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REVISTA DA ARMADA | 564







          ACADEMIA DE MARINHA



          "DE GÉNOVA A SETÚBAL - MAR E FESTAS NO CASAMENTO

          DE D. ANA DÓRIA COM D. JORGE DE LENCASTRE"



          Ultrapassados os momentos difíceis que o início do ano de 2021 nos trouxe, voltou-se à normalidade possível, às habituais sessões
          culturais, que todas as terças-feiras, ordinariamente ocorrem no auditório da Academia de Marinha, nunca esquecendo o contexto de
          pandemia em que vivemos, mas ao mesmo tempo não deixando que ele nos aprisione.
          Ao fim de três meses de hiato, a Academia retomou a sua missão de promover, desenvolver e divulgar o conhecimento respeitante
          ao mar e às atividades marítimas, com uma adesão muito significativa, já que não faltaram à chamada um considerável número de
          académicos e de habituais frequentadores, verdadeiros amantes das temáticas ligadas ao mar.

          SESSÃO CULTURAL DE REINÍCIO DE ATIVIDADES

             ssim a 20 de abril, decorreu no auditório uma sessão cultural
         Aintitulada "De Génova a Setúbal - Mar e Festas no Casamen-
          to de D. Ana Dória com D. Jorge de Lencastre", apresentada pela
          Doutora Maria João Pereira Coutinho, investigadora do Instituto
          de História da Arte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
          da Universidade Nova de Lisboa.
           A apresentação focou «uma viagem entre a República Geno-
          vesa e Setúbal, terra do Sal, que teve por objetivo a entrega da
          mão de D. Ana Dória, filha de André Dória, Príncipe de Melfi, e
          de D. Joana Colona, a D. Jorge de Lencastre (1594-1632), filho de
          D. Álvaro (1540-1626) e de D. Juliana de Lencastre (1560-1636),
          Duques de Aveiro». A análise deste casamento foi feita a partir
          de três “eixos”:
           Em primeiro lugar, as «Festas no Mar» — uma pequena análise
          a anteriores entradas marítimas, como parte de cerimónias nup-
          ciais, como introito aos esponsais de D.ª Ana com D. Jorge, desde
          a sua preparação até à viagem entre Génova e Setúbal.                                                  Fotos CMOR A Paulo Dias
           Depois as «Festas na Terra», em particular o impacto que as
          celebrações e a sua preparação tiveram na vila de Setúbal (en-
          quanto «Terra do Sal» e porto marítimo-fluvial) — alvo de um
          programa de embelezamento, particularmente da sua fachada
          ribeirinha.
           Finalmente, as descrições feitas deste evento, particularmente
          por João Baptista Lavanha, Cronista do Reino e Mestre do Prín-
          cipe, correlacionando-o outras políticas de enlace no período da
          União Ibérica.
           Pelos dados da conferencista, a cerimónia fortaleceu o go-
          verno  hispano-português  relativamente  ao  conhecimento  das
          práticas cerimoniais áulicas da primeira metade de Seiscentos,
          em Portugal. A importância dada ao mar e ao rio, relativamente
          à chegada, traduziu-se na «tentativa de transformação do “fá-
          cies” ribeirinho de Setúbal, por forma a melhor se adequar ao
          supramencionado evento». Esta “operação cosmética”, visando
          o embelezamento da então vila, foi concretizada graças ao finan-
          ciamento da Companhia de Jesus.
           Há muito tempo que a vila esperava a vinda do monarca rei-
          nante; este casamento com o Mar como palco e com os mem-
          bros da Companhia de Jesus como atores, poderá ter sido um
          ensaio para a crónica redigida por ocasião da visita de Filipe III a
          Portugal em 1619.


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