Page 50 - Revista da Armada
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Top  Produção (2)    Mbd    Importadores (3)  Mbd  Consumidores (3)  Mbd  servas de gás e petróleo siberiano e mesmo o
        1    Arábia Saudita (OPEC)  11.1  EUA     13.150   EUA         20.030  polar dão-lhe uma nova oportunidade de re-
        2    Rússia          9.5    Japão         5.449  China         6.391   cuperar, temporariamente, a sua grandeza. A
        3    EUA (1)         8.2    China         3.226  Japão         5.578   Rússia já é uma superpotência energética, em-
        4    Irão (OPEC)     4.2    Holanda       2.284  Rússia        2.800   bora tendo de fazer muitos investimentos para
        5    México (1)      3.8    França        2.281  Alemanha      2.677   poder vender à UE gás e petróleo da bacia do
        6    China (1)       3.8    Coreia do Sul  2.263  Índia        2.320   Cáspio, do Kazaquistão e da Sibéria. A bacia
        7    Canadá (1)      3.1    Itália        2.158  Canadá        2.300   do Cáspio tem um potencial enorme, com a
        8    Noruega (1)     3.0    Alemanha      2.135  Coreia do Sul  2.061
        9    Emirados AU (OPEC)  2.8  Índia       2.090  França        2.060   possibilidade de aumentar a produção de 1,6
        10   Venezuela (OPEC) (1)  2.8  Espanha   1.582  Itália        1.874   milhões de barris/dia (b/d), em 2001, para 5
        11   Koweit          2.7    Reino Unido   1.084  Arábia Saudita  1.775  milhões de b/d, em 2010.
        12   Nigéria (OPEC)  2.6    Bélgica       1.042  México        1.752     O Oriente Médio detém cerca de dois terços
        13   Argélia         2.1    Canadá        0.963  Reino Unido   1.722   das reservas petrolíferas mundiais comprova-
        14   Brasil          2.0    Turquia       0.6165  Brasil       1.610   das. O tamanho das reservas, juntamente com

         Quadro resumo dos principais produtores, importadores e consumidores de petróleo. Mbd – Milhões de barris   o baixo custo de produção, garante que essa
         por dia.                                                              região continuará a desempenhar um papel
         (1) Países que já passaram o pico de produção.                        importante no mercado energético mundial. A
         (2) Fonte: Estatísticas de Energia de 2005 do Governo dos EUA, inclui crude e gás natural. (http://www.eia.doe.  Arábia Saudita continuará durante mais alguns
         gov/emeu/cabs/topworldtables1_2.html).
         (3) Fonte: CIA World Factbook, valores de referência de 2005 para a importação e consumo de petróleo  anos a ter um papel fundamental nos mercados
                                                                               petrolíferos globais como maior exportador de
         deremos ter de concluir que o pico da pro-  para as sociedades ocidentais. Os EUA estão  petróleo. Além disso, a Arábia Saudita assegura
         dução de petróleo aconteceu em Dezem-  na primeira linha dos clientes do petróleo que  a segurança energética internacional manten-
         bro de 2005.                       resta, mas há outros clientes também impor-  do uma considerável capacidade de produção
           O aumento da procura de petróleo, devido  tantes, nomeadamente a China, a Índia, a UE  extra, que pode ser rapidamente activada em
         essencialmente ao rápido desenvolvimento  e o Japão, ávidos por energia.  caso de interrupção grave de fornecimento em
         das economias da China e da Índia, ajuda-  Para completar o cenário há ainda que en-  qualquer lugar do mundo. O petróleo da Ará-
         ram a que se atingisse o valor record do pre-  quadrar novos perigos de conflitos relaciona-  bia Saudita provém quase todo (75%) de dois
         ço do barril de petróleo que atingiu o máxi-  dos com a segurança do abastecimento, fruto  imensos campos “supergigantes” que foram
         mo de 78,65 dólares no Mercado de Futuros  do desequilíbrio entre a oferta e a procura e a  activados há quase cinco décadas, nos quais
         de Londres, a 10 de Agosto de 2006. Desde  concorrência. Esta rivalidade explica a corrida  já se usa extensivamente injecção de água e já
         então, desceu 41,5 por cento, para 55,59  em que se lançaram os Estados Unidos, os paí-  se especula que o seu fim também não estará
         dólares. O governo português baseia os seus  ses europeus, a China, o Japão e a Índia, para  longe. A situação dos demais países árabes não
         cálculos económicos num valor médio para  pôr os pés nos países detentores de reservas e  deve ser melhor.
         os próximos dois anos de 62 dólares.  controlar as rotas marítimas e terrestres entre   Os extraordinários avanços económicos da
           Prevê-se que o pico do gás natural ocorra  os centros de produção e as grandes zonas de  China dos últimos 20 anos poderão ser com-
         uma década mais tarde do que o do petróleo.  consumo.                 prometidos pela escassez de petróleo, pois o
                                              A estratégia dos EUA é a mais clara, preten-  país tem previsto a importação de até 50% de
         O PICO DAS DESCOBERTAS             dem controlar as grandes reservas que ainda  seu consumo total de combustível fóssil em
                                            existem no Golfo Pérsico. A guerra do Iraque,  2020. No entanto, a China detém grandes re-
           O pico das descobertas de novas fontes  permitiu a Washington livrar-se da presença  servas de gás de 2,7 triliões de metros cúbicos
         de petróleo ocorreu em 1964 e, desde então  francesa, russa e italiana naquele país e deveria  na Região Autónoma da Mongólia Interior que
         para cá, tem-se vindo a descobrir cada vez  permitir aos EUA tomarem conta das impor-  poderão ser a solução durante mais algum tem-
         menos, tendo-se produzido a um ritmo cres-  tantes reservas petrolíferas desse país, assegurar  po. O objectivo da nação é que o fornecimen-
         cente até às crises dos anos 70, quebrando  para eles próprios uma parte das suas exporta-  to de gás alcance 8% de seu consumo total de
         então e retomando depois, um ritmo cres-  ções, e pagarem a “reconstrução” desse país,  energia nos 20 primeiros anos deste século. A
         cente de aumento de produção. A maior de  à sua maneira, com as receitas das restantes  China foi um dos primeiros países a utilizar o
         todas as preocupações é o facto do volume  exportações. Este desígnio imperial ambicio-  gás natural na Antiguidade, com uma reserva
         de petróleo extraído do subsolo ser, desde  so confronta-se com grande resistência, como  potencial de 38 triliões de metros cúbicos, mas
         há 20 anos, superior ao volume descoberto.  é quotidianamente registado. Na realidade os  esse combustível representa apenas 2,1% do
         Hoje, apenas se descobre um novo barril de  EUA não dispõem nem de um plano exequí-  actual consumo de energia do país, ou seja
         petróleo por cada 4 que se produz, com ten-  vel nem dos recursos humanos adequados  1/10 da média mundial.
         dência a agravar-se cada vez mais a diferen-  para atingirem a finalidade que o seu governo   A China está a construir em grande escala
         ça entre descoberta e produção. As reservas  se propôs atingir. O poder hegemónico dos  uma rede de tubagens por toda a República. A
         mundiais estão a baixar três vezes mais de-  EUA tem estado a ser colocado em causa sob  mais proeminente é o projecto “Gás Ociden-
         pressa do que o ritmo a que se fazem novas  a pressão dos atentados no terreno e da opi-  tal ao Leste da China”, que foi planeado para
         descobertas.                       nião pública internacional. O fim do petróleo  transportar 12 biliões de metros cúbicos anuais
                                            ditará também o fim da hegemonia americana,  de gás dos campos da região ocidental à região
         A GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEO          embora os EUA ainda se preparem para parti-  do delta do rio Yangtse, no leste do país, onde
                                            lhar com o Canadá petróleo refinado a partir  a economia em auge pede fontes de energia
           Os países vão enfrentar a dura realidade do  de areias betuminosas do Canadá e petróleo  financiáveis e suficientes.
         fim do petróleo a que se junta o efervescer de  obtido da liquefação do carvão, como tiveram   A África está a desempenhar um papel
         uma luta ideológica. As nações islâmicas pos-  de fazer os Alemães na 2ª Grande Guerra. Es-  cada vez mais importante como fornecedor
         suem a maior parte do petróleo remanescente  tima-se que os EUA tenham uma reserva de  de energia. A produção de petróleo representa
         no mundo e todo o mundo depende dele e o  carvão para cerca de 200 anos. No entanto  uma renda considerável em países como Ni-
         pretende. Esta relação de dependência do oci-  estes processos são muito dispendiosos, con-  géria, Angola, Gabão, Guiné Equatorial, Re-
         dente do petróleo do mundo islâmico permitiu  some-se muita energia para obter pouco mais  pública do Congo, Chade e Camarões. São
         o enriquecimento das classes dominantes do  do que outra tanta energia.  Tomé e Mauritânia também se podem tornar
         Médio Oriente, cujas fantasias transformaram   A Rússia tem estado a viver uma situação  fornecedores nos próximos anos. É necessá-
         uma religião poética e decorosa numa ameaça  económica difícil, mas as suas enormes re-  rio investimento directo estrangeiro para de-

         12  FEVEREIRO 2007 U REVISTA DA ARMADA
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