Page 28 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 564
ACADEMIA DE MARINHA
"ESTRADAS INTELIGENTES: EXPETATIVAS E DESAFIOS DA
MOBILIDADE NO FUTURO"
Apesar de estar vocacionada para a promoção, desenvolvimento e divulgação do conhecimento respeitante ao mar e às atividades maríti-
mas, a Academia de Marinha é também um espaço aberto aos seus Académicos e aos temas que estes tenham como de especial interesse
divulgar entre a comunidade académica.
VIAS E VEÍCULOS TERRESTRES
Foi dentro deste quadro que, em 22 de abril, teve lugar uma co-
municação dedicada ao tema “Estradas inteligentes: expetativas e
desafios da mobilidade no futuro”, em que foi orador o Professor
Engenheiro Armando Teles Fortes, atual Presidente da Associação de
Oficiais da Reserva Naval (AORN), Consultor da Clínica de Engenharia
Civil e Especialista em transportes e vias de Comunicação da Ordem
dos Engenheiros.
As Estradas são infraestruturas que apresentam grande diversida-
de e, por vezes, elevada complexidade. Desenvolvem-se ao longo do
território e proporcionam o contacto entre diferentes comunidades
e nacionalidades. Permitem a circulação de veículos muito variados:
pesados e ligeiros, de mercadorias ou de passageiros, motociclos e
bicicletas, entre outros. Têm ainda a característica de atravessarem
gerações, porque a sua vida útil pode ser quase indefinidamente
prolongada por obras de conservação, alargamento e reabilitação.
Para o orador, a era da globalização trouxe novas oportunidades
e desafios à Humanidade. As novas tecnologias possibilitaram que
todos os seres humanos se conectassem em rede, e isso, duma ma-
neira ou doutra, levou ao desenvolvimento das vias de comunicação
terrestres, a uma rápida evolução nos veículos e a maiores autono-
mias, ou seja, operou uma revolução da mobilidade rodoviária.
O conceito de estrada inteligente tem a sua origem na década de
80 do século passado; a estrada seria dotada de diversos equipa-
mentos que permitissem a condução autónoma dos veículos. A es-
trada teria total controlo sobre os veículos que nela circulassem.
Contudo esta definição não prosperou. A competição entre fabri-
cantes de veículos fez com que o conceito passasse a estar centrado
no veículo e não na estrada, dando assim origem aos veículos com
piloto automático e, consequentemente, a uma redução significati-
va dos acidentes.
A terminar a sua sessão, o Professor Teles Fortes deixou-nos algu-
mas reflexões referentes ao futuro: «Justificar-se-á a criação de fai-
xas específicas ou de estradas exclusivas para veículos autónomos?
Como se processará a convivência com os veículos de duas rodas?
Será a circulação de peões afetada? E a circulação em situação de
emergência? Que grandes desafios se vão por tanto às novas infra-
estruturas rodoviárias como às existentes? Que outros desafios se
colocam, sabendo que será longo o período em que vão coexistir na
mesma infraestrutura veículos em diversos estados de evolução? O
conceito das Estradas Inteligentes estará intimamente ligado a este
novo tipo de veículos ou terá por base outros pressupostos mais
abrangentes?»
As respostas às questões atrás elencadas constituirão desafios
importantes para a Humanidade, e obrigarão a repensar tanto a
responsabilidade em caso de acidente, como os princípios éticos e
morais subjacentes à condução autónoma e aos crimes cibernéticos.
28 JULHO 2021