Page 343 - Revista da Armada
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O Ilustre Almirante
                        O Ilustre Almirante


                             Marquês de Nisa
                             Marquês de Nisa




         UMA DAS MAIS DISTINTAS                                                     novos meios e investira na formação
         FAMÍLIAS DE PORTUGAL                                                       das suas guarnições. É assim que, na
                                                                                    transição de século XVIII para o sécu-
           D. Domingos Xavier de Lima nas-                                          lo XIX, Portugal surge como uma mé-
         ceu a 30 de Dezembro de 1765. Foram                                        dia potência marítima, com o poder de
         seus pais D. Thomaz Xavier de Lima                                         influenciar o desenrolar dos conflitos
         Nogueira Telles da Silva, 14º Visconde                                     surgidos na época.
         de Vila Nova da Cerveira e 1º Marquês                                       Reflexo destes novos investimentos
         de Ponte de Lima, e D. Eugénia Maria                                       na Marinha foi a criação, em 1782, da
         Josefa de Bragança, 2ª filha dos quartos                                    Real Academia de Marinha. Ao receber
         Marqueses de Alegrete.                                                     ordem para frequentá-la, D. Domingos
           Vinte cinco anos mais tarde, a 21 de                                     tornou-se um dos seus primeiros alu-
         Novembro de 1790, receberia, na se-                                        nos, embora esta formação apenas se
         quência do seu casamento com D. Eu-                                        destinasse a consolidar e a ampliar os
         génia Xavier Telles da Gama (sua so-                                       conhecimentos que já possuía.
         brinha por via materna), o título pelo                                      Em 1783 embarca, sucessivamente,
         qual viria a ficar conhecido para a pos-                                    na nau “Nossa Senhora do Bom Suces-
         teridade. É que D. Eugénia, sendo filha                                     so” e na fragata “S. João Baptista”, que
         única, herdara de seu pai os títulos de                                    serviam na Esquadra de Guarda-Costa
         7ª Marquesa de Nisa, 7ª Condessa de                                        (2). Não tinha, ainda, vinte anos quan-
         Unhão e de 11ª Condessa da Vidiguei-                                       do participou na sua primeira grande
         ra. Refira-se que o primeiro Marquês de                                     acção militar: o ataque a Argel, expedi-
         Nisa tinha sido o 5º Conde da Vidiguei-                                    ção conjunta de Portugal e da Espanha
         ra, D. Vasco Luís da Gama, descendente                                     contra os piratas argelinos. Pela eleva-
         directo do célebre descobridor do cami-                                    da competência que na altura já evi-
         nho marítimo para a Índia, pelo que a                                      denciava, foi, pelo Comandante-Chefe,
         noiva herdara igualmente o título de 11ª                                   nomea do chefe do estado-maior da es-
         Almirante do Mar da Índia.                                                 quadra portuguesa. No fim da expedi-
           O título de 7º Marquês de Nisa foi                                       ção era promovido a Capitão-Tenente
         formalmente oferecido a D. Domin-  O Almirante Marquês de Nisa.            por decreto do Príncipe Regente.
                                        Pintura a óleo de Alberto Cutileiro.
         gos pelo Príncipe D. João (futuro rei   Museu de Marinha                    De 1787 a 1789 serviu na Esquadra
         D. João VI), como presente de casa-                                        do Estreito e, a 16 de Dezembro desse
         mento. Os restantes títulos vinham-lhe, na-  a partir de 1770, da brilhante acção do minis-  ano, era, com apenas vinte e quatro anos,
         turalmente, agregados. Foi deste modo que  tro Martinho Melo e Castro, que a dotara de  promovido a Capitão-de-Fragata. Foi, ain-
         aquele que viria a ser um dos maio-                                         da, na zona do Estreito que coman-
         res Almirantes da nossa Armada                                              dou o seu primeiro navio, a fragata
         uniu a sua descendência à do mais                                           “Princesa do Brasil”, de 40 peças,
         ilustre Navegador português de to-                                          integrada na esquadra do Tenente-
         dos os tempos.                                                              General (3) Ramires Esquível (futu-
                                                                                     ro Visconde de Estremoz).
         UMA METEÓRICA                                                                 Esta rápida progressão na carreira
         CARREIRA NAVAL                                                              não parecerá tão invulgar - não obs-
                                                                                     tante as qualidades demonstradas
           Na altura do seu casamento, já                                            por D. Domingos – se atentarmos
         D. Domingos tinha atrás de si uma                                           ao facto de, como atrás referido, a
         década de serviço naval e uma ver-                                          Esquadra portuguesa ter, pouco tem-
         tiginosa ascensão até ao posto de                                           po antes, beneficiado de um conside-
         Capitão-de-Fragata. De facto, tinha                                         rável reforço de meios, assim como
         apenas quinze anos quando se ofere-                                         da aquisição de novas estruturas de
         cera como voluntário para embarcar                                          apoio. A esta expansão da organiza-
         na nau “Nossa Senhora do Pilar” (1).                                        ção juntava-se o tradicional elitismo
         Um ano mais tarde já tinha sido pro-                                        na escolha dos oficiais, recrutados,
         movido a Tenente de Mar.                                                    por norma, dentro da Nobreza e no-
           O seu fascínio pelo mar, sem dei-                                         meados por carta patente régia, o que
         xar de ser motivado por vocação                                             mantinha uma fácil circulação dentro
         natural, não terá sido estranho ao                                          dos quadros superiores da Armada.
         prestígio de que gozava, na altu-                                           Por fim, um decreto de 4 de Janeiro
         ra, a Armada Portuguesa. Tendo                                              de 1790 passou à situação de refor-
         esta acabado de sair de um largo                                            ma trinta e quatro oficiais generais e
         perío do de decadência, beneficiara,   Nau “Rainha de Portugal”, primeiro navio-almirante do Marquês de Nisa.  superiores da Armada, permitindo,
                                                                                    REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2004  17
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