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REVISTA DA ARMADA | 570
30 ANOS AO SERVIÇO DA MARINHA
NRP CORTE-REAL
INTRODUÇÃO HOMENAGEM E LEGADO
a década de noventa do século passado ocorreu uma sig- O nome selecionado para a terceira fragata da classe Vasco
Nnificativa valorização da esquadra da Marinha Portugue- da Gama homenageia a família de navegadores “Corte-Real”,
sa, com a aquisição dos três navios da classe Vasco da Gama dos séculos XIV e XV.
e com capacidade de embarcar helicópteros orgânicos atra- Em 1472, João Vaz Corte-Real realizou viagens até à costa
vés do ressurgimento da componente aeronaval. da Gronelândia e da Terra Nova. Inspirados pelo pai, os seus
Caracterizados como escoltas oceânicos do tipo fragata e filhos – Gaspar e Miguel Corte-Real – seguiram-lhe as pisadas,
dispondo de grandes capacidades em termos de comando, rumando até aos territórios da Nova Escócia e Nova Inglaterra.
controlo e comunicações, armas e sensores, autossustentação A primeira das expedições, comandada por Gaspar
logística e redundância técnica, a sua entrada ao serviço Corte-Real, saiu de Lisboa por volta de 1501 e chegou à
levou a um enorme avanço da Marinha, não apenas ao nível Terra do Lavrador e à Terra Nova, tendo posteriormente
tecnológico, mas também ao nível do desempenho e desaparecido. No ano seguinte Miguel Corte-Real
da proficiência dos militares embarcados. empreendeu uma expedição tentando localizar
Com a entrega à Marinha, em 22 de o seu irmão, acabando também ele por
novembro de 1991, do terceiro navio da desaparecer.
classe, foi concluído o processo de aquisição Como prova destas longínquas explorações
das fragatas do programa MEKO. Este último subsistem:
navio foi aumentado ao efetivo dos navios – A Carta de Cantino (1502), em que nas
da Armada pela Portaria n.º 363/91 (2.ª atuais terras canadianas se indica "Terra del
série) de 18 de outubro de 1991, do Ministro Rey de Portugal";
da Defesa, passando a ser designado por NRP – A pedra de Dighton, onde se lê "Por
Corte-Real. vontade de Deus, aqui me tornei chefe de
Passados trinta anos, o NRP Corte-Real continua índios, Miguel Corte-Real, 1511"; e
a cumprir as suas missões. Os navios militares são – O Atlas de Fernão Vaz Dourado (1576), onde está
um ativo essencial para o propósito de assegurar a soberania inscrito "Esta é a terra dos Corte-Reais".
nacional, a defesa e o exercício da autoridade do Estado O primeiro navio da Marinha que ostentou o nome Corte-
no mar, permitindo a concretização de missões militares e -Real foi a fragata USS McCoy Reynolds, transferida para
outras, de natureza pública. Porém, tradicionalmente, para Portugal pelos Estados Unidos da América, juntamente com
efeitos de planeamento, considera-se que os navios militares a Fragata Diogo Cão. A cerimónia de entrega do NRP Corte-
têm uma vida útil (período de utilização operacional) média -Real, com o número de amura F334, ocorreu na Baía de
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de 30 anos ; ou seja ,deverá existir, tão cedo quanto possível, S. Francisco, em fevereiro de 1957. Entrou a barra de Lisboa,
uma decisão política que lance o processo de obtenção dos pela primeira vez, em setembro desse ano. Realizou diversas
meios navais (tipo e quantitativo) julgados apropriados às e variadas missões na Madeira, nos Açores, em Cabo Verde,
missões fixadas, em substituição dos atualmente ao serviço na Guiné e no Brasil, tendo sido abatido ao efetivo dos navios
da Marinha e, consequentemente, de Portugal. da Armada em novembro de 1968.
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