Page 93 - Revista da Armada

O Maestro Carlos Silva Ribeiro e a Banda da Armada
O Maestro Carlos Silva Ribeiro e a Banda da Armada

li, à Praça da Armada, no vetusto edi- muito grande. O Júri é presidido pelo subdirec- MSR – Já foi seleccionado. Está presente-
fício do Quartel de Marinheiros, num tor e Chefe do Departamento de Apoio Geral mente a frequentar o Estágio Técnico-Naval na
Asingelo mas confortável gabinete que da DSP, mas em termos técnicos é o Chefe da Escola Superior de Tecnologias Navais (ESTNA)
dá para o espaçoso pátio, o mesmo onde há Banda e portanto se não fizer uma escolha cri- e deve apresentar-se em breve. Temos, também
mais de cem anos se fez o primeiro registo fo- teriosa será ele, no caso eu próprio, quem irá na Naval, a frequentar a ESTNA, um elemento
nográfico em Portugal, fomos ouvir o sucessor sofrer com o beneficiado que acabará, conse- da Banda, na área da Economia.
de uma plêiade de Maestros que à frente da quentemente, por se sentir frustrado pois aqui RA – Este vai, portanto, mudar de Classe...
nossa multissecular Banda, têm prestigiado a está a ser-se diariamente examinado pelos pró- Que idade tem o futuro Doutor que citou?
Armada, em Portugal, no estrangeiro e, acres- prios colegas... MSR – Sim... Ah! Esse tem à volta de 37 anos.
cente-se, em diversos Continentes. Foi, durante os recitais de Mestrado
Revista da Armada – Senhor Co- que deu na Escola Superior de Músi-
mandante Carlos da Silva Ribei- ca de Lisboa (ESML), convidado por
ro, quando pensamos na Banda professores da Universidade de Évo-
da Armada não podemos deixar ra a fazer aí o seu doutoramento.
de recordar os tempos em que, RA – Notável! Os mestrados po-
ao menos temporariamente, en- dem ser feitos em que escolas?
saiava no Corpo de Marinheiros, MSR – Nas Escolas Superior de
onde a escutávamos em «Dia de Música, e nas Universidades que
Joa netes», já lá vão cerca de qua- possuem a área de Música. O Con-
renta anos. O curioso é que ten- servatório é hoje uma Escola Se-
dencialmente a imaginamos... a cundária orientada para a formação
mesma, imutável o que, claro, é musical e para os cursos comple-
impossível. Há quanto tempo está mentares de instrumento.
ligado à Banda? RA - E o Superior?
Maestro Silva Ribeiro – Fez, em MSR – Os cursos superiores de
Outubro de 2006, 35 anos. Vim em 1971 e fiz RA – Essa é uma realidade que as Escolas música são ministrados nas Universidades e
a Recruta que era então de três meses. Militares, face às civis, não têm sabido enfati- nas Escolas Superiores de Música
RA – Quer dizer que nem sequer fomos zar. Os militares, no seio da sua unidade, estão RA – E quanto a actuações?
contemporâneos no Serviço Activo! Em Ja- sempre sob a observação dos seus superiores MSR – No ano passado tivemos noventa ac-
neiro desse ano, suspensas as Licenças Ilimi- (uns poucos), dos seus pares (alguns mais), e tuações públicas, o que dá, entre concertos e
tadas, a escassos meses da promoção a Capi- também, talvez até mais determinante, de to- outras actuações, uma média de dois concertos
tão-Tenente que aguardávamos desde 1969, dos os seus subordinados, directos ou indirec- por mês, 49 cerimónias militares e protocola-
“optámos” pela Reserva Ab) e permanece- tos (a grande maioria), e afinal todos estão a res, sete audições pedagógicas para os jovens
mos, como então se dizia, «espoliados» de ser avaliados, no País e quantas vezes lá fora, das escolas que vêm participar, e doutro tipo
todos os direitos adquiridos até ... 1984. En- por outros militares, do seu Ramo, ou não, e como na Procissão da Senhora da Saúde, inau-
fim... e depois? também por civis. Quem se preocupa em sa- guração do novo arranjo do Campo Pequeno,
MSR – Ingressei logo na Banda. Todos nós ber onde se formou um licenciado? Os MIT’s etc., num total de mais dez.
temos esta particularidade, a de concorrermos são escassos a nível mundial... RA – Recordamos a participação de um gru-
directamente para a Banda. MSR – Assim, dado o tal boom e também po da Banda numa Sessão Solene na Socieda-
RA – Não se pode ser tudo e no vosso caso porque um elevado número de elementos atin- de de Geografia de Lisboa...
estamos numa carreira altamente especializa- giu a reforma, temos actualmente uma média MSR – Esse é um tipo de actividade que en-
da. Já se traz uma preparação anterior? etária de 33 anos. Na área da música há 22 li- volve apenas pequenos conjuntos que está in-
MSR – Sim! Fazíamos, como agora, um Con- cenciados, 17 a frequentar a licenciatura, dois cluído nas actuações. Temos um quinteto de
curso Técnico, para um pequeno número de mestres, dois mestrandos e um a preparar o seu Música de Câmara e um de grupo de Diexi-
vagas, naquele tempo com muito menos pes- doutoramento. Nenhum destes 44 elementos land, que toca um género mais jazzístico.
soas a concorrer do que hoje. ao abrigo do «Acordo de Bolonha». Isto tudo Por ocasião de uma reunião que trouxe a
RA – Já nos disseram que a maior afluência num universo de 66 sargentos e 41 praças, Lisboa as 300 mulheres com os cargos mais
tem permitido melhorar o nível da Banda... além dos dois oficiais. importantes a nível mundial fomos solicitados
MSR – Tem, tem. Isto porque no próprio País, RA – Mas, o Quadro é de três oficiais? Está para actuar no Palácio Foz. Também temos ac-
nestes últimos 15 anos, houve um boom de es- previsto algum concurso? tuado em jantares de beneficência.
colas profissionais e conservatórios re- RA – E para 2007, já há uma previsão
gionais que permitiu encaminhar para a especial, pois ocorrem algumas efemé-
Música um apreciável número de jovens rides interessantes?
a que o mercado, infelizmente, não ten- MSR – Já temos várias solicitações,
do dado resposta adequada, levou a que mas confirmadas temos o projecto de
muitos, legitimamente ambiciosos, se or- uma obra que estamos a construir, a
ganizassem em grupos, mais ou menos nosso pedido, com o Jorge Salgueiro,
precários, ou buscassem agrupamentos o compositor residente da Banda, que
de prestígio e nesse aspecto a Armada é uma fábula que trata os assuntos do
tem apoiado a Banda e sabido aprovei- mar, dos seus recursos e degradação
tar esta possibilidade, como tal a triagem do meio marinho. A obra propõe-se
é cada vez mais fina. também dar a conhecer os instrumen-
RA – Confirma-se, portanto... tos de uma banda e foi escrita a pensar
MSR – Com o Concurso Técnico a no crescente interesse das escolas pelas
«cunha» não funciona. A exigência é audições pedagógicas que organizamos
REVISTA DA ARMADA U MARÇO 2007 19