Page 27 - Revista da Armada
P. 27
REVISTA DA ARMADA | 564
ACADEMIA DE MARINHA
"DE GÉNOVA A SETÚBAL - MAR E FESTAS NO CASAMENTO
DE D. ANA DÓRIA COM D. JORGE DE LENCASTRE"
Ultrapassados os momentos difíceis que o início do ano de 2021 nos trouxe, voltou-se à normalidade possível, às habituais sessões
culturais, que todas as terças-feiras, ordinariamente ocorrem no auditório da Academia de Marinha, nunca esquecendo o contexto de
pandemia em que vivemos, mas ao mesmo tempo não deixando que ele nos aprisione.
Ao fim de três meses de hiato, a Academia retomou a sua missão de promover, desenvolver e divulgar o conhecimento respeitante
ao mar e às atividades marítimas, com uma adesão muito significativa, já que não faltaram à chamada um considerável número de
académicos e de habituais frequentadores, verdadeiros amantes das temáticas ligadas ao mar.
SESSÃO CULTURAL DE REINÍCIO DE ATIVIDADES
ssim a 20 de abril, decorreu no auditório uma sessão cultural
Aintitulada "De Génova a Setúbal - Mar e Festas no Casamen-
to de D. Ana Dória com D. Jorge de Lencastre", apresentada pela
Doutora Maria João Pereira Coutinho, investigadora do Instituto
de História da Arte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa.
A apresentação focou «uma viagem entre a República Geno-
vesa e Setúbal, terra do Sal, que teve por objetivo a entrega da
mão de D. Ana Dória, filha de André Dória, Príncipe de Melfi, e
de D. Joana Colona, a D. Jorge de Lencastre (1594-1632), filho de
D. Álvaro (1540-1626) e de D. Juliana de Lencastre (1560-1636),
Duques de Aveiro». A análise deste casamento foi feita a partir
de três “eixos”:
Em primeiro lugar, as «Festas no Mar» — uma pequena análise
a anteriores entradas marítimas, como parte de cerimónias nup-
ciais, como introito aos esponsais de D.ª Ana com D. Jorge, desde
a sua preparação até à viagem entre Génova e Setúbal. Fotos CMOR A Paulo Dias
Depois as «Festas na Terra», em particular o impacto que as
celebrações e a sua preparação tiveram na vila de Setúbal (en-
quanto «Terra do Sal» e porto marítimo-fluvial) — alvo de um
programa de embelezamento, particularmente da sua fachada
ribeirinha.
Finalmente, as descrições feitas deste evento, particularmente
por João Baptista Lavanha, Cronista do Reino e Mestre do Prín-
cipe, correlacionando-o outras políticas de enlace no período da
União Ibérica.
Pelos dados da conferencista, a cerimónia fortaleceu o go-
verno hispano-português relativamente ao conhecimento das
práticas cerimoniais áulicas da primeira metade de Seiscentos,
em Portugal. A importância dada ao mar e ao rio, relativamente
à chegada, traduziu-se na «tentativa de transformação do “fá-
cies” ribeirinho de Setúbal, por forma a melhor se adequar ao
supramencionado evento». Esta “operação cosmética”, visando
o embelezamento da então vila, foi concretizada graças ao finan-
ciamento da Companhia de Jesus.
Há muito tempo que a vila esperava a vinda do monarca rei-
nante; este casamento com o Mar como palco e com os mem-
bros da Companhia de Jesus como atores, poderá ter sido um
ensaio para a crónica redigida por ocasião da visita de Filipe III a
Portugal em 1619.
JULHO 2021 27