Page 381 - Revista da Armada
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ou direcção passou, conforme julgo, um Outro tanto aconteceria com os que se “A emulação, a linha militar ali
só oficial da Armada, ao contrário do destinavam às armas de Artilharia e adquirida na infância acompanha os
que tem acontecido, de forma recíproca, Engenharia. A partir de 1870 há mais alunos durante toda a sua carreira e só
entre as restantes escolas militares destes admissões à Escola Naval, com altos e se extingue com a vida.”
dois ramos das Forças Armadas. Os ex- baixos e épocas mortas, como se disse. O outro artigo, mais recente, foi publi-
-alunos do colégio que terminaram, até São períodos de maior admissão os cado na Revista da Armada de Abril de
hoje, o seu curso da Escola Naval são anos do fim do século passado, época 1979, e é da autoria do nosso camarada
também uma expressiva minoria face aos das campanhas do Ultramar e do capitão-tenente Pinto Machado, que diz:
restantes. Não terão, neste longo perío- ressurgimento naval de 1900; a década “O aluno guarda dentro de si... o estatu-
do, excedido as três centenas de oficiais, de 1930 a 1940, correspondente ao to da democracia da camaradagem que é
o que representa uma escassa percen- ressurgimento naval do Estado Novo, e mais amplo e mais saudável do que
tagem de 10%, e que não está distribuída ainda o período imediatamente anterior tudo aquilo que se aprende em livros e
de modo uniforme. Há períodos mortos à guerra do Ultramar, entre os anos de em sermões, por vezes demagógicos e
de candidatos à Escola Naval. Porquê tal 1950 e de 1960. irreais.”
facto? Não se podendo tirar precisas con- São períodos de admissão mínima os Palavras, umas e outras, desfasadas
clusões, alguns factores haverá no entan- do começo do século até 1930, que de oito décadas mas sempre oportunas, em
to a ponderar. certo modo, correspondem aos anos agi- especial na presente conjuntura anti-mi-
De 1813 – ano em que localizamos o tados dos movimentos revolucionários e litarista em que vivemos.
primeiro ex-aluno – até cerca de 1873, da primeira grande guerra, bem como a
altura em que o Colégio Militar se esta- uma fase do cíclico “Zero Naval”; o 2 – Dos primeiros alunos que, frequen-
beleceu definitivamente na Luz e foi período de 1940 e 1950, e a partir de tando o Colégio Militar entre 1814 e
equiparado a liceu nacional, os que 1961, em que as admissões às Escolas 1834, ingressaram na Marinha, poucos
seguiram a carreira naval contam-se Militares diminuíram bastante. foram os que atingiram os altos postos.
pelos dedos e normalmente não comple- Quanto ao historial do Colégio, ape- Vivia-se em período agitado que cul-
tavam o seu curso colegial. Nesse perío- nas uns dois breves artigos encontramos minou na guerra civil, finda a qual a
do o Colégio preparava essencialmente nas publicações da Armada. O primeiro, Armada Nacional de vela, representante
oficiais de Infantaria e Cavalaria, pelo comemorativo do centenário do Colégio duma antiga grandeza naval, sofreria um
que os candidatos ainda teriam de pas- Militar em 1903, foi publicado nos Anais rude golpe com a derrota que lhe fora
sar pela Academia de Marinha, como do Clube Militar Naval e é da autoria do infligida pela esquadra de Napier na
depois pela Escola Politécnica, para capitão-de-fragata João Baptista batalha do Cabo de S. Vicente, em 1833.
ficarem com as habilitações conside- Ferreira. Descrevendo as cerimónias A Marinha de então, que já se fra-
radas necessárias. comemorativas de então, afirmava: gmentara com a ida da esquadra para o
Brasil, era na sua quase totalidade legi-
timista; e poucos oficiais, e só de baixa
Combatentes no Ultramar no Fim do Séc. XIX patente, aderiram de começo à causa li-
beral. Entre esta minoria, que se bateu
na Terceira e no cerco do Porto, dis-
tingue-se Pedro Alexandrino da Cunha,
que teria uma curta, mas brilhante car-
reira. É este o primeiro ex-aluno que
segue a carreira naval.
Saído do Colégio por ter completado
17 anos de idade é promovido a alferes,
frequentando no entanto a Academia da
Marinha.
Toma parte na revolta do Porto e de-
pois de uma permanência em Angra,
desembarca no Mindelo em 1831, na
esquadra de Sertorius. Era já então
segundo-tenente da Armada, para onde
1TEN CALM 1TEN fora transferido do Exército. Bate-se no
Flávio da Fonseca Coutinho Garrido Leite de Sepulveda
1872-1921 1870-1951 1867-1944 cerco do Porto às ordens directas do mi-
nistro da marinha, comandando as bate-
rias guarnecidas pelo pessoal dos
navios.
Após a vitória liberal e já capitão-
-tenente, segue para Angola em 1836
comandando a corveta “Isabel Maria”.
Tem nessa província uma notável acção
na repressão ao tráfico da escravatura,
cruzando o seu litoral e ocupando S.
João Batista de Ajudá, um dos maiores
focos de negócios de escravos. De 1844 a
1849 é governador-geral de Angola e aí
exerce uma notável acção administrativa
em que se procede à ocupação do litoral
sul da província, pelo estabelecimento
1TEN CTEN CFR
Pinto Cardoso Pimenta de Miranda Silva Casqueiro da primeira colónia em Moçamedes. Em
1869-1909 1874-1950 1874-1931 1849, já capitão-de-mar-e-guerra, é no-
REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2002 19