Page 344 - Revista da Armada
P. 344
deste modo, uma a fragata “Andori-
rápida renovação nha”, e o bergantim
dos quadros. “Lebre”. Esta força
Refira-se, ainda, actua não apenas
que, na altura, não na costa portugue-
era fácil encontrar sa mas também no
oficiais vocaciona- Estreito, efectuando
dos para o serviço a protecção da nave-
naval, sendo a maior gação mercante na-
parte deles escolhida cional e cooperando
dentro dos efectivos com o almirante bri-
do Exército. Com tânico John Jervis (6)
esta escassez de vo- no combate à esqua-
luntários não admi- dra francesa.
ra que o Ministro No final de Agos-
Melo e Castro tenha to desse mesmo ano
recorrido ao concur- é nomeado Inspector
so de oficiais estran- da recém-criada Real
geiros, nomeadamente da marinha inglesa, da, o que foi aceite. Vemo-lo, assim, em 1794, Brigada de Marinha, que o viria a acompanhar
para preencher as lacunas existentes. Para a comandar a nau “Rainha de Portugal” (74 nas suas futuras missões. A sua recente expe-
estes, a perspectiva de uma rápida ascensão, peças), que fazia parte da esquadra do Almi- riência em campanhas terrestres dava -lhe, de
entre outros incentivos materiais, funcionava rante Vale, em operações conjuntas com a es- facto, uma certa afinidade com aquele corpo
como um poderoso - se não mesmo irresistí- quadra inglesa de Lord Howe. Esta força con- de infantaria (7) de marinha – o primeiro de
vel - atractivo. junta efectuou a escolta a um grande número carácter exclusivamente naval (8) –, antepas-
Promovido, com vinte e seis anos, ao pos- de navios na zona do Estreito. sado dos Fuzileiros.
to de Capitão-de-Mar-e-Guerra, o já intitu- Em 10 de Setembro de 1795, com trinta anos No ano seguinte Portugal organiza uma di-
lado Marquês de Nisa recebe o seu segundo ainda incompletos, ascende a oficial general, visão naval para ser enviada ao Mediterrâneo
comando, a fragata “S. Rafael”, de 44 peças. com a promoção a Chefe de Divisão (4). Pou- em auxílio dos ingleses e Nisa é colocado no
Neste navio integrou a esquadra do Almi- cos dias depois é colocado no comando da sua seu comando. Os sucessos desta força naval
rante Sanches de Brito, que se deslocou a primeira esquadra, uma força composta das merecem que nos ocupemos dela mais deta-
Nápoles para transportar o Enviado Extra- naus “Rainha de Portugal” (cujo comando lhadamente nas próximas linhas.
ordinário junto ao Rei da Sardenha. Ora, este manteve até Dezembro de 1896) e “Princesa
enviado não era outro se não D. Lourenço de da Beira”, das fragatas”Ulisses” e Tritão”, e do NO MEDITERRÂNEO,
Lima, irmão do Marquês, que embarcou no bergantim “Gaivota do Mar”, em cruzeiro na COM NELSON
navio por ele comandado. costa continental de Portugal.
O eclodir da Revolução Francesa fizera, en- A 5 de Junho de 1797 é promovido a Che- A 5 de Maio de 1798, o Marquês sai de
tretanto, coligar contra a França a maior par- fe de Esquadra (5) e a 23 de Julho inicia o seu Lisboa à testa de uma divisão composta pe-
te das casas reais da Europa. Portugal acede, segundo comando de uma força naval. Esta las naus “Príncipe Real” (navio-chefe, de 90
assim, em 1793, a um pedido de auxílio da In- compõe-se de sete navios: as naus “Príncipe peças) e “Rainha de Portugal”. Já em trân-
glaterra e prepara uma esquadra para enviar Real”, “Rainha de Portugal”, “Afonso de sito na costa portuguesa juntar-se-lhe-iam
para o Canal da Mancha. Embora o governo Albuquerque”, “Medusa” e “S. Sebastião”; as naus “Afonso de Albuquerque” (de 64
português não desejasse envolver-se di- peças) e “S. Sebastião” (de 64 peças),
rectamente no conflito, não pretendia, a fragata “Benjamim” (26 peças) e o
de modo algum, perder os favores da bergantim “Falcão” (24 peças).
sua poderosa aliada. D. Domingos in- A 20, porém, estando em Lagos a
tegra a esquadra, no comando da nau preparar-se para se juntar às forças
“Vasco da Gama” (74 peças). do Almirante Jervis, Comandante-
Como, porém, as acções navais não -em-Chefe da esquadra inglesa no
tiveram grande desenvolvimento (e a Mediterrâneo, recebe a ordem de
sua nau teve de regressar mais cedo, seguir para os Açores, onde deveria
devido a danos sofridos durante um aguardar a chegada do comboio da
forte temporal), acabou por oferecer- América. Poderemos ver nesta atitu-
-se como voluntário para participar de um sinal de má vontade por parte
nas campanhas terrestres da Catalu- do governo português, que desde a
nha e Rossilhão. Aí, mais uma vez, a assinatura de uma paz separada entre
sua coragem e a sua presença de espí- a Espanha e a França, na sequência da
rito valeram-lhe os mais rasgados elo- campanha do Rossilhão, se via pres-
gios por parte do comandante das for- sionado por esta última no sentido de
ças luso -espanholas. Contudo, após as interromper a colaboração com a sua
primeiras vitórias, os desaires sucede- velha aliada. Por outro lado, as soli-
ram-se e o contingente português so- citações (dir-se-iam, mesmo, exigên-
freu pesadas baixas, grande parte delas cias) da Inglaterra desde o início das
por efeito das duras condições climaté- hostilidades com a República France-
ricas e da escassez de mantimentos. sa deixavam a Marinha bastante des-
Quando a campanha entrou num falcada, nomeadamente na Esquadra
período de estagnação e os exércitos do Atlântico, que era indispensável
recuaram para o interior da Espanha, para garantir a segurança da navega-
a sua incansável apetência por acção le- ção entre o Brasil e a Metrópole.
vou-o a pedir a reintegração na Arma- Almirante John Jervis, Conde de S. Vicente. Seja como for, Nisa aproveitou este
18 NOVEMBRO 2004 U REVISTA DA ARMADA