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entre outras, a APORVELA, a Federação
Portuguesa de Vela, o Instituto para a
Juventude. Este aspecto, porém, não chegou
a ser considerado.
Actualmente, o Creoula funciona na
dependência do Ministério da Defesa, dis-
põe de uma tripulação fornecida pela
Marinha e, para fazer face aos encargos, é
fixada uma capitação diária para cada ins-
truendo que seja embarcado em viagens de
treino. Na opinião de LGL, o balanço da
actividade do Creoula é positivo. Todavia,
considera que a missão de navio-escola
seria melhor cumprida se os jovens que
embarcam fossem seleccionados entre
aqueles que frequentam os cursos de ini-
ciação náutica ou cursos mais avançados da
Marinha de Recreio. Assim, havia a garantia
de serem aproveitadas as verdadeiras
vocações.
Há algum tempo atrás, LGL teve conheci-
mento que o Santa Maria Manuela, também
ex-lugre como o Creoula, e, aliás, seu sister-
-ship, se encontrava arrumado ao cais,
depois de ter operado como navio de cabo-
tagem a motor. Nesta cruzada de defender a
memória das coisas do mar, LGL, colaborou
com a Liga dos Amigos do Museu de Ílhavo,
para transformar o Santa Maria Manuela em
navio-escola, servindo assim aquela zona
do país com tão antiga tradição marítima.
O casco e os motores foram adquiridos e,
actualmente, o Museu de Ílhavo e o próprio
Município estão empenhados em conseguir
as verbas que permitam pôr a navegar, no
nosso país, um segundo navio de treino de
mar.
Aqui terminamos esta bela história que
quisemos partilhar com os leitores da
Revista da Armada, porque constitui um
bom exemplo de como se pode consagrar
uma vida ao mar e à vela, decerto como
A caravela Boa Esperança.
prazer pessoal, mas, especialmente, con-
que muito o valorizava, em relação aos ou- Para a transformação do Creoula, LGL e o tribuindo para a divulgação desta activi-
tros lugres portugueses da pesca do baca- Contra-Almirante Rogério d’ Oliveira elabo- dade, tão pouco praticada pelos Portugue-
lhau: o casco não era de madeira mas de ram um plano de remodelação. Utilizando ses. Se a iniciativa de recuperar o Creoula,
um aço de alta qualidade que. aliás, fora verbas do Fundo das Pescas, abriu-se um transformando-o em navio de treino de mar,
adquirido para a construção de um destroyer concurso público, sendo a obra adjudicada já merece o nosso aplauso, a construção das
para a Marinha de Guerra Portuguesa, que à firma Parry & Son, que ultrapassou a verba caravelas foi, sem qualquer dúvida, uma
nunca chegou a fazer-se. prevista e não terminou os trabalhos por ter medida do mais alto significado nacional.
O Creoula manteve-se alguns anos naque- sido declarada falência. Entregue a obra à Na realidade, exceptuando a comemoração
le Ministério. Entretanto o Ministério da Argibay, a situação repete-se. O Creoula só do Tratado de Tordesilhas – uma proposta
Cultura sugeriu a utilização do navio como terminou os fabricos, em pequenas emprei- nossa, concretizada pelo Contra-Almirante
museu itinerante, mas esta solução não agra- tadas executadas em administração directa. Victor Crespo, no âmbito da Marinha de
dava à APORVELA porque restringia o seu O Creoula acabou por atingir a opera- Guerra e com a participação da CNCDP –
uso como navio de treino de mar. cionalidade mas constatou-se que a sua que envolveu navios da Marinhas de vários
Passado algum tempo, quando o enge- manutenção era extremamente onerosa países, o Mar teria sido completamente
nheiro Gonçalves Viana assumiu as fun- para a APORVELA. Com a colaboração do esquecido, ao festejarmos os 500 anos da
ções de Secretário de Estado das Pescas, Contra-Almirante Gama Higgs, LGL elabora maravilhosa saga dos navegadores
interessou-se pelo assunto promovendo a um projecto de legislação, tendo em vista a Lusitanos, se não fossem as duas caravelas
transferência do Creoula para a sua Secre- transferência do Creoula para o Ministério que devemos ao entusiasmo e à persistência
taria de Estado, indemnizando o anterior da Defesa Nacional, com o estatuto de na- do Engenheiro Luís Guimarães Lobato. A
comprador com 7 000 contos, importância vio auxiliar à semelhança do que acontece Boa Esperança e a Bartolomeu Dias foram,
que englobou a despesa com a aquisição noutros países, passando a ser tripulado por assim, os verdadeiros ex-libris dessas
do navio e outros encargos. Deste modo pessoal da reserva ou do activo. É sugerido Comemorações.
contribuiu para que a APORVELA viesse a ainda que o estatuto do navio seja tal que
ter um navio escola. Mas as coisas não se torne possível a colaboração permanente A. Estácio dos Reis
afiguraram fáceis. com as entidades civis, que deviam incluir, CMG
12 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA