Page 269 - Revista da Armada
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nentes armados, uma forma de reparação
         nunca efectuada nesta classe de navios.
         Nesta fase, a recuperação do bloco foi a tare-
         fa de maior complexidade, mas a requisição
         de todos os sobressalentes necessários tam-
         bém merece referência, pois estamos a falar
         de centenas de peças: a requisição, o forneci-
         mento e o respectivo controlo, entenda-se.
           A 12 de Abril, com o distintivo do
         COMSTANAVFORLANT (5) içado no mas-
         tro, o navio atraca em Lisboa para uma visi-
         ta de rotina de 5 dias. A abertura logística
         (6) necessária ao embarque do motor é efec-
         tuada, por forma a que na 3ª fase os traba-
         lhos possam ser executados sem o recurso a
         entidades externas e o tempo de preparação
         seja mínimo. Esta intervenção, também
         preparada antes da chegada do navio, foi
         um êxito. Atrevo-me a dizer que era pratica-
         mente impossível fazer melhor.
           Mais uma vez o navio volta ao mar, agora
         em águas bem conhecidas.
           Na oficina o trabalho continua. A ope-  Fase crítica da movimentação do bloco. A extremidade de ré do veio de manivelas ainda não passou pela abertura.
         ração de montagem do motor a bordo tam-
         bém já está em preparação.         logística. O primeiro dia de trabalho estava  Como corolário permitam-me, esta repara-
           Com alguns dias de avanço em relação ao  terminado.                 ção só foi possível devido a algumas decisões
         previsto, terminou a reparação em oficina. O  Logo pela manhã do dia seguinte foi tam-  que envolveram algum risco, mas que foram
         motor estava preparado para o transporte,  bém movimentado para o módulo dos  sempre ponderadas, analisando-se as vanta-
         agora por via terrestre, em direcção ao norte  motores um outro conjunto de grandes  gens e os inconvenientes das possíveis linhas
         da Alemanha. Entretanto, o navio terminava  dimensões, a caixa de gases com todos os  de acção, e também devido ao esforço do
         mais uma visita do seu calendário e rumava à  sobrealimentadores montados. Para quem  pessoal que ficou na rectaguarda, desde a
         Base Naval de Wilhelmshaven, onde chegou  não está familiarizado com estes motores,  direcção técnica e o organismo abastecedor,
         a 18 de Maio. No cais estava o delegado da  este conjunto, em si mesmo parece um outro  ao pessoal do estaleiro não directamente
         Direcção de Navios, uma equipa de nove téc-  motor. Seguiram-se todos os outros compo-  envolvido, ao fabricante através da disponibi-
         nicos do Arsenal, o motor e muita vontade de  nentes e acessórios, que com maior ou  lização de sobressalentes, mas sobretudo
         cumprir esta missão. A 3ª fase da reparação do  menor dificuldade lá foram sendo instalados.  pelas decisões tomadas a tempo, ao dinamis-
         motor estava em curso.             Os dias continuavam compridos e frios, mas  mo do pessoal do navio e ao grande empe-
           Depois de alguma espera por uma grua  na casa da máquina eram só compridos.  nho e rigor que a equipa do Arsenal demons-
         com capacidade para embarcar as diversas  O espírito de equipa foi uma constante.  trou na preparação em oficina e no trabalho
         caixas com componentes do motor (o camião  Quando assim é, o trabalho parece que  de montagem a bordo.
         TIR seguiu de Lisboa com carga completa), o  ainda corre melhor.        Ainda que tenha passado por algumas si-
         material foi embarcado e arrumado no  Ao 1º arranque, seguem-se as provas de  tuações pouco confortáveis, não tenho dú-
         hangar, que à semelhança do que aconteceu  estaleiro, algumas correcções, pois aparecem  vida em afirmar que foi muito motivante
         em Mayport ficou completamente cheio.  sempre algumas fugas – é bom sinal - as  acompanhar esta reparação de muito perto
         Antes da meia-noite o bloco do motor (cerca  provas a cais e finalmente as provas de mar,  ao longo de todas as suas fases. Só lamento
         de 8 toneladas) estava montado no fixe (7),  que por imperativo da missão são efectuadas  que a reparação tenha tido origem numa
         tendo passado “facilmente” pela escotilha  em trânsito para a Noruega.  avaria. Uma avaria que o navio, o coman-
                                                                               dante e a sua guarnição não mereciam.
                                                                                 Os caros leitores podem achar exagerado
                                                                               eu ter apenas escrito elogios e referências
                                                                               positivas, mas acreditem que não podia dizer
                                                                               outra coisa, factos são factos, esta foi uma
                                                                               operação exemplar.

                                                                                                      J. Garcia Belo
                                                                                                          CFR EMQ

                                                                               Notas
                                                                                 (1) EB – Estibordo.
                                                                                 (2) Standing Naval Force Atlantic – A força perma-
                                                                               nente da NATO no Atlântico.
                                                                                 (3) Um contentor onde os motores estão montados
                                                                               e isolados, por forma a reduzir o ruído e ser mais efi-
                                                                               ciente o combate a incêndios.
                                                                                 (4) Posto do Oficial-general comandante da
                                                                               STANAVFORLANT.
                                                                                 (5) O comandante da STANAVFORLANT.
                                                                                 (6) Abertura efectuada no pavimento que dá aces-
                                                                               so à casa da máquina, a fim de facilitar o embarque
                                                                               de componentes de maiores dimensões.
         Trabalhos finais de montagem.                                           (7) “Ligação” do motor à estrutura do navio.
                                                                                     REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2001  15
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