Page 374 - Revista da Armada
P. 374
A Índia
A Índia
e a Estratégia Global
e a Estratégia Global
perda da Índia Portuguesa perante os Estados Unidos puderam contar com a pendência às colónias. Churchill, embora
a invasão da União Indiana, vem cooperação de muitos países amigos e com tivesse sido um dos signatários da Carta
A sendo atribuída, em grande parte, à a participação de todas as colónias, nos do Atlântico, dizia que não permitiria que
incapacidade da Metrópole em reforçar o quatro continentes. Portugal conseguiu uma só parcela do império fosse beliscada.
sistema de defesa do território e à indi- não se envolver directamente no conflito e Contudo, foi afastado do poder logo no
gnidade do aliado britânico em dois aspec- cabo-verdianos, guineenses, angolanos, fim da guerra (1945), para voltar quando,
tos importantes: não nos ter defendido são-tomenses, moçambicanos e indianos para esta questão, já era tarde demais
diplomaticamente junto da sua antiga não sentiram os horrores da guerra porque (1951-1955).
colónia e não nos ter concedido as facili- a política seguida na capital do império o Nesse mesmo ano de 1955 em que
dades necessárias à projecção de poder, conseguiu evitar. Timor foi a excepção, Churchill se retirou definitivamente da
através da utilização das bases aéreas que pois sofreu as consequências do expan- política, a 17 de Abril e talvez porque o
ainda possuía no Mediterrâneo, no cionismo de uma potência de um outro processo de descolonização estivesse a ser
Próximo e Médio Oriente e até no Índico, teatro de guerra longínquo, o Japão. demasiado lento, reuniu-se a Conferência
esquecendo o apoio que Portugal lhes Logo no princípio da guerra, mesmo Afro-Asiática de Bandung. Declarou a
tinha concedido nos Açores, a eles, britâni- antes de os Estados Unidos nela estarem “raça branca” como intrusa e foi um grito
cos, e através deles aos Estados Unidos, envolvidos, a “Carta do Atlântico” (assina- de revolta contra o colonialismo, o imperi-
durante difíceis anos da Segunda Guerra da pelo Presidente Franklin Roosevelt dos alismo e o capitalismo. Face a esta agenda,
Mundial. EUA e pelo Primeiro-Ministro britânico ficou conhecida como “a conferência dos
Não se pretendem analisar aqui as Winston Churchill em 12 de Agosto de povos de cor”.
decisões tomadas pelo Governo por- 1941) prometeu às colónias o fim dos As personalidades que lideraram o
tuguês, naquele mesmo ano em que teve Impérios. No terceiro princípio da Carta, movimento foram Nasser do Egipto,
início o conflito de Angola, nem a atitude os signatários propunham respeitar “o Nehru da Índia e Sukarno da Indonésia.
do Reino Unido. Pretende-se apenas direito de todos os povos à escolha da Note-se, para já, que foram estes os três
indicar resumidamente alguns factos do forma de governo sob a qual terão de Estados que procederam a anexações terri-
ambiente internacional de então, que viver”. toriais violentas.
foram determinantes para a perda da Índia O General De Gaulle, que assumiu a O Movimento dos Não-Alinhados só
Portuguesa. chefia da resistência e que começou no surgiu no ano seguinte, em Julho de 1956,
A Segunda Grande Guerra foi Mundial Ultramar a organizar a libertação da quando Tito convidou Nasser e Nehru
porque as potências coloniais europeias e França, reforçou esta promessa de inde- para uma reunião na ilha de Brioni, na
Imagem: Helder Brites e Jaime Figueiredo, cedida pelo Semanário Expresso
12 DEZEMBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA