligence em Pearl Harbor comprometeu o plano japonês, Ɵ vo operacional era repelir o ataque japonês e manter as abertas
que consisƟ a no envio de 3 porta-aviões e vários navios de transporte as linhas de comunicação maríƟ ma com a Austrália. Os dois por-
de tropas para o Mar de Coral, com o objeƟ vo de atacar e tomar ta-aviões americanos, o Lexington e o Yorktown, e os seus navios
Port Moresby. Perante esta informação, Nimitz instruiu o CALM
Franck-Jack Fletcher (1885-1973), comandante da Task Force 17 DR
(USS Yorktown) e o CALM Aubrey Fitch (1883-1978), comandante
da Task Force 11 (USS Lexington), para se dirigirem para o Mar de
Coral, por forma a impedir a ocupação de Port Moresby. Embora
a “Batalha do Mar de Coral”, não tenha resultado numa vitória
táƟ ca clara para qualquer dos lados, teve por mérito impedir o
avanço das forças japonesas pela primeira vez desde o início do
confl ito.
ESTRATÉGIA JAPONESA VISANDO UMA PAZ
NEGOCIADA
A sul do arquipélago das Ilhas Salomão e a leste da Austrália
existe uma área maríƟ ma conhecida como Mar de Coral que,
durante 4 dias no início de Maio de 1942, se tornou um dos
mares mais importantes do planeta. O mundo estava em guerra
e, nos úlƟ mos quatro meses, a marcha dos eventos Ɵ nha sido
desastrosa para os Aliados. O Japão, já entrincheirado na Man- 1 1 a 6 de maio de 1942. Posicionamento da TF 44, resultante da junção das forças
navais americanas e australianas (CALM Grace). Ataques aéreos sobre uma base
chúria e na China, Ɵ nha espalhado o terror pelo Sudeste AsiáƟ co, japonesa em Tulagi.
estando agora a ameaçar o fl anco sul com o objeƟ vo de isolar 2 7 de maio. Ataques aéreos aos escoltas da força de desembarque japonesa. Afun-
a Austrália. Sem a plataforma logísƟ ca australiana, os EUA fi ca- damento do Shoho.
riam com pouca margem de manobra estratégica para conter o 3 8 de maio. Ataques aéreos aos porta-aviões de ambos os lados. O Lexington é afun-
dado, os Yorktown, Zuikaku e ShoKaku sofrem danos avultados.
avanço imperialista japonês.
A estratégia japonesa passava pela extensão do seu perímetro de escolta e de apoio, Ɵ nham a tarefa primária de efetuar ataques
defensivo que começava a norte em AƩ u e Kiska, nas Ilhas Aleutas, às forças japonesas por forma a impedir o desembarque. Como
vindo para sul por Wake, Marshall e Gilberts. A sul seguir-se-ia a ocu- tarefa secundária, deveriam afundar ou, pelo menos, pôr fora de
pação da Nova Caledónia, das Fijiis e de Samoa, o que permiƟ ria o combate, os porta-aviões japoneses, evitando, contudo, expor-se
isolamento da Austrália. Depois, expandir-se-ia para leste com a ocu- a riscos elevados.
pação de Midway e eventualmente do Havai. Com o controlo de uma As consequências do insucesso japonês foram relevantes. Em
vasta área do Pacífi co, os líderes japoneses alimentavam a esperança primeiro lugar, viram o seu movimento expansionista sofrer um
de uma paz negociada com os EUA. Em parƟ cular, Yamamoto sabia revés. Em segundo lugar, ao não conseguir isolar a Austrália, per-
que esta era, senão a úlƟ ma, pelo menos uma oportunidade de ouro miƟ ram que os Aliados pudessem uƟ lizar este conƟ nente como
para limitar e vencer a guerra, pois o seu inimigo estava ainda a com- base para as futuras operações ofensivas dirigidas a norte. Para
bater com navios da Grande Guerra, com equipamentos obsoletos, e além disso, os danos sofridos pelo Shokaku e a perda de aviões e
as suas forças ainda não estavam adequadamente treinadas. Yama- pilotos do Zuikaku, impediram que estes dois importantes porta-
moto sabia que não podia fi car à espera que o inimigo viesse até -aviões parƟ cipassem, 4 semanas depois, na batalha de Midway,
ele. Era ele quem Ɵ nha que ir atrás do inimigo, antes que a máquina onde a sua presença poderia ter sido decisiva.
industrial Americana começasse a produzir o material bélico que per-
miƟ ria, não só compensar as perdas, mas também iniciar uma con- Piedade Vaz
tra-ofensiva com recursos praƟ camente ilimitados. CFR REF
20 ABRIL 2021