Page 268 - Revista da Armada
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Uma reparação
Uma reparação
muito particular
muito particular
oder-se-á perguntar se se podem execu-
tar reparações sem que tenha ocorrido
Puma avaria.
A resposta não é díficil, mesmo para quem
não tenha formação técnica, pois é matéria
que aprendemos por experiência própria.
Pelo menos quando levamos automóvel à
revisão!… À saída, julgamos ter feito uma
grande reparação, mas quando lá deixámos o
carro, este não tinha nenhuma avaria!…
Esta reparação no motor principal de EB (1)
do NRP “Álvares Cabral”, efectuada fora do
período atribuído para a manutenção planea-
da, só aconteceu porque realmente houve
uma avaria. Uma avaria grave!
Falar de avarias, das suas causas e conse-
quências, não é uma tarefa agradável, nem
este é o local adequado, por isso, proponho-
-me apenas falar da sua reparação, agora que
o navio voltou ao Mar com todas as suas
capacidades materiais - as humanas nunca
O embarque do bloco armado devidamente protegido.
estiveram em causa.
O NRP “Álvares Cabral” integrou a lidades não ficaram diminuídas, pois a do Alfeite; numa 2ª fase, durante a permanên-
STANAVFORLANT (2) a 12 de Março em turbina de gás do mesmo veio propulsor cia de 5 dias do navio em Lisboa, seriam
Port Canaveral, porto da costa Atlântica do assegura todas as capacidades do motor, preparados os acessos para que a 3ª fase, a
estado americano da Florida e sede da con- excepto a redundância. montagem do motor a bordo, se efectuasse na
quista do espaço, cidade dos foguetões e dos À distância, em Lisboa, graças aos sistemas Base Naval de Wilhelmshaven – Alemanha,
“space shutles”. de comunicação que permitem um acom- durante uma estadia prevista para esta base,
Já a navegar, em trânsito para o primeiro panhamento em “directo”, já se pensava na com duração de 10 dias. A tarefa não se avizi-
exercício com a Força, ocorreu uma situação melhor maneira de ajudar o navio a ultrapas- nhava fácil, nada fácil mesmo, mas toda a
de alarme nas máquinas, que horas mais tarde sar a situação, pensando sempre na impor- envolvente assim o obrigava.
se confirmava ter resultado de uma avaria tantíssima missão que então se avizinhava – O tempo era escasso e portanto não havia
grave no motor principal de EB. Caso se con- o comando nacional da STANAVFORLANT. um minuto a perder. O delegado da Direcção
firmassem as primeiras suspeitas, o pessoal do Passando à frente de algumas decisões de Navios tirava notas e elaborava o planea-
navio pouco poderia fazer, a não ser iniciar importantes tomadas pela direcção técnica – a mento, em função da evolução da situação. O
todos os procedimentos administrativos que Direcção de Navios, vamos então começar a pessoal do departamento de propulsão e ener-
uma situação desta natureza requer. reparação, agora sem fato-de-macaco e sobre- gia, sem nunca deixar de pensar na hipótese
Quem conhece o sistema propulsor desta tudo sem a incerteza que caracteriza sempre de encontrar a causa da avaria, “atacou” o
classe de navios sabe que as suas potencia- uma análise de avaria: motor de tal forma, que 3 dias mais tarde o
A avaliação da situação motor tinha ganho outra forma – um organiza-
não deixava dúvidas. O do amontoado de peças no hangar do
motor tinha que sofrer uma helicóptero. A equipa do Arsenal que foi
intervenção ao nível da deslocada para o local, recebeu então o
revisão geral, mas o navio “serviço” ainda com muito trabalho pela
estava a alguns milhares de frente. Nos dez dias que se seguiram o motor
milhas da BNL, a iniciar foi retirado do módulo, desmontado, limpo,
uma importante missão excaixotado e enviado para o Arsenal. Toda
para a qual tinha sido tão esta operação só foi possível, pois de Lisboa
bem preparado. Por forma foram enviadas as ferramentas especiais
a minimizar as consequên- necessárias e porque a palavra confiança
cias e por conseguinte os esteve sempre presente em todas as decisões,
custos, a linha de acção nesta hora crítica para a Marinha.
traçada foi a seguinte: A 31 de Março, já com o Comodoro (4)
numa 1ª fase, na Base embarcado o navio fez-se ao mar, agora
Naval de Mayport, Florida, como navio-chefe e consequentemente com
o motor seria desmontado e responsabilidades acrescidas.
transportado via aérea para O motor foi chegando ao Arsenal em con-
iniciar a reparação em ofici- juntos de componentes, reparado, montado e
Movimentação do bloco do motor no interior do hangar. na, neste caso no Arsenal preparado para a montagem em compo-
14 AGOSTO 2001 • REVISTA DA ARMADA