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Dia da Marinha 2005 – Figueira da Foz




             ste ano, as comemorações do Dia da Marinha tiveram lugar na
             linda cidade da Figueira da Foz. Seguindo a tradição de fazer
         Eesta festa no meio das gentes, a Marinha foi até um dos locais
         onde a faina do mar faz parte do quotidiano, mostrando-se na pesca,
         na construção naval, na actividade comercial e no dia a dia de conví-
         vio com as mesmas praias que, noutros tempos, assistiram a violentos
         desembarques de piratas, e hoje são o deleite dos veraneantes.
           A Figueira da Foz do Mondego, pequeno povoado que foi vila no
         reinado de D. José (12 de Março de 1771), cresceu e atraiu as popu-
         lações de outros núcleos urbanos importantes, como Buarcos, Re-
         dondos, Tavarede, Alhadas, etc, que hoje integram a cidade, com o
         seu porto, a praia e a serra, num harmonioso conjunto que justificou
         o desenvolvimento ao longo dos séculos, e a preferência turística da
         segunda metade do século XIX e todo o século XX. Não pode falar-
         -se da Figueira sem referir a sua ligação ao mar e à actividade do seu
         porto que, desde as épocas mais remotas albergou navios e embar-
         cações empenhadas no comércio nacional e internacional. Por aqui
         se escoavam os produtos de toda a região centro, destinados a ou-
         tros locais do país ou do estrangeiro, e aqui passavam os navios que
         cruzavam a costa portuguesa, no secular caminho que une o Medi-
         terrâneo ao Norte da Europa. O núcleo central da cidade cresceu à
         volta da primitiva paróquia de S. Julião, centro da actual freguesia
         do mesmo nome, de que existe referência segura desde os anos se-
         tenta do século XI, quando Coimbra era governada pelo alcaide cris-
         tão moçárabe Sesnando Davides. No século XVI e XVII era um dos
         principais portos do país, e o mais importante da região centro, com
         um apreciável movimento de navios que cresceu substancialmente
         após a Restauração (1640).
           Como porto que é – com uma importante actividade pesqueira e
         com uma indústria diversificada que implicava a exportação de pro-
         dutos pelo mar – assistiu a um apreciável desenvolvimento da cons-
         trução naval no final do século XVIII, que teve momentos de grande
         exuberância até à crise desta actividade, nas últimas décadas. Para
         este desenvolvimento, que fez dela uma cidade próspera, hoje com
         cerca de 60 mil habitantes, concorreu o crescimento da indústria lo-
         cal e regional, alimentado por algumas riquezas naturais, pelo de-
         senvolvimento do porto e das linhas de comunicação ferroviárias e
         rodoviárias. Na fase áurea da pesca do bacalhau – que configura a
         mais recente epopeia marítima das gentes portuguesas – a Figueira
         registava uma frota significativa (chegou a ser 20 % do total nacional)
         de bacalhoeiros, que todos os anos partiam para os bancos da Terra
         Nova e Groenlândia. E a esta actividade está ligada uma numerosa
         população que se insere num quadro mais geral de gente ligada ao
         mar em múltiplas actividades.
           Mas a Figueira da Foz ficaria ligada ao imaginário português do sé-
         culo XX como a raínha das praias de Portugal. Estância de veraneio
         que aproveita a doçura do clima e a conjugação de uma paisagem de
         mar e serra, viu crescer esta actividade a partir da segunda metade do
         século XIX. Em 1869 foi construído o Grande Hotel da Foz do Mon-
         dego. Da década de trinta a sessenta foi o local de elite para férias




















         18  JUNHO 2005 U REVISTA DA ARMADA
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