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REVISTA DA ARMADA | 573

           «Entrego-vos  a  nova  bandeira  nacional.  Que  seja  coberta  de   JAQUE NACIONAL E FLÂMULA NACIONAL
          glória  e  mais  feliz  do  que  aquela  que  a  República  fez  abater».
          Por  ocasião  das  celebrações  dos  270  anos  da  restauração  da
          independência, seria pela primeira vez içada na Câmara Municipal
          de Lisboa ao som de A Portuguesa, local onde a 5 de outubro havia
          sido proclama a República. Declarado pelo governo como o “Dia
          da Bandeira”, seriam instituídos feriados nacionais os dias 31 de
          janeiro, 5 de outubro e 1 de dezembro.
           Com as honras preconizadas pelos regulamentos em vigor, nas   O jaque nacional é a bandeira quadrada que é içada à proa dos
          unidades  militares  a  bandeira  nacional  é  diariamente  içada  às   navios da Marinha Portuguesa em estado de armamento, quan-
          oito horas da manhã e arriada ao pôr do sol.        do atracados ou fundeados. Se comandados por oficial ostentam
                                                              também  a  flâmula  nacional  içada  no  respetivo  mastro.  Foram
          ESTANDARTE NACIONAL                                 igualmente aprovados pelo mesmo Decreto da Assembleia Na-
                           O estandarte nacional é a bandeira de desfi-  cional Constituinte:
                          le das unidades militares e onde estas osten-  «A orla do jack será verde e de largura igual a um oitavo da tra-
                          tam as condecorações, nacionais e estrangei-  lha. O escudo e a esfera armilar assentarão sobre o pano cen-
                          ras,  com  que  são  agraciadas.  Foi  aprovado   tral, escarlate, ficando equidistante das orlas superior e inferior.
                                                               A altura do emblema central será de três sétimos da tralha. O
                          pelo mesmo Decreto da Assembleia Nacional   comprimento do jack será igual ao da tralha. As flâmulas serão
                          Constituinte:                        verdes e vermelhas».
                          «Nas bandeiras das differentes unidades mi-
                          litares, que serão talhadas em seda, a esfera  HINO NACIONAL
                          armilar, em ouro, será rodeada por duas ver-  À  exceção  da  França,  até  ao  século  XIX  nenhum  outro  país
                          gônteas de loureiro, também em ouro, cujas   dispunha de hino nacional, encontrando-se as marchas e cantos
                          hastes se cruzam na parte inferior da esfera,   oficiais apenas consignados aos corpos militares. Uma vez que o
                          ligados por um laço branco, onde, como le-  ideário coletivo das monarquias se encontrava consubstanciado
                          genda immortal, se escreverá o verso camo-  na legitimação divina do soberano, não existia, ainda, a noção de
                                                              hino nacional.
                          neano; Esta é a ditosa pátria minha amada».  Com música do compositor Alfredo Keil (1850-1907) e letra do
           Pelo Decreto n.º 10:823 do Ministério da Marinha, em 1925 pas-  Capitão-de-mar-e-guerra  Henrique  Lopes  de  Mendonça  (1z856-
          saram «a existir na Armada dois tipos de estandartes [nacionais]»,   1931),  A Portuguesa  foi  composta  no  rescaldo  emocional  do
          o n.º 1 e o n.º 2, o primeiro destinado às unidades em terra e o se-  Ultimato inglês de 1890. Em resultado das cedências do governo às
          gundo exclusivo das unidades navais, que se distingue por ter «no   pretensões inglesas, com anuência do rei D. Carlos I (1863-1908),
          canto superior, junto à tralha, uma cruz de cristo filetada a ouro».   gerou-se  em  Portugal  um  movimento  nacionalista  antibritânico,
          Permanecem ambos em vigor e o direito ao seu uso é regulado   que rapidamente evoluiria para contestação à própria monarquia.
          pelo Decreto-Lei n.º 46/92, de 4 de abril. O referido diploma seria   Culminaria  com  a  revolta  de  31  de  janeiro  de  1891,  no  Porto,
          complementado pela Portaria n.º 312, do Ministro da Defesa Na-  visando a implantação da república. Apesar de ter sido concebida
          cional, de 27 de março de 2020, que aprovou os modelos e partes   com o intuito de unir os portugueses em torno de um sentimento
                                                              comum, A Portuguesa acabou por se tornar a marcha dos revoltosos,
          que constituem o estandarte nacional.               razão pela qual seria doravante proibida nos atos oficiais do regime
                                                              monárquico. Recuperada pela revolução de 5 de outubro de 1910,
          BRASÃO DE ARMAS                                     a 17 de novembro desse ano o Ministério da Guerra determinava
                             O brasão de armas ou armas de Portugal   que quando A Portuguesa fosse interpretada «todos os militares
                            coexiste em duas versões, como é comum   presentes,  quando  fardados,  fizessem  continência  e,  estando
                            na heráldica, sendo a sua utilização ditada   à paisana, se descobrissem, conservando-se de pé, em ambos os
                            pelo grau de solenidade. Pode, assim, sur-  casos, até ao final da execução». Naquele Decreto da Assembleia
                            gir na versão de armas maiores ou armas   Nacional  Constituinte  ficaria  definido  que  «o hymno nacional é
                            grandes e na versão de armas menores ou   A Portuguesa».
                                                               Em  virtude  daquele  diploma  não  ter  aprovado  a  música  nem
                           armas simples. As armas grandes são com-  a respetiva letra, com o tempo foram surgindo diferentes variantes
                           postas pelo escudo sobre a esfera armilar,   do hino nacional, não só na linha melódica como até na própria
                           acompanhados  por  duas  vergônteas  de   instrumentação,  especialmente  para  banda.  Para  obviar  o  seu
                           loureiro atadas por uma fita de verde e de   desvirtuamento e fixar o respetivo cânone, em 1956 era criada
                           vermelho. São utilizadas nas situações onde   uma  comissão  encarregada  de  estabelecer  a  versão  oficial  do
                           impera maior formalidade, designadamen-  hino  nacional.  Os  trabalhos  culminariam  com  a  elaboração
          te, no estandarte nacional, assim como na documentação oficial da   de uma proposta que fixou a letra e a música de A Portuguesa,
          República Portuguesa, aqui ladeadas pela sigla SR (Símbolo da Repú-  aprovada  em  sede  de  Conselho  de  Ministros  a  16  de  julho  de
          blica). Por seu turno, as armas menores são compostas apenas pelo   1957. Contempla uma versão para grande orquestra sinfónica, da
          escudo sobre a esfera armilar, a exemplo do que sucede na bandeira   autoria do compositor, maestro e musicólogo Frederico de Freitas
                                                              (1902-1980), e uma versão para grande banda marcial, da autoria
          nacional. Quanto à sua descrição heráldica, pode ler-se da seguinte   do maestro e inspetor das bandas militares Major Lourenço Alves
          forma: escudo de prata com cinco escudetes de azul postos em cruz,   Ribeiro (1899-1993). O hino nacional é por norma executado nas
          carregados com cinco besantes de prata postos em aspa, bordadura   cerimónias nacionais, civis e militares, onde é rendida homenagem
          de vermelho carregada de sete castelos de ouro. Escudo posto so-  à pátria, à bandeira nacional ou ao Presidente da República.
          bre a esfera armilar [circundada por duas vergônteas de loureiro de   Na  opinião  do  Prof.  Doutor  Nuno  Severiano  Teixeira,
          ouro, atadas por uma fita de verde e de vermelho].  «os  símbolos  nacionais  são  instrumentos  de  sacralização  laica


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