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REVISTA DA ARMADA | 568
          CENTRO DE MEDICINA



          SUBAQUÁTICA E HIPERBÁRICA



          UMA UNIDADE OPERACIONAL AO SERVIÇO


          DA COMUNIDADE



          A terapêutica em câmaras hiperbáricas existe, na Marinha e em Portugal, desde 1953, fruto da necessidade de dar resposta ao tratamento
          urgente de militares acidentados (mergulhadores e submarinistas), cuja saúde, e vida, dele depende, assim como o seu treino.

          TRATAMENTO GOLD STANDARD                             – A ausência de câmaras hiperbáricas, na sociedade civil, que
                                                              dessem resposta às solicitações anteriormente referidas; e
                           s bolhas de azoto que se formam nos   – O desenvolvimento científico, que criou a procura do SNS para
                        Avários  órgãos  do  corpo  humano,  como   este tipo de terapêutica.
                        consequência de uma descompressão ina-  De fato  começou  a surgir, nas  publicações médicas
                        dequada, podem resultar em lesões articu-  internacionais, evidência crescente da aplicabilidade do oxigénio
                        lares, neurológicas, cardíacas, pulmonares e   hiperbárico numa multiplicidade de outras patologias, para além
                        outras,  conduzindo  a importantes  sequelas   da Doença de Descompressão.
                        ou mesmo à morte.                      Foi neste ambiente que, em 1989, a Marinha decidiu aproximar,
           O  tratamento  gold  standard  continua  a  ser,  ainda  hoje,  a   física  e  institucionalmente,  a  câmara  hiperbárica  do  Hospital
          recompressão terapêutica em câmara hiperbárica.     da Marinha.  Era nesse  hospital que os primeiros médicos
           Foi com esta missão em mente que, nesse ano de 1953, foi   hiperbaristas  prestavam  serviço,  e  para  onde  se  julgou  lógico
          instalada a primeira câmara hiperbárica na, então, Esquadrilha   serem  referenciados  os  doentes  civis.  Em  vez  de  se  limitar  a
                                                              transferir a câmara existente na Esquadrilha de Submarinos, a
          de Submarinos. A localização foi óbvia, uma vez que aquela é a   Marinha decidiu utilizar uma câmara hiperbárica multilugar, mais
          unidade-base de todos os militares em risco laboral de Doença   moderna e confortável, que permitia utilizar misturas de gases
          de Descompressão – os mergulhadores e os submarinistas.   e que tinha capacidade para tratar 12 doentes em simultâneo.
           A  aquisição  de  uma  nova  câmara  hiperbárica,  em  1963,   Foi então criado o Serviço de Medicina Hiperbárica, que evoluiu
          reforçou a importância que a instituição conferiu àquele meio   posteriormente para Centro de Medicina Hiperbárica (CMH-HM).
          terapêutico e à salvaguarda da vida dos seus militares.  Em  1992  foi  criada  uma  escala  de  prevenção  para  situações
           Sem nunca perder de vista aquela que era a sua genética –   urgentes, que incluía um médico hiperbarista, um enfermeiro e
          o  apoio  às  unidades  operacionais  da  Marinha  –  os  Médicos   dois mergulhadores, disponível 24 horas por dia, todos os dias
          Navais  hiperbaristas  acabaram  por  acompanhar  a  evolução   do ano. Esta escala funciona ininterruptamente desde então. De
          da  Medicina  Hiperbárica  a  nível  mundial  e,  nessa  sequência,   referir que, atualmente, a taxa de ativação desta urgência se cifra
          desenvolver a aplicabilidade do tratamento hiperbárico a outras   nos cerca de 60%, o que a transforma praticamente numa escala
          doenças além da Doença de Descompressão, dando início, ainda   em presença física.
          na Esquadrilha de Submarinos à longa e
          profícua colaboração com o Serviço Nacional
          de  Saúde  (SNS),  que  hoje  se  encontra
          oficializada  na  sua  missão.  Foi  o  início  da
          Medicina  Hiperbárica  contemporânea,  em
          Portugal.
           Este  início  foi,  à  data,  muito  incipiente,
          já que a câmara não tinha possibilidade de
          entrega de oxigénio puro, tendo os doentes
          (mesmo  os  civis)  de  realizar  o  tratamento
          recorrendo a garrafas de oxigénio individuais.

          ABERTURA À SOCIEDADE CIVIL

           Foram,  assim,  três  os  fatores  que  abriram
          as portas da nossa câmara hiperbárica, e da
          Marinha, à sociedade civil:
           – Uma importante capacidade sobrante na
          câmara hiperbárica existente (que funcionava,
          até então, apenas para treino de pessoal ou
          acidente de descompressão);


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