Page 201 - Revista da Armada
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de Verão, onde acorriam turistas de toda Europa: palco de enredos
literários e tema de inspiração artística nacional e internacional.
Por todas estas razões não podia a Marinha Portuguesa dei-
xar de comemorar o seu dia em comunhão com a Figueira da
Foz, homenageando assim uma das mais dignas parcelas da
gente portuguesa ligada ao mar. É, aliás, no meio dessa gen-
te que a nossa Marinha encontra os seus mais dilectos filhos.
Tive ocasião de ver alguns, por aqui e por ali, passeando discre-
tos e anónimos, mas sorridentes quando os reconheci, e orgulho-
sos quando diziam aos seus familiares: esta é a minha Marinha.
O “grande” concerto
As comemorações começaram com realizações de diversa or-
dem, que tiveram lugar a partir do dia 14 de Maio. No porto esti-
veram atracadas a “Sagres”, as corvetas “Jacinto Cândido” e “Antó-
nio Enes”, o patrulha “Zaire”, o submarino “Delfim”, a lancha
hidrográfica “Auriga” e as lanchas de fiscalização rápida “Argus” e
“Cassiopeia”e o iate “Vega”, estando ao largo fundeados a “Álvares
Cabral”, a “Sacadura Cabral“ e o “Bérrio”. Alguns destes navios esti-
veram abertos a visitas públicas que atingiram o número de 22000
pessoas, no curto período de quatro dias, revelando o interesse que
suscitaram à população. No dia 18, realizou-se um concerto da Ban-
da da Armada no Parque das Abadias, e no dia 19 foi inaugurada a
Exposição de Actividades da Marinha no Centro de Artes e Espectá-
culos (CAE) da Figueira da Foz. Nesse mesmo dia foi lançado o livro
A Campanha do Argus de Alan Villiers e As Fortalezas Marítimas da
Figueira da Foz do Comandante Rodrigues Pereira.
Contudo o momento mais alto da abertura das comemorações
do Dia da Marinha foi o concerto da Banda da Armada, que teve
lugar no CAE, pelas 22h00 do dia 19 de Maio. Dirigida pelo maes-
tro CFR Araújo Pereira, a banda não deixa de nos surpreender com
as suas exibições, atingindo neste concerto um patamar ímpar de
qualidade e virtuosismo, a que não foi estranha a colaboração da
soprano Manuela Moniz. O concerto começou com a apresentação
da peça “Bugler’s Holiday”, do compositor Leroy Anderson, criando
o ambiente de festa adequado à circunstância e predispondo o pú-
blico para uma noite de sonho musical que veio logo a seguir com
a apresentação em estreia da Sinfonia nº 2 Mare Nostrum, de Jorge
Salgueiro. O compositor é membro da Banda da Armada (Primeiro Sar-
gento), e o seu talento já nos ofereceu algumas obras de grande valor,
contando hoje com mais de uma centena de composições. A Sinfonia
nº 2 – cuja primeira audição integral teve lugar neste concerto – reúne
quatro andamentos, que homenageiam quatro figuras notáveis do pe-
ríodo da Expansão Portuguesa do século XVI (Duarte Pacheco, D. João
de Castro, Pedro Nunes e Damião de Góis), num conjunto magnífico,
onde me pareceu entrever um delicioso romantismo pleno de sensu-
alidade. O autor, aliás, teve o cuidado de nos antecipar um conjunto
de notas sobre a obra, onde é possível entender a referência homéri-
ca da figura de Ulisses (o nauta absoluto) entre sereias, e em busca de
uma Ítaca e uma Penélope que não estão em parte alguma que não
na sua própria viagem.
A segunda parte do concerto começou com novas referências ao
mar, numa peça de Robert Smith (Songs of Sailor and Sea) e na “Au-
rora” de Thomas Doss. Seguiu-se a apresentação de três verdadeiras
REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2005 19